CUT e MST prometem mais pressões e reivindicações a Lula

Por André Cintra
A Central Única dos Trabalhadores (CUT) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) vem se empenhando na campanha de Luiz Inácio Lula da Silva. Mas, o presidente se reeleger em 29 de outubro, as duas entidades pretendem apoi

Em entrevistas ao Vermelho, concedidas na segunda-feira (23/10), os dois dirigentes apontaram a vitória lulista como única possibilidade de mais progresso e conquistas sociais no Brasil. Na opinião deles, deter o risco-Alckmin é indispensável para as lutas dos movimentos sociais. Mas o governo Lula, dizem, precisa sinalizar mais mudanças. Confira seus depoimentos.


 


ARTUR HENRIQUE


 


Depois de passar 19 anos em oposição ao governo federal, a CUT teve nítida dificuldade em determinar seu posicionamento ante um governo popular – o primeiro mandato de Lula. Se o presidente se reeleger, como será a atuação da central? O que muda, o que permanece?
Tivemos uma certa dificuldade no início do primeiro mandato, mas a CUT sempre soube valorizar a feição progressista do governo Lula. Sabemos o papel de um governo e de uma central sindical. Fizemos várias mobilizações, como as marchas do salário mínimo. Pensamos que é preciso fortalecer mais os movimentos sociais no próximo período, e a CUT está mais madura para pôr o povo na rua, pôr as massas na rua. Vamos fazer mobilização social para pressionar – mas também para defender o projeto político representado pelo companheiro Lula e as mudanças que a gente quer ver implementadas no País.


 


A que você atribui o maior apoio a Lula no sindicalismo, principalmente na Força Sindical?
Acho que têm vários índices para serem colocados nessa balança. O primeiro, evidentemente, é em relação à criminalização dos movimentos sociais e sindicais, que ocorreu no governo passado. De outro lado, você tem o respeito do governo Lula com os movimentos sociais e, pelo menos, a abertura do ponto de vista de participação e interlocução – espaços democráticos para os trabalhadores. A segunda questão é da geração de empregos, que faz com que você tenha um número bastante diferenciado em relação ao governo anterior. E a terceira é a situação econômica atual, com o controle da inflação por um lado e o aumento dos salários e da renda dos trabalhadores por outro.


 


Uma vitória do Alckmin levaria a um cenário de “ingovernabilidade” com os movimentos sociais?
Eu acho que seria, antes de tudo, uma derrota para os movimentos sociais – e uma vitória da direita mais conservadora deste país.


 


JOÃO PAULO


 


Por que o MST deliberou apoio a Lula apenas no segundo turno?
No primeiro turno, o MST fez uma reflexão de que deveríamos manter o voto livre, mesmo porque não tínhamos nenhuma questão prática ou política para jogar peso na eleição do Lula. No segundo turno, entendemos que há uma nova mudança na conjuntura – uma tentativa explícita de a direita retornar ao governo. Mesmo que o governo Lula tenha um conjunto problemas – e nós vamos continuar fazendo críticas -, entendemos que um governo Alckmin seria um retrocesso e, possivelmente, não acumularia forças para a organização dos trabalhadores.


 


Quais avanços o governo Lula propiciou aos movimentos sociais em geral e aos sem-terra em particular?
Se o governo Lula teve limites para o avanço, pelo menos não criminalizou nem dividiu os movimentos sociais. Só não avançou mais por dificuldades da conjuntura política e pela crise por que estão passando os movimentos. O Lula nem atrapalhou nem ajudou. Agora, um governo Alckmin atrapalharia os movimentos com certeza.


 


Mudaram as perspectivas para a reforma agrária no Brasil?
A reforma agrária foi um dos setores que tiveram menos avanços, apesar de Lula ter sido muito melhor que Fernando Henrique Cardoso. Agora, o governo poderia ter assentado muito mais famílias acampadas, melhorado o Incra para desapropriar latifúndios improdutivos e construído novas perspectivas de produção nos assentamentos – coisa que não existiu. Por isso é que nós vamos continuar fazendo luta. E entendemos que o governo Lula talvez possa, num segundo mandato, construir algumas políticas para os assentamentos e para as famílias acampadas, que nos permitam dar um salto de qualidade.