Filme revê o último americano a desertar na Coréia do Norte

James Joseph Dresnok, o último desertor americano que vive na Coréia do Norte – ele cruzou a fronteira em 1962 -, garante que “não lamenta nada” do que fez. A revelação está num documentário que estreou, curiosamente, na Coréia do Sul, onde ocorre o Festi

“Eu me sinto realmente em casa. Não mudaria minha vida por nada no mundo”, comenta Dresnok, mais de 40 anos depois de sua deserção do exército americano. Crossing the Line (Cruzando a Fronteira), produção britânica narrada pelo ator americano Christian Slater, foi exibido em pré-estréia mundial.


 


O produtor executivo, Paul Yi, levou em consideração a situação geográfica do festival para atrair atenção sobre o documentário. A Coréia do Sul é o país mais próximo tanto física quanto culturalmente da Coréia do Norte. Com o primeiro teste nuclear do regime norte-coreano, em 9 de outubro, a produção ganhou uma popularidade ainda maior – e inesperada.


 


Fatores emocionais
O documentário alterna imagens de arquivo com confissões de James Joseph Dresnok. Dos quatro soldados que desertaram do exército americano para se “refugiar” na Coréia do Norte, Dresnok é o único que segue vivendo no país comunista. Dois deles morreram e Charles Robert Jenkins foi autorizado a deixar o país para viver com sua mulher japonesa no Japão.


 


Originário do estado da Virgínia, Dresnok entrou para o exército aos 17 anos. Após servir por dois anos na Alemanha, deixou o exército para voltar para casa. No entanto, decidiu se alistar novamente após ser abandonado pela mulher e foi enviado para a Coréia do Sul em 1962.


 


A deserção
No dia 15 de agosto daquele ano, quando ele era um jovem soldado de 21 anos, decidiu passar para o outro lado da fronteira fortemente militarizada que separava as duas Coréias. Dresnok conta que, pouco antes, havia sido ameaçado com uma corte marcial por ter deixado sua base para visitar uma jovem que conhecera num bar.


 


“Não tinha opção, tinha de fugir”, recorda, explicando que não se importava com risco de perder a vida ao cruzar a linha de fronteira. O jovem desertor quase morreu na tentativa. Um soldado norte-coreano entrevistado no documentário recorda que esteve muito perto de atravessar o corpo do americano com sua baioneta para vingar seus pais mortos na Guerra da Coréia (1950-1953). Dresnok escapou da morte graças à intervenção de um oficial.


 


“Camarada Joe”
Em sua chegada à Coréia do Norte, Dresnok foi se juntou a outros três soldados americanos que haviam desertado. Juntos, foram enviados a um campo de reeducação e utilizados depois como objetos de propaganda pelo regime stalinista. Dresnok, convertido no “Camarada Joe”, participou também de filmes financiados pelo Estado, assim como de séries de TV, além de dar aulas de inglês.


 


Em Crossing the Line, ele é visto em sua casa em Pyongyang conversando com os amigos e vizinhos, mostrando-se à vontade em seu novo país. “Aqui são humanos. O exército americano afirma que são só diabos comunistas. Eu nunca acreditei nisso”, afirma.


 


Em família
“Há certamente uma diferença ideológica, mas se trata apenas de uma diferença”. Casado duas vezes desde sua deserção – primeiro com uma romena e depois com uma togolesa -, Dresnok tem três filhos.


 


Dois deles têm aulas numa escola internacional em Pyongyang. Joe parece levar uma vida relativamente cômoda e feliz, apesar de seus olhos se encherem de lágrimas ao ver fotos da Virgínia.