Extrema-direita defende ditadura em ato na Argentina

Com direito a execução do hino nacional, exibição de fotos de militares mortos pela guerrilha e até a leitura de uma mensagem do chefe da Igreja Católica no país, cardeal Jorge Bergoglio, um ato da extrema-direita argentina defendeu as ações da ditadura m

Às 18h30 desta quinta-feira (5/10) – o tradicional dia de protestos das Mães da Praça de Maio –, a marcha organizada pela Comissão de Homenagem Permanente aos Mortos pela Subversão encheu a praça San Martin, em Buenos Aires.



A duas quadras dali, a esquerda socialista promovia uma “contramarcha”, espécie de movimento de reação que vai se tornando comum na Argentina. Não houve confronto.



Anunciado como um tributo a militares e policiais assassinados por guerrilheiros durante a última ditadura militar (1976-1983), o ato direitista foi uma demonstração de que os chamados “dinossauros” do regime ainda têm fôlego no país.



A data foi escolhida porque, há 31 anos, 12 militares foram mortos em um ataque a um quartel na Província de Formosa. Os organizadores declararam o 5 de outubro como o Dia Nacional dos Mortos pelo Terrorismo.



Como filosofia, o grupo defende – seguindo a linha da chamada “teoria dos dois demônios” – que sejam também processados e condenados os “subversivos” que cometeram crimes na ditadura, e não só os militares, como ocorre nos processos abertos a pedido do governo de Néstor Kirchner, do qual fazem parte ex-membros do grupo de guerrilha Montoneros.



Terrorismo
Após o último ato da direita, que reuniu cerca de três mil pessoas em 24 de maio, Kirchner ordenou a abertura de processos contra seis militares aposentados que elogiaram a atuação dos governos militares. Outros cinco oficiais do Exército foram punidos com detenção por irem à cerimônia, classificada por Kirchner como apologia ao “terrorismo de Estado”.



A nova manifestação aconteceu justamente enquanto uma onda de ameaças anônimas atinge militantes de direitos humanos e juízes e promotores que atuam em processos contra ex-repressores.



As ameaças começaram após o sumiço da testemunha Jorge Julio López, cujo depoimento foi crucial para a primeira condenação por genocídio no país, que recaiu sobre o ex-policial Miguel Etchecolatz, que recebeu prisão perpétua.



López, que pode ter sido seqüestrado por apoiadores do regime militar, sumiu no último dia 18. Há uma campanha para achá-lo, com recompensa de 200 mil pesos (R$ 140 mil) para quem der informações.



Embate com a Igreja
O confronto político entre o governo de Néstor Kirchner e o comando da Igreja Católica na Argentina transformou-se em bate-boca nos últimos dias.



“Nosso Deus é de todos. Mas o diabo também chega a todos, aos que usamos calças e aos que usam batinas”, discursou nesta quinta-feira o presidente, respondendo às críticas de um porta-voz da igreja que o acusou de “semear ódio” e de ser “um perigo para todos”.



Kirchner iniciou polêmicas com a Igreja em várias oportunidades desde que chegou à Presidência, em 2003, e, nas últimas semanas, a relação voltou a se tornar tensa por causa da decisão de um bispo de se candidatar nas eleições para a Convenção Constituinte da província de Misiones (nordeste argentino).



O monsenhor Joaquín Piña, que acaba de renunciar à diocese argentina de Puerto Iguazú, liderará a oposição à reforma constitucional dirigida pelo governador de Misiones, Carlos Rovira, que tem o apoio de Kirchner.