Camponeses da Bolívia desafiam elite “cruceña”

Camponeses bolivianos iniciaram na madrugada desta quarta-feira (20) o bloqueio de estradas em Santa Cruz, em defesa da Assembléia Constituinte. O governo da região e os nove prefeitos da região se opõem ao movimento. A elite “cruceña” (de Santa Cruz) for

Emissoras de rádio locais noticiaram bloqueios em San Juan e San Juan de Yapacaní — este cortando a estratégica Rodovia do Centro-Oriente. Não ocorreram incidentes. Apenas o Comitê Cívico de Santa Cruz — uma envidade anti-Evo Morales — tentou minimizar o protesto.



Os camponeses, segundo se noticia, usaram pedras e outros obstáculos para interromper o trânsito. Além da aprovação das reformas propostas pelo governo Evo Morales, eles exigem maior eficiência na reforma agrária.



O impasse na Constituinte



O protesto volta-se fundamentalmente contra as pressões de grupos regionalistas de Santa Cruz, encabeçados pelo Comitê Cívico, e os partidos tradicionais, acusados de entravar o processo constituinte. Estes setores, hostís ao governo de esquerda eleito em dezembro passado, avaliam que a Assembléia Constituinte só pode tomar decisões por uma maioria de dois terços dos votos. A base do governo possui maioria absoluta, mas não de dois terços.



Evo Morales e seu MAS (Movimento Ao Socialismo) afirmam que essa fórmula pode inviabilizar a Constituinte e dá direito de veto aos grupos minoritários. Defendem que a norma dos dois terços só deve valer para a votação do texto final da nova Carta Magna.



Reunião apaziguadora inicia diálogo



O presidente em exercício, Alvaro García, reuniu-se nesta terça-feira com os prefeitos dos nove departamentos locais, em sua maioria oposicionistas. E somou-se ao pedido destes para que se levante a obstrução das estradas, alegando que ela é prejudicial ao país.



A reunião estabeleceu um diálogo entre governo, prefeituras e Comitê Cívico, de um lado, e o Bloco Oriental, formado por organizações camponesas e indígenas que convocaram os bloqueios. O objetivo é buscar uma solução para o conflito.



A reunião examinou também as soluções possíveis para o impasse na Constituinte. García sugeriu que se determine quais os temas sensíveis da Carta, que exigiriam dois terços, e que caso estes não sejam atingidos serão levados a um referendo.
Sobre a reivindicação de reforma agrária, o MAS anunciou que vai acelerar a aprovação das reformas legais colocadas pelo governo Evo, visando o emprego das terras ociosas ou pouco produtivas para distribuição entre os camponeses.



Santa Cruz barra Evo na Feira



Entretanto, acirra-se a hostilidade da elite de Santa Cruz ao governo central. Nas últimas horas esta decidiu não convidar Evo Morales para a inauguração da importante Feira de Santa Cruz. É a primeira vez que se tenta deixar um presidente da república à margem do evento.



O vice-presidente do Comitê Cívico, Jaime Santa Cruz, tentou negar que a medida seja discriminatória, ou mesmo racista, como afirma o governo. Mas admitiu que se trata de um gesto político contra o presidente.



A elite “cruceña” culpa o governo e o MAS pelos bloqueios na região. Exige que se reprima os camponeses, embora o MAS tenha pedido formalmente que as estradas não sejam bloqueadas.



Em Oruro, outros bloqueios



Entretanto, a Federação das Cooperativas Mineiras, aliada de Evo, iniciou outro bloqueio de estradas, na região de Oruro. O movimento apresenta uma série de reivindicações, e tiveram início conversações entre a entidade e o ministro da Mineração, Walter Villarroel.



Os protestos fizeram com que a rodoviária de La Paz suspendesse a partida de ônibus em direção ao sul, centro e oriente do país. Bloqueios de estradas e outras mobilizações marcaram o processo de mudanças iniciado em 2000, e foram determinantes para a derrubada dos presidentes Gonzalo Sánchez de Lozada (2002-03) e Carlos Mesa (2003-05), assim como para a eleição do líder sindical Evo Morales, que tomou posse em março passado.