Assanhada com caso do dossiê, oposição parte para o vale-tudo

O caso do ''dossiê Serra'' devolveu à oposição de direita a esperança de arrancar votos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e chegar ao segundo turno. Animados com a repercussão exagerada e negativa que o caso está tendo nos meios de comunicação, P

Segundo interlocutores, o presidenciável tucano, Geraldo Alckmin, em desvantagem nas pesquisas eleitorais, está eufórico com a possibilidade de dar fôlego novo à sua campanha.


 



A oposição alega que o governo interferiu no processo eleitoral diante do suposto envolvimento do PT na intermediação da compra de um dossiê contra o ex-ministro da Saúde e candidato ao governo de São Paulo, José Serra (PSDB).


 


Na sexta-feira (15), a Polícia Federal prendeu o empresário Valdebran Padilha e o advogado Gedimar Passos. Com eles, a PF encontrou 1,75 milhão de reais que supostamente seriam usados para pagar representantes da família Vedoin por documentos, fotos e vídeos que mostram Serra e Alckmin em atividades suspeitas com intengrantes da máfia das ambulâncias.


 



A polícia agora apura se o assessor Freud Godoy, da Secretaria Particular da Presidência da República, participou da tentativa de compra do dossiê. Na tarde de ontem (18), Freud negou qualquer envolvimento. Ele prestou depoimento à PF de São Paulo e se dispôs a fazer uma acareação com Gedimar Passos, mas este último recusou-se a participar da acareação e permaneceu calado o tempo todo.


 



A oposição nega estar por trás do episódio e avalia que a denúncia ''veio a calhar'' nesta reta final da disputa. No comitê tucano-pefelista, a ordem agora é trabalhar duro para obter todos os dividendos políticos possíveis contra o adversário petista.


 



''Se for bem utilizado, terá um impacto que pode contribuir para Lula perder os 4 pontos percentuais necessários ao segundo turno. Um fato como esse pode, se bem trabalhado, provocar essa queda'', avaliou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), do conselho político da campanha.


 


Lista de ataques


 



Embora não faça cerimônia em responsabilizar o presidente, a oposição, por outro lado, evoca a presunção de inocência dos dois candidatos tucanos, contra os quais há farto material que poderia servir como prova do envolvimento deles na máfia das ambulâncias. Nos bastidores, a avaliação é de que o surgimento de Freud forneceu o elemento que faltava para desviar o foco da polêmica, livrando acara de José Serra e levando a crise para o gabinete do presidente Lula. E como se tivesse ''adivinhado'' os anseios da oposição, a grande imprensa tem dado uma grande colaboração para que isso acontença.


 



Como estratégia, estrelas do PFL e do PSDB fazem uma lista de ações que podem ser usadas como munição de campanha: querem a foto do dinheiro apreendido pela PF, a origem do montante e a prisão imediata de Freud. Em suma, querem imagens marcantes para serem exibidas no horário eleitoral gratuito, nos telejornais e nas capas de jornais e revistas alinhados com a oposição.


 


''A Polícia Federal tira foto de tudo (quando faz apreensão). Na hora em que mostrar a foto do dinheiro, atinge o povo pobre. Eles vão ter que mostrar, não há como conseguir segurar'', revelou o senador José Jorge (PFL-PE), candidato a vice na chapa de Alckmin.


 


''Não tenho nenhuma dúvida de que isso vai mudar o rumo da eleição. Não tem como não colar no presidente'', completou o senador Heráclito Fortes (PFL-PI), um dos coordenadores da campanha de Alckmin.


 


Fogo no palheiro


 



Para apimentar ainda mais a disputa pelos ''dividendos' eleitorais do episódio, o advogado da coligação PSDB-PFL, José Eduardo Alckmin, protocolou o início da noite desta segunda-feira no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) um pedido de investigação judicial e eleitoral contra o presidente Lula pelo suposto envolvimento na tentativa de compra do dossiê.


 


O pedido também inclui investigação contra o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e o presidente do PT, Ricardo Berzoini, além de Freud Godoy, Valdebran Padilha e o advogado Gedimar Pereira Passos.


 


As duas legendas de oposição planejam entrar com uma ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pedindo investigação do envolvimento do PT no caso. Fontes da Reuters, que falaram sob a condição do anonimato, afirmaram não apostar num desfecho da investigação antes das eleições.


 


O presidente do TSE, Marco Aurélio Mello, já afirmou que as investigações do caso não serão concluídas antes das eleições.


 


Mesmo assim, a oposição diz que este episódio foi a ''melhor coisa'' que aconteceu desde o início da campanha. A ''faísca' que colocou fogo no palheiro, como sugeriu a poucos dias o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.


 



Dúvidas e cautela


 



Mas a euforia da oposição pode acabar em lágrimas se os boatos sobre a participação de tucanos no escândalo se confirmarem ou não forem, pelo menos, rapidamente dissipados. Ainda há muitas dúvidas sobre as motivações que levaram os dois petistas de Mato Grosso a se envolverem no episódio. O mundo político, a começar pela cúpula petista, pergunta para quê o partido compraria a peso de ouro um dossiê contra os tucanos se o presiente Lula está liderando com folga a disputa presidencial, com chance de vencê-la no primeiro turno.


 



Ainda hoje, o presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, afirmou em uma rápida conversa com jornalistas que acredita na possibilidade de haver uma armação contra o Partido dos Trabalhadores para desestabilizar a campanha à reeleição do presidente Lula.


 



Uma informação publicada no blog do jornalista Josias de Souza e estranhamente ignorada pela imprensa, pode fornecer pistas para desvendar o caso. Segundo o jornalista da Folha, antes de ''transacionar com o petismo'', Vedoin tentou vender o dossiê, que teria também acusações contra o PT, ao comitê eleitoral de José Serra. Um emissário do dono da Planam propôs o negócio em reunião com duas pessoas ligadas à campanha de Serra. Josias de Souza sabe quem são estas pessoas, pois conversou com uma delas, mas não citou o nome destes dois emissários tucanos. Fica a dúvida sobre o que eles conversaram com a família Vedoin dias antes da PF ''estourar'' o escândalo. Segundo Josias de Souza, os representantes de Serra recusaram a oferta de compra do dossiê. Mas quem garante que não fizeram outro tipo de proposta à família Vedoin? Cabe à Polícia Federal desatar este nó.


 


O núcleo da campanha de Geraldo Alckmin ainda analisa como vai explorar o escândalo do dossiê no programa eleitoral gratuito. Se depender do PFL, haverá acusações diretas e ataques abaixo da linha da cintura contra o presidente Lula.


 


Mas os marqueteiros, tanto da campanha de Lula quanto da campanha da Alckmin, sabem que o ponto central da estratégia de exploração do episódio é saber quem será transformado em vítima e quem será rotulado como vilão desta história.


 


Por enquanto, com o generoso apoio da mídia, a oposição está conseguindo colar o rótulo de vilão no PT e, por consequência, no governo Lula. Mas se houver exageros nos ataques ao presidente, a oposição poderá acabar transformando Lula em vítima e aí os ataques passam a prejudicar mais a oposição do que ao presidente.


Enfim, o jogo está na mesa e os nervos, dos dois lados do ringue, à flor da pele.


 


Da redação,
Cláudio Gonzalez