“Você não era um ditador”, diz o juiz a Saddam Hussein

O juiz chefe do tribunal instalado pelas tropas de ocupação americanas para “julgar” o presidente deposto do Iraque, Saddam Hussein, fez um comentário hoje (14/9) que causou alvoroço na mídia internacional, ao afirmar que Hussein não era um “ditador”.

Durante a sessão de hoje do tribunal instalado pelos americanos, o juiz Abdullah al-Ameri pediu a uma suposta testemunha de acusação que falasse sobre o suposto crime que o governo do então presidente Hussein teria cometido contra a população curda do norte do Iraque, entre 1987 e 1988, durante a denominada “Operação Anfal”, na qual supostamente foram mortos 180 mil curdos.


 


A suposta testemunha, Abdullah Mohammed Hussain, foi indagada por Hussein do motivo de ter procurado o chefe de Estado. “Por que você tentou encontrar-se comigo se sabia que eu era um ditador?” questionou o presidente deposto. Al-Ameri interrompeu o diálogo para dizer que “Você não era um ditador. As pessoas ao seu redor é que o fazim parecer a um ditador”.


 


O presidente deposto agradeceu ao juiz. Na quarta-feira, o procurador-geral, Mounqith al-Faroun, exigiu a renúncia do juiz, acusando de favorecer Hussein e outros membros do seu governo, que foram levados para o julgamento. Durante uma entrevista coletiva concedida após a audiência, o juiz Raed al-Jouhi minimizou a intervenção do colega magistrado.


 


“No tribunal são feitas várias declarações, mas tudo que não é legal não afeta o desenvolvimento do julgamento. O tribunal vai seguir adiante em sua postura de neutralidade. Afinal, o juiz é um homem”, disse Raed al-Jouhi.


 


O magistrado afirmou que, segundo a atual lei iraquiana “não há qualquer motivo legal para que o juiz renuncie à força por um pedido do procurador”.