Uruguai abre primeiro processo ligado à ditadura

Pela primeira vez desde a redemocratização, há 22 anos, foi aberto no Uruguai um processo contra militares por delitos contra os direitos humanos praticados durante o período da ditadura militar (1973-84). Seis ex-militares e dois ex-policiais são acusado

A Justiça argentina já havia requerido a extradição dos oito réus, o que, com o julgamento da causa no Uruguai, não deve acontecer. Eles devem ser condenados a 18 anos de prisão. O nono acusado, o ex-coronel José Antonio Buratti, um dos principais agentes da repressão no Uruguai e o único dos acusados que ainda estava em liberdade, suicidou-se em Montevidéu na noite do último domingo quando a polícia foi à sua casa para prendê-lo.



“Esperem-me aqui [na porta] que vou contatar meu advogado e volto em seguida”, disse o coronel, segundo relato dos policiais à imprensa uruguaia. Buratti, porém, foi até a garagem de sua casa, tomou o revólver que guardava em seu carro e deu um tiro na cabeça. Ainda foi levado com vida ao hospital, mas morreu cerca de uma hora e meia depois.



O coronel era apontado também como o responsável pelo desaparecimento e a morte da nora do poeta argentino Juan Gelman, que estava grávida quando foi seqüestrada com o marido em 1976 em Buenos Aires. O filho do poeta foi achado morto na capital argentina naquele ano, mas sua mulher foi levada ao Uruguai, onde foi presa e, após dar à luz, morta.



Gelman reencontrou em 2000 a neta que nasceu na prisão. Buratti era, provavelmente, o único que saberia indicar o lugar em que foi enterrado o corpo da nora do poeta.



Anistia
Em 1986, a Lei da Caducidade da Pretensão Punitiva, durante o primeiro governo do presidente Julio María Sanguinetti, impediu a punição de militares e policiais por delitos contra os direitos humanos durante a ditadura no Uruguai. A lei foi submetida a um plebiscito e mantida em 1989 -segundo historiadores uruguaios, como havia pouco tempo do término do regime, muita gente deu sua aprovação à norma por temer que, sem ela, os militares quisessem retomar o poder.



O governo de Tabaré Vázquez, que assumiu a Presidência em março de 2005, deu início a investigações sobre os desaparecimentos com mais êxito do que governos anteriores. Foi mudada também a interpretação do alcance da Lei da Caducidade, para punir crimes ocorridos fora do país.