Para a Cepal, desenvolvimento da AL exige integração regional

O comércio internacional da América Latina continuará crescendo em 2006 e 2007 graças ao favorável cenário mundial, mas é preciso fortalecer a integração regional para reforçar a inserção e a competitividade dos países da região, de acordo com o informe d

“A Cepal propõe aprofundar a integração regional, recuperando e atualizando a noção de regionalismo aberto”, afirmou o secretário-executivo desta agência das Nações Unidas, o argentino Jose Luis Machinea, na apresentação do informe “Panorama da inserção internacional da América Latina e do Caribe 2005-2006”, realizada em Santiago, no Chile.



“Regionalismo aberto significa aprofundar a integração regional, não para substituir a integração com o resto do mundo, mas para complementá-la. Ao fortalecer a integração os países têm maior capacidade de negociar com o restante do mundo, a possibilidade de aprender a exportar e conseguir economias de escala”, explicou o economista. Para a Cepal, a zona que mais deve avançar é a América do Sul, acelerando a convergência em matéria de desagravar produtos, já que as projeções indicam que para 2014 não se chegará a completar a liberalização intra-regional.



Referência à Doha
“A experiência recente da América Latina e do Caribe mostra que o comércio intra-regional favorece a diversificação exportadora, beneficia em maior medida as pequenas e médias empresas e permite maior valor agregado do que o dirigido ao resto do mundo”, diz o informe, que sugere a “intenção a longo prazo de criar um mercado comum”. Machinea disse que as propostas da Cepal para facilitar o comércio regional são as mesmas que os países latino-americanos apresentaram na Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio.



Destaca-se a necessidade de contar com assistência técnica para implementar os acordos, melhorar a infra-estrutura física, os sistemas de informação e a criação de capacidade humana e institucional dentro dos países, bem como abordar problemas de transporte e logística no comércio transfronteiriço, em particular no caso das nações sem saída para o mar e os pequenos Estados insulares. A Cepal prevê que o volume de exportações da América Latina crescerá ao ritmo de 7% a 8% em 2006 e 2007, a taxa mais alta do mundo depois da China, graças a uma importante melhora nos termos de intercâmbio, isto é, a relação entre os preços das exportações e as importações.



No ano passado, os termos de intercâmbio da América Latina registraram alta de 5%. Os países exportadores de petróleo (Venezuela e Equador) e de cobre (Chile) registraram o maior crescimento, enquanto os importadores de petróleo, principalmente América Central e o Caribe de fala inglesa, sofreram importante deterioração. As exportações da América do Sul cresceram mais rapidamente do que as do México e da América Central, porque a primeira se especializa em matérias-primas, cuja demanda está em alta em todo o mundo. Entre 2003 e 2006, o aumento das exportações foi dominado pela alta dos preços dos metais e do petróleo. O Chile e os países andinos são os mais beneficiados.



Cenário semelhante em 2007
China e Índia são os novos sócios estratégicos da região. A China, em particular, se convertem em sócia relevante para vários países latino-americanos, com destaque para Chile, Peru e Cuba. A Cepal afirma que a manutenção do crescimento do comércio da região se deve ao favorável cenário internacional. O produto interno bruto mundial crescerá este ano acima de 4,5%, segundo o critério de Paridade de Poder Aquisitivo (PPA), e se prevê uma expansão semelhante em 2007. Desta forma, se completarão cinco anos de crescimento elevado. “O ciclo econômico mundial 2003-2007 é dos melhores nos últimos 30 anos”, afirma a Cepal.



“Apesar dos altos preços do petróleo e da energia, o crescimento econômico mundial continua elevado e são registrados baixa inflação e forte dinamismo das exportações mundiais”, explicou Machinea durante a apresentação do informe. As grandes economias emergentes, especialmente China, Índia e Rússia, são mais dinâmicas. De fato, as duas primeiras contribuíram com um terço do crescimento do produto mundial no ano passado, superando Estados Unidos, União Européia e Japão juntos. Mas, de acordo com a Cepal, existem alguns riscos latentes, com a alta do preço do petróleo, devido à crescente demanda mundial, e as tensões geopolíticas no Oriente Médio.



Preocupações
O aumento do valor do petróleo começa a causar impacto na inflação total dos países e fazer com que os bancos centrais elevem sucessivamente as taxas de juros. Também existe a possibilidade de um aquecimento da economia chinesa. Outro fator de perigo é o incerto futuro da estagnada Rodada de Doha, que ameaça com fotos protecionistas em matéria agrícola, já que as negociações foram suspensas em julho. Machinea disse que a Cepal concorda com a visão do diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, para quem “este colapso das negociações comerciais não será sentido em Nova York, paris ou Tóquio. Ele será enfrentado pelos produtores de algodão da África ocidental, dos plantadores de arroz da Tailândia e pelos pecuaristas da América Latina”.



Também causa preocupação a gripe aviária, cujas conseqüências econômicas poderiam ser graves, devido ao temor da população em consumir carne de aves e ovos. No continente americano estão os dois maiores exportadores mundiais de aves, Brasil e Estados Unidos. Por outro lado, Machinea se referiu ao atual momento econômico do Chile, diante da preocupação de autoridades e empresários pelos últimos indicadores, menores do que o esperado, o que levou os especialistas a reduzirem a projeção de crescimento para este ano de 5,5% para 5%.



Machinea disse que pode-se entender essa preocupação, mas, afirmou que, às vezes, se tende a “exagerar. O Chile é a economia que mais cresceu nos últimos 15 anos, e um crescimento entre 5% e 5,5% continua sendo mais do que razoável, assim, não me preocuparia tanto pela conjuntura”, disse à IPS. Se você me perguntar a médio prazo, o Chile tem de fazer algumas coisas mais se quer ter altas taxas de crescimento, como incorporar mais valor e conhecimento às suas importações. Para passar a uma nova fase de desenvolvimento, o Chile necessita aprofundar a inovação e melhorar seus recursos humanos, o que já está fazendo”, concluiu o economista.