Fernando Meirelles vai adaptar livro de Saramago para cinema

Em 1997, bem antes de lançar Cidade de Deus (2002), o diretor Fernando Meirelles tentou comprar os direitos de Ensaio Sobre a Cegueira (1995), romance de José Saramago. O escritor português ganharia o Nobel de Literatura em 1998. Meirell

Dois anos depois, Saramago aceitou vender os direitos à produtora canadense Rhombus Media e, por obra do destino, caberá a Meirelles assumir a direção de Blindness (título do romance em inglês).


 


O filme é uma co-produção entre Brasil (leia-se O2), Canadá, Reino Unido (Potboiler Productions, produtora de O Jardineiro Fiel) e Japão (Bee Vine Pictures), apresentada oficialmente anteontem, durante o Festival de Toronto.


 


“Vocês foram mais persistentes do que eu”, brincou Meirelles, durante o anúncio do projeto. “O engraçado é que voltou para minhas mãos.”


 


Intercâmbio
O projeto irá se beneficiar de um programa de financiamento dos governos canadense e brasileiro, que hoje promovem encontros entre cineastas e produtores dos dois países.


 


Niv Fichman, produtor do filme do lado canadense, conta que Saramago se animou justamente pela idéia de co-produção internacional, sem uma “voz dominante”, além de uma promessa de que o filme não cairia nas mãos de um grande estúdio hollywoodiano.


 


Aprovado o contrato, o escritor teria sido solícito, evitando, no entanto, fazer comentários sobre o roteiro. “Ele tinha mais idéias sobre elenco, coisas assim”, afirma ele.


 


Blindness será falado em inglês, mas o elenco ainda não foi escolhido. O filme está orçado em US$ 20 milhões (cerca de R$ 43 milhões), e será rodado em meados do ano que vem, nos arredores de Toronto (a equipe começa a procurar ainda nesta semana uma locação para o asilo que aparece no livro) e São Paulo (sobretudo externas, sem identificar, como no livro, a cidade). Os produtores esperam lançá-lo até março de 2008.


 


Indicado ao Tony
A primeira versão da adaptação ficou pronta há cerca de dois anos e é assinada pelo ator, diretor e roteirista canadense Don McKellar, que havia lido o romance de Saramago pela primeira vez em 1999.


 


Para McKellar, que neste ano foi indicado ao Tony de melhor roteiro pelo musical “The Drowsy Chaperone”, sucesso de público e crítica na Broadway, o desafio de verter para a tela a prosa de pontuação singular de “Ensaio” não assusta.


 


“A ação do livro é muito simples e clara. E, quando você se acostuma ao estilo, se torna bem fácil, porque a linguagem é bem oral”, diz McKellar, mais preocupado com a fidelidade ao espírito do romance.


 


“Se eu apenas recontar a história, se transformar os cegos em zumbis, o longa será um erro, vai soar como um filme de gênero, de terror ou de ação, com um subenredo de vingança, o que seria uma desculpa para violência gráfica, como em muitos filmes americanos. Isto não seria fiel à obra. O tema essencial do livro é a dignidade humana. E como os artifícios para mantê-la, na nossa sociedade, são frágeis”, avalia o roteirista.