Equipe da candidata tucana no RS entra em greve

Por Marco Aurélio Weissheimer*
Maioria da equipe que fazia campanha de TV da candidata ao governo gaúcho Yeda Crusius (PSDB) cruzou os braços ou foi embora por falta de pagamento. Marqueteiro deixou campanha e acionou advogado. Candidata apresenta-s

A candidata do PSDB ao governo gaúcho, Yeda Crusius, vem fazendo toda a sua campanha eleitoral baseada em um conceito: um novo jeito de governar. Apresentando-se como oposição ao governo Germano Rigotto (PMDB), apesar de ter participado do mesmo desde o início, a candidata fala em eficiência, transparência e promete um modo de governar radicalmente novo, sem dizer exatamente onde residiria a novidade. Pois agora, a 18 dias da eleição, o “novo jeito de governar” está em crise dentro de sua própria casa. Sem conseguir receber os salários atrasados, a maior parte da equipe contratada para produzir a propaganda eleitoral de televisão cruzou os braços e interrompeu o trabalho.



Parte da equipe, ligada ao marqueteiro Chico Santa Rita embarcou de volta para São Paulo. A coordenação da campanha de Yeda chegou a ensaiar uma explicação atribuindo ao frio a decisão dos profissionais de SP de abandonar o trabalho. Mas o frio que pesou mesmo foi o do bolso do pessoal contratado pela campanha.
Segundo matéria publicada nesta quarta-feira (13), no jornal Zero Hora, da equipe de 60 pessoas contratadas para a campanha de TV, apenas seis permanecem trabalhando. O restante ou foi embora ou cruzou os braços enquanto o dinheiro não vem. A matéria diz ainda que Chico Santa Rita “se afastou há cerca de 15 dias, em função da inadimplência, e acionou um advogado para cobrar a dívida”.



Extra-oficialmente, a dívida, somente com os profissionais gaúchos contratados, estaria na casa dos R$ 350 mil. Em entrevista ao jornal, Chico Santa Rita disse que não iria comentar os motivos de sua saída, mas acabou falando assim mesmo: “Prefiro não dizer. Dei um prazo. O meu advogado deu um prazo até amanhã (quarta) para que haja um acerto do pagamento. Como foi dado um prazo, prefiro não falar hoje”. A crise abre um rombo no conceito central da campanha da candidata tucana que vinha dizendo ter a receita para resolver a crise financeira do Estado.



Nota da campanha tucana



A coordenação da campanha de Yeda Crusius divulgou, terça-feira, nota oficial afirmando que os problemas financeiros estão sendo enfrentados com “garra, responsabilidade e transparência”. A nota afirma:




“Sobre as matérias divulgadas nesta terça-feira relacionadas à nossa campanha, a coordenação da Coligação Rio Grande Afirmativo, em respeito aos eleitores gaúchos, gostaria de esclarecer que: Nossa campanha, ao contrário de outras, não conta com estruturas poderosas como a do governo do Estado e a do governo Federal. Enfrenta, sim, desafios financeiros que estão sendo superados com muita garra, responsabilidade e transparência. Esta é uma das marcas que nos caracteriza como o novo desta eleição. É por isso que, em diversos momentos, adequamos nossa estrutura de campanha para garantir que todos os compromissos assumidos sejam honrados, dentro da lei e da ética. O que é inusitado é a exploração deste fato como notícia, que interessa apenas a quem tenta confundir, tanto o debate das idéias como a verdadeira e grande notícia: a candidatura Yeda cresce em direção ao segundo turno”.
Diante do cenário de abandono do pessoal que estava trabalhando na campanha, a frase “esta é uma das marcas que nos caracteriza como o novo desta eleição” já virou tema de piadas na campanha eleitoral. Afinal de contas, os primeiros passos do chamado “novo modo de governar” foram greve de funcionários, pedidos de demissão, atraso de pagamentos e ações judiciais. Considerando que a crise financeira do Estado do Rio Grande do Sul é infinitamente mais grave e complexa do que a da campanha tucana, as associações são imediatas.



“O que conseguimos a duras penas é receber somente na segunda-feira, e ainda vamos ganhar parcelado”, disse à Zero Hora uma jornalista da campanha que pediu para não ser identificada. Após a crise vir a público, o PPS, partido que integra a coligação “Rio Grande Afirmativo” juntamente com PSDB, PFL e grande elenco, anunciou que vai se responsabilizar pelo acerto da dívida.



Acusação de racismo



Como se não bastassem os problemas financeiros de sua campanha, a candidata tucana enfrenta também uma acusação de racismo. A acusação partiu do site Vide Versus, ligado ao PMDB, que em sua edição desta quarta-feira publicou uma nota intitulada “Yeda Crusius, candidata do PSDB no Sul, revela racismo na TV”. A nota afirma:




“A candidata do PSDB ao governo do Rio Grande do Sul, a deputada federal Yeda Crusius, perdeu totalmente a compostura durante o debate entre candidatos ao governo do Estado realizado na noite de segunda-feira, na TV Pampa, em Porto Alegre, e que terminou na madrugada desta terça-feira. Ao ser inquirida pelo deputado federal Alceu Collares (ex-governador gaúcho), ela perdeu a linha e deu uma resposta nitidamente racista. Collares, que tem um língua ferina, ao fazer a sua pergunta, disse que a gestão de Yeda Crusius como ministra do Planejamento, durante o governo Itamar Franco, tinha sido “como uma vela que se apaga rapidamente”. Ou seja, uma gestão opaca e sem qualquer brilho, para significar mesmo que Yeda Crusius teve uma gestão medíocre nos 50 dias úteis que ocupou a Pasta. A deputada federal Yeda Crusius, logo ao iniciar a sua resposta, disse: “Acender vela pode ser na esquina também”. Ora, foi uma referência clara a Alceu Collares, que é negro e umbandista conhecido, que faz diariamente suas preces e oferendas diante do congá que tem montado em sua casa. Yeda Crusius mostrou desprezo pelo umbandismo e pelos despachos que os umbandistas colocam nas esquinas, com velas acesas junto a alimentos oferecidos em oferendas para os santos da religião”.



A acusação indica um acirramento da tensão entre o PMDB e o PSDB no RS. Em sua campanha de rádio e TV, a candidata tucana vem fazendo fortes críticas ao governo Germano Rigotto, o qual apoiou explicitamente até o início da campanha. No interior do PMDB e do Palácio Piratini (sede do governo gaúcho), “deslealdade” é uma das palavras mais amenas empregadas para qualificar a atitude de Yeda Crusius e de seus aliados. Com a publicação desta acusação direta o clima entre os antigos aliados deve esquentar ainda mais nos próximos dias.