Presidente da ABI acusa imprensa de adesismo, omissão e visão acrítica

A comunicação no serviço público tem que ter “como base e ética exatamente a busca do interesse público; tem que ser construída tendo como referência o espírito público, a impessoalidade, a publicidade e a busca do interesse comum”. As palavras do pres

O presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Maurício Azêdo, que fez a palestra de abertura do evento, não poupou críticas à imprensa brasileira, na avaliação sobre erros e acertos da comunicação na vida democrática. “Adesismo, omissão e visão acrítica” foram as palavras usadas pelo jornalista para definir a atuação da imprensa brasileira.


 


Para Azêdo, a criação e adoção mais recente da internet entre os veículos representa uma boa perspectiva na comunicação, “porque oferece a possibilidade de democratização e veiculação da informação, seja por meio de jornais e blogs”, explicou.


 


Devotos do neoliberalismo


 


Como erro básico da comunicação, Azêdo aponta o fato dos jornais e as TVs – de propriedades de grandes grupos econômicos e de políticos – serem “devotos do neoliberalismo” e portanto, “cúmplices”, nas palavras do jornalista, do modelo econômico que impede o desenvolvimento social.


 


Azêdo citou exemplos antigos e recentes do comportamento da imprensa diante dos fatos. Classificou como leviana a reportagem da revista Veja sobre supostas malas de dinheiro que teriam vindo do governo cubano para a campanha eleitoral do PT em 2002.


 


E acusou de cumplicidade em crime de lesa-pátria, os jornais e revistas semanais na cobertura dos fatos que envolviam o desenvolvimento da política de privatizações do então governo de Fernando Henrique Cardoso, que indicava para uma série de irregularidades que envolviam a figura do próprio Presidente da República.


 


Citou casos mais recentes como a falência da Varig. Segundo Azêdo, a imprensa não fez um levantamento preciso das causas da derrocada da empresa. Falou também sobre a cobertura da situação da Previdência Social, destacando que os meios de comunicação aceitam números falsos ou distorcidos que têm servido para reduzir as aposentadorias e pensões nos dois últimos governos – de FHC e Lula.


 


Ele criticou ainda o silêncio dos meios de comunicação diante de situações graves, como a dos presídios no País. Na sua opinião, os jornais obedecem a uma mesma orientação político-ideológica, sendo ''devotos do neoliberalismo''.


 


Sobre os acertos da comunicação, o presidente da ABI destacou o reconhecimento à pluralidade da vida no Brasil, inclusive partidária; a concessão de maior espaço ao leitor, com a criação de colunas e sessões de defesa do consumidor; e maior inserção em temas sociais.


 


Distinção entre público e privado


 


Aldo destacou que “a comunicação no serviço público se distingue da comunicação feita pelo mercado, porque não busca ampliar o patrimônio de empresas ou de grupos econômicos. A comunicação no serviço público não pode estar, portanto, subordinada aos limites impostos pelo mercado à comunicação e ao jornalismo”.


 


Ele falou sobre as dificuldades da comunicação pública, lembrando que como dirigente de uma instituição que possui instrumentos importantes, como o Jornal da Câmara, a Agência, a TV e a Rádio Câmara, testemunhou “as vicissitudes dos interesses e da própria fragilidade da comunicação pública submetida às pressões da sociedade tão desequilibrada como a nossa”.


 


Aldo Rebelo defendeu “o fortalecimento da participação do nosso povo, não só na democracia indireta, na escolha dos seus representantes; mas na participação do povo de forma direta, para consolidar a comunicação do serviço público como elemento a serviço da democracia e dos interesses do país”.


 


Azêdo iniciou sua palestra falando sobre o que ocorreu no país na época da ditadura – “um cortejo de cassações, torturas, banimentos e toda espécie de desrespeito as liberdades públicas e aos direitos individuais”. E destacou o papel da imprensa alternativa – que teve o seu momento mais intenso e criativo -, citando nominalmente os jornais O Pasquim, Movimento, Opinião e Classe Operária, entre outros – e também a criação dos órgãos de imprensa do governo militar, que deram origem ao serviço de comunicação e assessorias de imprensa dos órgãos do governo federal.


 


De Brasília
Márcia Xavier