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Orientações para a reta final da campanha eleitoral

Por Renato Rabelo
A acirrada campanha eleitoral de 2006 se aproxima da hora da decisão. Na disputa para a Presidência da República, as sondagens confirmam a possibilidade da reeleição do presidente Lula já no primeiro turno. Aqui vão seis orientações c

Na disputa presidencial, todo o jogo sujo da direita neoliberal, que cinicamente se travestiu de vestal da ética para atacar o atual governo, não trouxe os resultados esperados. Na pesquisa espontânea, que revela a maior consistência do eleitorado, o presidente bate recordes de preferência; a aprovação do seu governo também é recordista e a sua taxa de rejeição diminui a cada sondagem. Já o candidato da oposição liberal-conservadora, o tucano Geraldo Alckmin, não consegue alçar vôo e está há semanas estagnado; e a candidata Heloisa Helena, que poderia dar algum fôlego para o segundo turno, agora dá sinais que atingiu o topo e começa a declinar. 



Diante do fracasso iminente, vários integrantes do comando de campanha do direitista Geraldo Alckmin já jogaram a toalha, reconhecendo a fragorosa derrota. A cizânia contamina o bloco liberal-conservador, com vários candidatos aos cargos estaduais se recusando a dar palanque para o presidenciável tucano ou a incluí-lo em seus programas de rádio e televisão. Muitos até já mudaram de lado, tentando aparecer junto ao carismático Lula. No desespero, o ex-presidente FHC mostra toda sua empáfia arrogante e autoritária, recomendando que se baixe ainda mais o nível da campanha – “o povo quer sangue” – e afirmando que o país precisa de “um novo Lacerda”, ressuscitando o golpista que se jactava do suicídio de Getúlio Vargas e do golpe militar contra João Goulart. Por sua retórica raivosa e preconceituosa, a direita neoliberal ainda não desistiu e tentará novos golpes, mas tudo indica que a batalha presidencial já está decidida.



Disputas estaduais e proporcionais



Já nos estados, as eleições para governadores, senadores e deputados federais e estaduais ainda prometem muitas surpresas. O PT calcula que pode vencer, ainda no primeiro turno, em três estados e levar a disputa ao segundo turno em outros cinco; e o PSB prevê ganhar em quatro estados. No que se refere à disputa ao Senado nos 26 estados e no Distrito Federal, a luta costuma esquentar na última hora e sempre apresenta novidades. Segundo os institutos de pesquisa, até agora apenas metade dos eleitores já decidiu seu voto.



O PCdoB adotou uma tática que combina ousadia e equilíbrio, apresentando candidatos competitivos em vários estados, o que permite dar maior visibilidade ao partido e reforçar a sua inserção na sociedade.



No Rio de Janeiro, Jandira Feghali lidera as pesquisas numa campanha que empolga a militância, procura ampliar o leque de apoios e demarca o campo com o liberal Francisco Dornelles, ex-ministro de FHC. No Ceará, Inácio Arruda ganha pontos a cada semana e procura colar a sua imagem à do presidente Lula e ao candidato ao governo estadual Cid Gomes. No Distrito Federal, Agnelo Queiroz supera as expectativas na disputa com o ex-governador Joaquim Roriz. Também em Pernambuco (Luciano Siqueira), Goiás (Aldo Arantes), e Mato Grosso (Janete Dantas), os candidatos comunistas ao Senado apresentam suas idéias à sociedade e demarcam campo com os apoiadores de Alckmin, tornando-se as referências da campanha pela reeleição de Lula.



Já na eleição dos proporcionais, o PCdoB reafirma seu projeto de eleger até 20 deputados federais e quase 30 deputados estaduais. Na maioria dos estados, as campanhas estão bem situadas e reúnem condições de vitória. Elas contam com candidatos respeitados na sociedade, empolgam a militância partidária, realizam atividades permanentes para nuclear apoiadores, costuraram importantes dobradas e mostram criatividade no visual de campanha. Apesar do enorme empenho militante já desprendido, porém, a batalha da eleição proporcional somente se decide nos próximos 20 dias. As novas regras eleitorais, decorrentes da chamada Lei Bornhausen, representam uma grande incógnita neste pleito e geram muitas incertezas.



Segundo os institutos de pesquisa, mais de 80% dos eleitores ainda não definiram seu candidato a deputado federal e estadual. Nos centros urbanos, a campanha parece inexistente, sem cartazes, camisetas, faixas e outros instrumentos já costumeiros nas eleições brasileiras. Com exceção da candidatura Lula, que ainda realiza massivos comícios, nenhuma outra promove estes eventos políticos. A campanha só adquire maior projeção no horário eleitoral de rádio e televisão e, assim mesmo, com as suas distorções que prejudicam a disputa proporcional e com alto índice de abstinência do telespectador.



Algumas sugestões concretas



Isto não significa que a campanha ficou mais “pobre”, como afirmam alguns inocentes. A Lei Bornhausen não restringiu em nada a influência do setor privado e os recursos continuam escoando para os candidatos das elites, que investem na sedução de lideranças locais e na montagem de infantarias profissionalizadas para a reta final da campanha. Também é necessário levar em conta a poderosa influência das máquinas administrativas, que tendem a distritalizar ainda mais o voto.



Em síntese, tudo o que já foi feito até agora ainda é insuficiente para garantir a vitória dos candidatos comunistas. Com base nas ricas experiências estaduais, apresentamos abaixo algumas orientações concretas para a fase decisiva da campanha:



1- Promover plenárias locais e setoriais para ativar militantes e apoiadores na chamada pré-boca de urna que, mais do que no passado, será determinante na definição do voto; evitar o desperdício de energia e de recursos em plenárias gerais, que não possuem a mesma eficácia eleitoral;



2- Garantir a confecção prévia de milhões de cédulas que servirão de “cola” para os eleitores que votarão em números – e não em nomes – e precisarão escolher cinco cargos majoritários e proporcionais; a cola é incentiva pela própria justiça eleitoral e será um instrumento decisivo na hora do voto;



3- Apesar de a legislação ser mais dura quanto à boca de urna, prevendo inclusive a cassação do registro do candidato, é urgente preparar nossa infantaria para o dia da eleição. Nada impede que os comandos de campanha visitem os eleitores nas áreas próximas ao local de votação;



4- Investir em materiais criativos para garantir maior visibilidade e divulgação dos nossos candidatos nas últimas semanas. O uso de cavaletes com fotos dos candidatos nas principais avenidas se mostrou um rico instrumento de campanha em Minas Gerais; lambe-lambes e pinturas em muros também são eficientes;



5- Caminhões e carros de som e bicicletas com plaquetas dos candidatos deverão congestionar as ruas nos próximos dias. A experiência bem sucedida das carreatas dos comunistas na Bahia também pode ser copiada em outros estados. O fundamental agora é garantir maior volume de campanha.



6- Nesta hora decisiva, é fundamental redobrar o esforço dos que já estão na campanha e acionar os que ainda não se incorporaram. A utilização de telemarketing, de mala-direta com as colas e internet podem potencializar ainda mais as nossas candidaturas nesta reta final. É preciso acionar todos os apoiadores.



* Presidente nacional do Partido Comunista do Brasil (PCdoB).