“Lula vai precisar do PMDB contra oposição raivosa”, diz Jader

Com projeções indicando que manterá a maior bancada do Senado e pelo menos a segunda posição na Câmara, o PMDB se prepara para ser o principal aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Congresso, caso ele seja reeleito como apontam os instituto

“Lula vai precisar muito do PMDB no Congresso, porque a oposição virá raivosa com a derrota eleitoral e tentará fazer do segundo mandato um terceiro turno, ameaçando o governo como a antiga UDN fez com Getúlio Vargas”, disse à Reuters, nessa terça-feira, o deputado Jader Barbalho (PMDB-PA), membro do conselho político da reeleição.


 


De 1951 a agosto de 1954, quando cometeu suicídio acuado por denúncias e ameaçado de ser deposto pela UDN, o ex-presidente Getúlio Vargas governou com uma aliança entre seu partido, o PTB, e o conservador PSD, majoritário no Congresso.


 


Além de Jader Barbalho, o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), e o senador José Sarney (AP) compõem o comando “lulista” do PMDB, que deve assumir formalmente a direção do partido depois das eleições. Embora não confirme, Jader Barbalho é o mais cotado para substituir o atual presidente, Michel Temer, identificado com o PSDB paulista.


 


“A experiência recente (da crise do mensalão) mostrou que há de se ter muito mais coragem para ser governo do que para ser oposição; não pode ter crise existencial na base do governo”, acrescentou o deputado que, em 2001, teve de renunciar à presidência do Senado sob acusações de corrupção.


 


No auge da crise do mensalão, as lideranças do PT praticamente sumiram no Congresso, enquanto a oposição ocupava espaços e ameaçava o impeachment de Lula. Para Jader Barbalho, a futura base de Lula terá de ser “solidária, lutadora e disposta.”


 


Modelo Vargas


 


O cálculo de que Lula precisará de base muito mais sólida para aprovar reformas e continuar enfrentando denúncias leva os governistas do PMDB a crer que terão mais espaço no Ministério, sem perder a perspectiva de ter um candidato próprio em 2010.


 


A adesão do PMDB a Lula no segundo mandato deve provocar baixas na legenda. O presidente Michel Temer admitiu, em entrevista ao “Jornal do Brasil” no domingo, que o partido pode se dividir em dois. Os governistas contam com as baixas, mas também com adesões de parlamentares eleitos por partidos pequenos.


 


“O PMDB vai apoiar o segundo mandato de Lula em parceria com o PT, mas sem perder sua identidade nem seu projeto político, que prevê o lançamento de um candidato ao Planalto em 2010”, disse Jader Barbalho.


 


Ex-ministro, ex-líder e ex-presidente da legenda, Jader Barbalho manteve sua influência no partido de maneira discreta. Ele recorre mais uma vez a um paralelo com o segundo governo Vargas para definir a aliança PMDB-PT, defendida também por Renan Calheiros e Sarney.


 


“O ministro da Justiça de Vargas era Tancredo Neves, do PSD; o líder na Câmara era Gustavo Capanema, do PSD, e o sucessor eleito, com apoio do PTB, foi Juscelino Kubitschek, do PSD”, recordou o deputado.


 


Projeto Aécio


 


Os lulistas do PMDB sabem que o partido não tem hoje um nome de projeção nacional para a sucessão de Lula em 2010, mas o PT também não tem um favorito. Por isso querem manter abertas as portas da legenda para o governador de Minas, Aécio Neves, que também tem reeleição prevista em todas as pesquisas.


 


“O futuro vai depender do resultado das eleições de outubro e da evolução do quadro partidário, mas o PMDB tem de preservar seu projeto de poder”, disse Jader. “Aécio foi originalmente do PMDB e pode fazer seu retorno nesse projeto”, acrescentou.


 


O mandato de Michel Temer na presidência do PMDB vai até março de 2007, mas há um movimento para antecipar a sucessão interna para novembro. O partido tem 83 deputados e deve manter bancada semelhante. Tem 13 senadores com mandato até 2011, deve eleger pelo menos 6 e, com adesões, superar os 20 e manter a presidência do Senado.


Fonte: Reuters