Coronel Ubiratan, do massacre do Carandiru, é assassinado

O coronel de reserva da PM e deputado estadual Ubiratan Guimarães (PTB-SP) foi encontrado morto neste domingo (10/9). Dois assessores encontraram seu corpo enrolado numa toalha de banho, em estado de rigidez cadavérica, com uma marca de tiro na altura

Figura emblemática da direita paulista, o coronel se tornou conhecido ao comandar o massacre de 111 presos na Casa de Detenção do Carandiru, em de outubro de 1992. A chacina, absolutamente desproporcional, transformou Ubiratan num dos principais alvos das entidades de direitos humanos. Em contrapartida, setores mais conservadores da sociedade aplaudiram a ação e o ajudaram a eleger-se deputado estadual.


 


Quase 14 anos depois do massacre, o próprio Ubiratan se tornou vítima de um modo truculento de agir. As primeiras suspeitas sobre sua morte indicam a possibilidade de crime político ou passional. À Agência Estado, o delegado-geral Marco Antônio Desgualdo confirmou o crime como ''homicídio de autoria desconhecida'' e descartou, de início, a participação do PCC (Primeiro Comando da Capital). Já os assessores de Ubiratan davam como ''provável'' o envolvimento de entidade. É possível que o assassinato tenha acontecido ainda no sábado, já que os jornais de domingo não foram pegos à porta do apartamento.


 


O deputado tentava reverter a impugnação de sua candidatura à reeleição. Apesar da campanha, Ubiratan não tinha compromissos agendados para domingo. Como não se comunicou com assessores ao longo do dia – o que era praxe -, eles foram até seu apartamento, na rua José Maria Lisboa, onde avistaram o corpo.


 


O Vermelho entrou em contato com o 78º Distrito Policial de São Paulo (Jardins), onde a perícia técnica foi feita. A polícia, no entanto, dará mais detalhes apenas na manhã desta segunda-feira (11), por meio de um boletim de ocorrência.


 


A marca do Carandiru
Segundo o site da candidatura de Ubiratan Guimarães, o coronel serviu por 34 anos à Polícia Militar do Estado de São Paulo. Ocupou todos os postos da hierarquia militar, com predileção para o policiamento nas ruas. Atuou, entre outras instâncias, no 1º Batalhão de Choque (Rota).


 


De formação ultraconservadora, combatia o desarmamento e defendia a redução da maioridade penal para 16 anos e a criminalização do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Em 2001, foi condenado a 632 anos de prisão pelo Massacre do Carandiru – que teve repercussão internacional. Não chegou a cumprir a pena.


 


Baseado no discurso à direita e vangloriando-se da operação no Carandiru, Coronel Ubiratan foi eleito para a Assembléia Legislativa em 2002, pelo PPB (hoje PP), com 56.155 votos. Na disputa à reeleição, já pelo PTB, escolheu o número 14.111. A motivação, segundo ele, era o número de um cavalo que montava, embora 111 também sejam os mortos na chacina.


 


Em 15 de fevereiro, o Órgão Especial do Tribunal de Justiça, alegando erro no voto dos jurados, absolveu o coronel da acusação de co-responsabilidade no massacre. A decisão chocou entidades e ativistas dos direitos humanos. Mesmo sem condenação, a chacina inspirou denúncias de sucesso, como a música Haiti, de Caetano Veloso e Gilberto Gil, o livro Estação Carandiru, de Drauzio Varella, e o filme Carandiru, de Hector Babenco.


 


Legado eleitoral
A escalada da criminalidade em São Paulo, fruto do colapso da gestão tucana, favorecia a reeleição de Ubiratan a deputado. Até domingo, ele lutava para legalizar sua candidatura. Morto, terá boa parte de seus votos repartida entre candidatos da área de segurança e de discurso direitista – figuras como Afanasio Jazadji (PFL), Conte Lopes (PTB), Coronel Edson Ferrarini (PTB) e Erasmo Dias (PP).


 


Coronel Ubiratan tinha 63 anos, era viúvo e deixa filhos. Estava namorando Carla, possivelmente a última pessoa com quem se encontrou.


 


Por André Cintra,
da Redação