Presidenciável do PRP é investigada por PF e fisco

A presidenciável Ana Maria Rangel (PRP), exibe-se no rádio e na TV desde 30 de agosto. Dispõe de 1 minuto e 2 segundos. Em poucos dias, igualou-se a Cristovam Buarque nas pesquisas, com 1% das intenções de voto. O que o país desconhece é que a candidata e

Ana Maria tornou-se postulante ao Planalto graças a uma operação mercantil. Comprou a vaga do PRP (Partido Republicano Renovador), uma legenda de aluguel com sede em São José do Rio Preto (SP). Ela própria denunciou a operação ao Ministério Público. Alegou ter sido extorquida em mais de R$ 14 milhões. No curso do processo, passou de vítima a investigada.


 


Ela prestou três depoimentos ao Ministério Público Eleitoral de São Paulo. Ouviu-a o procurador Mário Luiz Bonsaglia. Apresentou-se como empresária. Atua nos EUA. É dona da empresa de transportes International Concepts. Fica em Atlanta (Estado da Geórgia). Filiou-se ao PRP com o único propósito de disputar a presidência.


 


Contou que, na hora de homologar a candidatura, o presidente do PRP, Ovasco Resende, lhe disse: “Vamos abrir o jogo. Caixa dois existe e vai continuar existindo”. Pediu dinheiro: R$ 14 milhões para o partido e R$ 2,1 milhões para si próprio. Mais R$ 50 mil pelo registro da candidatura, exigência inusitada prevista nos estatutos do PRP e o custeio de deslocamento e hospedagem dos convencionais.


 


Orientada por um produtor da TV Globo, Ana Maria gravou os diálogos com Ovasco. Entregou as gravações ao procurador Bonsaglia. O conteúdo das conversas recheou reportagem exibida pelo Jornal Nacional em 30 de junho. A candidata disse ter simulado concordância com a proposta de Ovasco.


 


Depositou os R$ 14 milhões nas contas do PRP em 28 de junho. Para evitar que o dinheiro fosse sacado, anotou no cheque uma data errada. Em vez de 2006, escreveu 2005. Fez o mesmo com a taxa de registro de R$ 50 mil. Em 29 de junho, depositou na conta de Ovasco R$ 500 mil, menos do que os R$ 2,1 milhões pedidos inicialmente. De novo, anotou 2005 no cheque. No mesmo dia, foi aclamada em convenção do PRP.


 


Ana Maria registrou a candidatura no TSE. Mas, como previsto, os cheques voltaram. E o partido pediu a impugnação do registro. Em decisão liminar (provisória) ela foi excluída da disputa e impedida de falar no rádio e na TV. Recorreu, alegando que não poderia ser tirada do ar antes do julgamento definitivo do processo. O TSE deu-lhe razão. E Ana Maria pôs a cara no vídeo e a voz no rádio a partir de 30 de agosto.


 


Analisando a encrenca, o procurador Bonsaglia se deu conta de que, além das implicações eleitorais, o caso requeria providências na esfera criminal. Encomendou diligências à PF -para apurar “o tom mercantil que impregnou o processo de escolha da candidata” -e à Receita Federal -para verificar incongruências no Imposto de Renda da candidata. As investigações estão em curso.


 


Ana Maria informara ser “titular de diversos bens, inclusive imóveis e valores, nos EUA”. Na declaração de bens levada à Justiça Eleitoral, só anotou a posse de um automóvel. Inquirida, disse estar em dia com o Imposto de Renda. Mas reconheceu que, também nas declarações ao fisco, só incluiu um automóvel. Acha que, como reside nos EUA, é à Receita norte-americana que precisa prestar contas de seus rendimentos.


 


De resto, verificou-se que Ana Maria gastou cerca de R$ 50 mil no custeio das despesas da convenção do PRP. Não há vestígio do ingresso do dinheiro na contabilidade do partido. A candidata alega que desembolsou o dinheiro por exigência do partido.


 


A precariedade jurídica da candidatura de Ana Maria pode resultar inofensiva ao processo eleitoral. Mas também pode ocorrer o contrário. Por exemplo: se o favorito Lula não obtiver 50% mais um dos votos válidos, o 1% atribuído a Ana Maria seria determinante para levar a disputa para o segundo turno. A hipótese é improvável? As pesquisas indicam que sim. Mas impossível não é. O TSE bem que poderia livrar a eleição desse risco, tomando uma decisão antes do primeiro turno.


 


Fonte: Blog do Josias