Minissérie associa Clinton aos atentados de 11 de Setembro

Não é só a reputação de George W. Bush que se queima após os atentados de 11 de Setembro. Quase cinco anos após os ataques às torres gêmeas do World Trade Center, é a vez de o ex-presidente Bill Clinton entrar na mira das especulações da mídia americana.

O programa, produzido pela rede americana ABC, acusa o ex-presidente de se preocupar demais com a vida sexual e ignorar as ameaças de um levanta terrorista. Clinton entregou o poder a George W. Bush cerca de oito meses antes dos atentados. A minissérie é transmitida nas noites de domingo e segunda-feira, mostrando os antecedentes do ataque, que matou 2.992 pessoas.


 


De acordo com o programa, autoridades como Sandy Berger, ex- assessor de segurança nacional de Clinton, desperdiçaram a chance de capturar Osama Bin Laden na década de 1990 no Afeganistão. Ex-membros do governo Clinton disseram que partes do programa foram manipuladas.


 


Jay Carson, porta-voz do escritório do ex-presidente em Nova York, declarou: “Não afirmamos (apenas) que as cenas são erradas. Elas são incontestavelmente erradas. A ABC diz isso. O relatório da comissão do 11/9 diz isso. Tom Kean (republicano que presidiu a comissão e prestou assessoria ao programa) diz isso. O roteirista do programa diz isso.”


 


Ficção
Na sexta-feira (08/9), o jornal The Washington Post disse que a ABC está fazendo pequenas mudanças no docudrama (misto de documentário e drama), em resposta às queixas de democratas. A rede não confirmou as alterações, mas divulgou nota dizendo que, “para fins dramáticos e narrativos, o filme contém cenas, situações, diálogos e personagens representativos ficcionalizados”.


 


“Ninguém viu a versão final do filme, porque o processo de edição ainda não está completo, de modo que as críticas a questões específicas do filme são prematuras e irresponsáveis”, acrescentou a ABC. Ao Post, Kean disse ter pedido à rede que fizesse alterações solicitadas por ex-funcionários do governo Clinton, mas que a ABC não havia ainda respondido ao apelo.


 


Um executivo da emissora disse ao jornal que as mudanças “foram destinadas a deixar mais claro que uma indecisão geral” do governo federal deixou os EUA vulneráveis, “e não (uma falha) individual.” O programa acirra o debate pré-eleitoral sobre quem – republicanos ou democratas – é mais duro com o terrorismo.


 


Tom de decepção
Os produtores de O Caminho para o 11/9 disseram que o enredo se baseou em dados recolhidos nas audiências da comissão que investigou o ataque. Com Harvey Keitel no elenco, a minissérie tenta mostrar como decisões políticas equivocadas e entraves burocráticos impediram as investigações pré-atentado.


 


“O governo norte-americano nos decepcionou”, disse Kean. “Não só não evitou o complô como não conseguiu nem retardá-lo.” Kean disse ter visto no programa uma forma de chamar a atenção para as recomendações contidas no relatório da comissão que investigou os atentados.


 


Ele disse que já esperava as críticas. “Pessoas em ambos os partidos não gostaram particularmente do relatório da comissão e acho que as pessoas de ambos os partidos não vão gostar (da minissérie).”


 


Pressão
O senador Harry Reid, do Estado de Nevada, líder da bancada democrata, criticou a minissérie de cinco horas, dizendo tratar-se de “uma obra de ficção”. Reid e outros líderes do partido no Senado escreveram a Robert Iger, presidente da Walt Disney Company, a empresa-mãe da ABC, pedindo que ele “cancele este programa factualmente inexato e profundamente mal direcionado”.


 


A discussão acalorada se dá no momento em que democratas e republicanos disputam espaço político antes das eleições parlamentares marcadas para 7 de novembro. Os democratas criticaram os republicanos por não implementar as recomendações de segurança formuladas pela Comissão 11 de Setembro. Já os republicanos têm dado a entender que os democratas foram brandos demais contra o terrorismo.


 


Nos últimos dias, ex-integrantes da administração Clinton também se queixaram com Iger, pedindo que a ABC e a Disney modifiquem ou eliminem da minissérie elementos que eles afirmam ser erros ou invenções.


 


“Licença dramática”
O produtor-executivo Marc Platt reconheceu que o docudrama tomou “licença dramática” para tornar-se “mais eficaz e acessível aos espectadores”. “Não temos a intenção ou o desejo de sermos políticos, nem de distorcer fatos intencionalmente”.


 


Platt destaca um trecho da minissérie criticado por democratas, que, segundo ele, “é “uma fusão e soma de acontecimentos diversos”. Na cena em questão, agentes da CIA e combatentes afegãos chegam perto de capturar Osama bin Laden na década de 1990, mas a missão é desautorizada pelo então assessor de segurança nacional, Samuel Berger.


 


Em carta escrita a Iger no início da semana, Berger disse que “não ocorreu nenhum episódio dessa natureza, nem nada semelhante”. Os democratas se queixam há vários anos de que a administração Bush não capturou ou matou Bin Laden quando ele teria supostamente estado encurralado na região de Tora Bora, no Afeganistão, no final de 2001. Eles argumentam também que, mais tarde, a guerra no Iraque afastou recursos do trabalho de caça a Bin Laden.