Ozenir, o estudante que mobilizou Rondônia contra a máfia

Foram três dias de greve de fome, mas Ozenir Silva, de 27 anos, nem chega a dar detalhes da experiência. Estudante de Geografia e representante da União Nacional dos Estudantes (UNE) em Rondônia, ele diz que a sensação mais desagradável do período foi a d

“Isso me revoltou. Diziam que nós éramos uns universitários desocupados e soltavam foguetes para comemorar a volta do Carlão”, lembra. O deputado estadual José Carlos de Oliveira, o Carlão, está preso desde o início de agosto em Brasília. Acusado de ser o chefe do esquema de corrupção, ele já havia sido detido anteriormente, mas a Justiça teve de mandar soltá-lo.


 


A legislação garante que uma Assembléia Legislativa tem o direito de votar e pedir a suspensão de um processo criminal contra um de seus membros. A nova prisão foi em flagrante, autorizada pelo Superior Tribunal de Justiça, por formação de quadrilha. Enquanto Carlão voltava aclamado para a assembléia, Ozenir Silva organizava protestos em Porto Velho com os universitários locais e militantes de partidos de esquerda.


 


“A gente tinha por obrigação ir às ruas pra se manifestar e cobrar da Justiça uma atitude”, argumenta ele. “Estudamos numa universidade pública. Temos que dar à sociedade algo em troca do que recebemos.” Na época, a Justiça local chegou a proibir a exibição, em todo o estado, do programa “Fantástico”, da TV Globo. No dia 14 de maio, o programa mostrou um vídeo em que deputados pediam propina ao governador do estado, Ivo Cassol, em troca de apoio político. Cassol foi quem cedeu as imagens à emissora.


 


Revolta organizada
Diante da possibilidade de o vídeo não ser transmitido pela TV Globo, os estudantes baixaram uma cópia dele pela internet e organizaram uma exibição pública, no centro da cidade, no dia seguinte. A mobilização da época não se repetiu em 4 de agosto deste ano, quando Carlão foi preso pela segunda vez. “Fomos com o carro de som para o centro da cidade, mas não deu público, eram umas 50 pessoas. Na própria universidade, a gente ouvia: vou sair em manifestação para cobrar o quê, se as prisões já estão sendo feitas?”, conta Ozenir.


 


Ainda assim, o estudante acredita que as manifestações de 2005 fizeram sua parte. “A ação posterior da polícia, as investigações, foram uma conseqüência, e temos muito orgulho, porque isso tudo é histórico para Rondônia. Se não tivéssemos ido para as ruas, talvez esse processo todo ficasse perdido em alguma gaveta por aí.”


 


Tesoureiro do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal, Ozenir conta que sente na pele o desgaste que há sobre a política hoje, no país: “Tem pessoas que chegam e não acreditam que estamos aqui só para trabalhar pelo estudante. Pensam que aqui giram milhões de reais e que a gente se beneficia desse dinheiro.”


 


Ozenir vê um peso histórico sobre os ombros dos políticos no país: “São 500 anos em que a população formou essa idéia de que quem lida com a política é corrupto. A gente que é envolvido no meio político tem que ter a esperança de que é possível mudar. Existe uma revolta aqui em Porto Velho e as pessoas vão expressar isso nas urnas, tenho certeza.”