Editoras lançam Manifesto do Povo do Livro e clamam apoio

Em nome Libre (Liga Brasileira de Editoras), a Anita Garibaldi está articulando o Manifesto do Povo do Livro, que será entregue, a partir desta primeira semana de setembro, aos principais candidatos a presidente da República. O documento é um esforço pela

O trabalho da Anita Garibaldi é feito em conjunto com a Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI) no Brasil e diversas outras entidades e personalidades do mundo do livro. O manifesto faz um apelo veemente para que, a partir de 2007, governantes dêem ao livro e à leitura o tratamento de prioridade nacional e estratégica para o desenvolvimento social e econômico da nação.


 


O texto apresenta, ainda, questões gerais de consenso na sociedade, legitimadas pela ampla discussão que tomou conta do país em 2005 por ocasião das comemorações do Ano Ibero-americano da Leitura, o Vivaleitura. Embora muito amplo, o manifesto tem o papel de trazer a discussão da questão do livro a tona em um momento de apresentação de proposta e discussão da sociedade sobre os rumos do país.


 


O ato de lançamento do manifesto está previsto para 15 de setembro, na Primavera dos Livros, do Rio de Janeiro. O evento é organizado pela Libre. Leia abaixo o Manifesto do Povo do Livro. Para assinar e aderir, basta mandar um e-mail para manifesto@livroeleitura.org.br e informar nome completo, profissão/função, cidade, estado e, se for o caso, instituição a que pertence.


 


MANIFESTO DO POVO DO LIVRO


 


O acesso ao livro e a outras formas de leitura – como jornais, revistas e Internet – deve ser assegurado a toda a nação brasileira. Independentemente de credo, raça, faixa etária, necessidade especial, escolaridade ou condição econômica, todo brasileiro, como ser humano que é, deve ter garantido seu direito inalienável à leitura – como meio de transmissão do conhecimento, entretenimento, de desenvolvimento pessoal e profissional e, portanto, de cidadania.


 


Em um país como o Brasil – onde apenas um entre cada quatro habitantes está habilitado para a prática da leitura; onde nossas crianças ocupam os últimos lugares nos estudos internacionais sobre compreensão leitora; onde o índice nacional de leitura é de menos de 2 livros lidos por habitante/ano; e onde a maior parte dos milhões de alfabetizados nas últimas décadas tornou-se analfabeta funcional – a leitura precisa e deve ser tratada como uma prioridade nacional.


 


A Educação e a Cultura são áreas estratégicas dentro do projeto do desenvolvimento nacional e da cidadania. A escrita e a leitura constituem não só o mais forte amálgama entre elas como o caminho indispensável para a formação do cidadão crítico, emancipado, inserido em seu meio e capaz de modificá-lo. Embora não seja a via única de acesso ao conhecimento e à informação – o que compartilha com outras linguagens, como a visual e a eletrônica -, o livro continua a ser a maior invenção do último milênio e a ocupar um papel central na sociedade.


 


A leitura gera condições para decodificar, interpretar, compreender e se fazer entendido, criando, assim, as condições necessárias para o ser humano se comunicar com os seus iguais. De tal forma que, ao promover o seu desenvolvimento em todos os aspectos, o ato de ler o credencia a buscar maior participação social e política e a exercer sua cidadania em plenitude.


 


As conquistas e os avanços obtidos nos últimos anos nas esferas federal, estadual e municipal necessitam ser preservados, mas não só. Precisam ser ampliadas e ganhar a dimensão que o tema merece. Programas e projetos de acesso ao livro e às outras formas de leitura, de formação de agentes multiplicadores (como os educadores, os bibliotecários e os voluntários), de valorização do ato de ler no imaginário coletivo, e, ainda, de fortalecimento da economia do livro devem ser convertidos em política de estado – acima dos governos e das pessoas.


 


Tornar a questão do livro e da leitura uma política pública significa aprofundar o vínculo das ações de Educação e Cultura e, sobretudo, dotar a área de uma estrutura administrativa e orçamentos capazes de atender às grandes demandas existentes. Os esforços feitos até agora pelos diferentes governos merecem o devido respeito, porém ainda são insuficientes para o Brasil começar a saldar essa dívida social com o cidadão e a cidadania, com o livro e a leitura.


 


O Estado deve garantir as condições necessárias de acesso ao livro gratuito aos seus cidadãos. A biblioteca é um serviço público e dever do Estado, tal como a saúde e a educação. Para tanto, o Estado deve cumprir, de forma cabal, a Política Nacional do Livro e dar, a partir de 2007, prioridade total à revitalização da biblioteca pública. É ela o meio mais eficiente de proporcionar educação continuada à população e, dessa forma, ser instrumento de democracia e de política social.


 


É, pois, fundamental e urgente que todos os municípios brasileiros tenham pelo menos uma biblioteca e que a rede existente – municipal, estadual, federal, escolar, universitária e comunitária – seja fortalecidas e reequipada para atender ao cidadão brasileiro dentro dos padrões mínimos internacionais: com bons e diversificados acervos de livros e outros materiais; pessoal qualificado e estimulado; e recursos permanentes para manutenção, atualização, formação e fomento. A Lei do Livro, a Câmara Setorial e o Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL) devem ser aprofundados e ganhar maior efetividade, materializados em projetos, programas e investimentos, em todos os rincões do país, sobretudo nas áreas menos favorecidas.


 


Às vésperas de se comemorar os 200 anos da impressão do primeiro livro no país ­ que ocorreu em 1.807, após a chegada da família real portuguesa – faz-se urgente e indispensável tornar o Brasil uma nação verdadeiramente de cidadãos leitores. A prática social da leitura é, afinal, o caminho para onde apontava a legião de brasileiros notáveis – integrada por escritores como Monteiro Lobato e tantos outros – como a estratégia de enfrentamento do drama da fome, da pobreza, da ignorância e da violência urbana para colocar o Brasil , aí sim, no rumo do desenvolvimento, da justiça social e da solidariedade.


 


Brasil, setembro de 2006
manifesto@livroeleitura.org.br