Ministério da Cultura aprova projeto do Memorial do Araguaia

O Memorial do Araguaia, no município de Xambioá (TO), está mais próximo de se tornar realidade. Nesta sexta-feira (1o/9), foi publicado, no Diário Oficial da União, a aprovação do projeto pelo Ministério da Cultura, no valor de R$2.194.164,25. Os dirig

A Lei Rouanet permite que os projetos aprovados pelo Ministério da Cultura recebam patrocínios e doações de pessoas, que poderão abater os benefícios concedidos no Imposto de Renda devido.


 


O presidente da entidade, Micheas Gomes de Ameida, Zezinho do Araguaia; e a tesoureira, Neuza Rodrigues Lins, primeira camponesa anistiada naquela região, comemoram a aprovação do projeto, mas sabem que ainda tem muita luta pela frente.


 


Eles são representantes da comunidade que lutam desde 2001 pela construção do memorial. A data coincide com o início das exumações dos guerrilheiros mortos pelos militares na época do regime militar, quando desenvolveram uma resistência armada à ditadura na região do rio Araguaia.


 


História da guerrilha


 


O Memorial do Araguaia, que pretende se transformar no cartão postal da cidade, tem por objetivo resgatar o acontecimento histórico brasileiro da Guerrilha do Araguaia, com um espaço adequado para a guarda do acervo histórico, tornando possível o acesso de estudantes, professores, pesquisadores e comunidade em geral a documentos que contam a história da Guerrilha.


 


O obelisco é de autoria de Oscar Niemeyer e o projeto arquitetônico é de Osvaldo Iamauti.


 


O projeto inclui também a construção de equipamentos para o desenvolvimento de atividades culturais e educativas para comunidade de Xambioá e cidades vizinhas, mostrando as riquezas da região. ''Será um centro cultural vivo, onde a população vai trabalhar a arte, cultura, ciência e tecnologia'', explica Zezinho, acrescentando que ''Xambioá significa, na língua indígena, pássaro preto veloz''. Segundo ele, existe uma curiosidade grande das pessoas com relação ao nome do município.


 


As obras, que estavam previstas para início de julho deste ano e conclusão  em fevereiro de 2007, não pode ser iniciada por falta de recursos. Zezinho garante que ''assim que o dinheiro estiver na conta do Instituto, esse cronograma será cumprido''.


 


Para manutenção e funcionamento do Memorial, o Instituto pretende assinar convênios com as três esferas do poder público – município, estado e União. O dirigente do IAPA lembra ainda que o memorial terá recursos próprios, advindo dos equipamentos culturais como cinema, teatro, venda de livros etc.


 


Ajuda no exterior


 


Para garantir os recursos para construção do Memorial, os integrantes do IAPA, que têm uma história de cinco anos de luta pela construção da obra, estão dispostos a buscar ajuda no exterior. ''Já temos em vistas contatos com o governo italiano, diz Zezinho, considerando a participação do italiano Gian Carlo Castiglia, o Joca, que participou da guerrilha e foi morto pelos militares na região. O italiano faz parte dos heróis da Guerrilha do Araguaia, que será homenageados pelo memorial.


 


Outro contato previsto é com o governo japonês, que, segundo Zezinhop, tem concessão de exploração de minério da Serra de Carajás, região da guerrilha. A concessão pelo prazo de 30 anos foi feita no governo José Sarney, na gestão de Shigeaki Ueki como Ministro das Minas e Energia.


 


Cinco anos de luta


 


''Quando foram iniciadas as exumações dos corpos dos guerrilheiros mortos no Araguaia, em 2001, a comunidade iniciou uma discussão sobre o desejo de construir um símbolo à vida que eles levavam antes dos militares chegarem na região'', conta Zezinho.


 


Ele lembra que foi realizada uma audiência pública na Câmara dos Vereadores de Xambioá, quando foi aprovada a construção do Memorial do Araguaia, que engloba todos os desejos da comunidade da região.


 


A partir de então, foi criada comissão para formar a entidade jurídica que levaria adiante a idéia. Em janeiro de 2004, foi instituído o IAPA. Antes disso, porém, a comissão encaminhou ao Presidente Lula, por meio do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), no dia 17 de janeiro de 2003, o pedido de construção do Memorial.


 


Nesses cinco anos, Zezinho destaca que, em meio as questões burocráticas e políticas, a comunidade, por meio da comissão, consegui evitar a inundação de 14 municípios, inluindo Xambioá, para construção de uma hidrelétrica na região. Em seguida, conseguiram a promessa de doação do terreno, pelo prefeito da cidade, Júnior Leite, em 2001. Zezinho lembra que, na época da morte do João Amazonas, as cinzas do líder comunista foram espalhadas nesse local.


 


No entanto, o memorial não pode ser construído no terreno doado pelo prefeito por que está em litígio. Para não perder o espaço privilegiado, na entrada da cidade, o povo reuniu-se, escolheu outro terreno e o IAPA comprou com recursos particulares do próprio dirigente da entidade.


 


De Brasília
Márcia Xavier