Emoção e música no adeus ao Comandante Crioulo que ditadura matou

Em cerimônia ecumênica no Catedral da Sé, em São Paulo, foi realizado nesta sexta-feira (1/9) o traslado dos restos mortais do pernambucano Luiz José da Cunha, dirigente nacional da ALN – Ação Libertadora Nacional. Negro e conhecido como Comandante Crioul

Além de familiares de outros mortos e desaparecidos estiveram presentes parlamentares, ativistas dos direitos humanos e do movimento negro, além de representantes de entidades democráticas e outros movimentos sociais.



União e Olho Vivo e a ''Internacional''



Durante a cerimônia, após o Hino Nacional, apresentado pelo grupo de Teatro União e Olho Vivo, em ritmo de batuque, foi cantada a música de Geraldo Filme ''Silêncio no Bexiga'' homenagem ao célebre diretor de bateria da Vai-Vai, o Pato Nágua, assassinado: “Mais um que se foi sem dizer adeus”. O ato concluiu-se com o  União e Olho Vivo entoando a ''Internacional''.



Em meio a intensa emoção, familiares de mortos e desaparecidos, com fotos de seus entes queridos, e levando velas desfilaram pela nave da Catedral e depositaram os cartazes no altar.



Sua viúva, Amparo Araujo, destacou que ele sempre dizia que “a única luta que se perde é a que se abandona”. E é este o legado que fica do comandante crioulo, que finalmente descansará em paz em Recife.



Passagens macabras



O procedimento da ditadura para ocultar o assassinato do Comandante Crioulo inclui passagens macabras. Seu laudo necroscópico foi assinado pelos médicos legistas Harry Shibata e Orlando Brandão. As fotos de seu corpo, cabeça e rosto evidenciam as torturas sofridas que o levaram à morte. Na certidão de óbito sua cor foi alterada: colocou-se branca, visando impedir sua identificação. Crioulo foi enterrado no Cemitério de Perus como indigente.



Dezoito anos depois, em 1991, uma ossada localizada passou a ser examinada como sendo sua. Uma terrível surpresa estava reservada aos familiares e amigos que buscavam seus restos mortais: foram encontradas partes do esqueleto, sem o crânio, embora tivessem sido encontradas fotos do rosto torturado.



A Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, com o apoio do Ministério Público Federal de São Paulo obteve da Secretaria Especial dos Direitos Humanos e da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos, as condições necessárias para o exame de DNA. O resultado foi positivo e após mais de 15 anos de luta e espera Luiz José da Cunha volta para Recife, sua terra natal para ser enterrado junto a sua mãe.



De São Paulo,
Olívia Rangel