Médicos mudam de atitude em relação a consumo de café

Mudança de atitude decorre da divulgação de pesquisas científicas e informações que mostram que o café, consumido moderadamente, pode fazer bem para a saúde e prevenir contra doenças.

Um estudo nacional sobre o consumo de café, realizado em 2003, detectou que parte dos entrevistados dizia não tomar café por recomendação médica, que era prejudicial à saúde. O alerta resultou no ‘Programa Café e Saúde’, criado em 2004 pelo Grupo Gestor de Marketing (GGM) e homologado pelo Conselho Deliberativo da Política do Café (CDPC), órgão vinculado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e integrado por representantes da iniciativa privada e do governo.


 


Desde então, vem sendo realizado um amplo trabalho educativo que, partindo da divulgação de estudos e pesquisas científicas, procura desmistificar preconceitos e mostrar para a comunidade médica os benefícios preventivos e as propriedades positivas, naturais e saudáveis do café. Tendo à frente o Prof. Dr. Darcy Lima, pesquisador e professor do Instituto de Neurologia da UFRJ, o ‘Programa Café e Saúde’ engloba uma série de ações, como criação de uma página na internet (www.cafeesaude.com.br); contato direto com os profissionais da área, que recebem sistematicamente os informes técnicos “Cartas Médicas”, e divulgação científica por meio de documentários e filmes produzidos para o “Conexão Médica”, uma rede de televisão voltada para instituições como hospitais, clínicas e universidades da área, focada na educação continuada.


 


Para acompanhar o desenvolvimento do Programa, e “medir” e avaliar se as ações estão surtindo o efeito desejado, são realizadas anualmente pesquisas de opinião junto à comunidade médica, pela TNS InterScience. “O último estudo, realizado no final de maio, mostra que estamos no caminho certo, que está havendo uma efetiva mudança de atitude por parte desses profissionais em decorrência das informações claras e transparentes que passaram a receber”, diz Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da ABIC – Associação Brasileira da Indústria de Café, integrante do GGM, que ontem (30/08) divulgou o estudo em Belo Horizonte, no Congresso Brasileiro do Café, promovido pelo Conselho Nacional do Café, no Ouro Minas Hotel.


 


Derrubando tabus


 


Nas duas pesquisas anteriores (2004 e 2005), foram entrevistados os profissionais que eram telespectadores do “Conexão Médica”. Este ano, a base foi ampliada, buscando-se saber como o programa estava atingindo os demais médicos. Para efeitos de comparação, o questionário aplicado foi o mesmo dos estudos anteriores, mantendo-se também a mesma média de amostragem: 344 entrevistados, em 2004; 345, em 2005; e 350, em 2006.


 


De 18 a 31 de maio, os pesquisadores entrevistaram, por telefone, 24 nutricionistas; 48 clínicos gerais; 40 cardiologistas; 29 ginecologistas; 31 enfermeiros; 20 psiquiatras; 29 neurologistas; 30 pediatras; 30 odontólogos e 9 profissionais de outras especialidades. Como novidade, nesta edição 2006 foram incluídos 30 geriatras e 30 personal trainers – dois segmentos importantes, principalmente o treinador, que tem uma influência muito grande sobre o cliente, pois lida tanto com os seus aspectos físicos quanto com seus hábitos alimentares.


 


O que o estudo mostrou é que o Programa Café e Saúde tem tido êxito porque parte de pesquisas fundamentadas, esclarecendo interpretações errôneas e confusas. Nesses três anos, por exemplo, o entendimento sobre influências negativas do consumo moderado de café vem caindo gradativamente: diminuiu em 31% os que achavam que café dá problema gástrico; em 19%, aqueles que acreditavam que o café estimulava o vício, e em 15% os que apontavam como fator negativo os problemas de coração.


 


Aumentou, entretanto, o número de profissionais que afirmou que café provoca úlcera. Em 2004, 38% apontaram esse problema, e agora 55%.”Na análise dos pesquisadores, isso mostra que persiste alguma informação errada, alguma confusão que não está esclarecida e que precisamos elucidar”, esclarece Herszkowicz.


 


Apesar desta questão permanecer, fica muito claro que outros aspectos estão sendo esclarecidos e que o segmento médico está começando a descobrir qual a função do café no organismo humano e os seus benefícios: para 36% dos entrevistados, o consumo de café influencia positivamente na saúde (opinião manifestada por apenas 26% dos médicos em 2004, e por 32%, em 2005). Entre as influências positivas citadas estão: previne problemas de depressão (43%, contra 14% em 2004); previne problemas de coração (23%, contra 6% em 2004), previne problemas de câncer (11%, contra 2% em 2004) e previne problemas de Parkinson (9%, contra 6% em 2005).


 


Isso demonstra que a comunidade médica começa a entender também que o café é uma planta funcional (previne doenças mantendo a saúde), e nutracêutica (combina propriedades nutricionais com farmacêuticas). Apesar de 99% terem citado a cafeína como principal substância presente no café, alguns já falaram de ácidos clorogênicos (1%), dos compostos voláteis (6%), da niacinina (3%) e dos sais minerais (2%). “Se aparentemente esses porcentuais são pequenos, na verdade revelam um aumento enorme, já que a base era praticamente 0% em 2004 e em 2005”, diz Nerszkowicz.


 


Para 75% dos entrevistados, o café também é positivamente estimulante. “Na primeira pesquisa, esse aspecto foi citado por 92% dos entrevistados, e por 78% no ano passado. A leitura que fazemos dessa informação é que o café deixou de ter esse papel estimulante, embora alto, para ter um aspecto de prevenção, de fazer bem para a saúde”.


 


Quando perguntados em que baseavam suas informações sobre as influências positivas do consumo de café, a pesquisa obteve dos entrevistados um outro dado relevante: 50% disseram ser na experiência de seus pacientes (em 2004, apenas 32% deram essa resposta). Para Nathan Herszkowicz, isso quer dizer que hoje o médico já começa a dizer que ‘não tem problema tomar café’, e ouve do paciente que chega ao consultório a constatação de que está tomando café e está se sentindo bem.


 


“Essa informação vai impactar na pesquisa de consumo que fizemos em 2003 e que originou todo esse programa. Esse dado, agora, é muito interessante, pois mostra que as ações estão corretas. Mudar opinião é um trabalho de muito longo prazo, mas nesse pouco tempo, nesses três anos, já temos uma evolução bastante significativa nestas atitudes.É o médico mudando o seu conhecimento sobre café e a sua atitude no dia-a-dia com o seu paciente”.


 


Recomendação médica


 


Perguntados sobre qual a recomendação para consumo diário, 66% dos entrevistados disseram ser de 2 a 3 xícaras por dia, 10% a mais que em 2004 (60% dos entrevistados). Essa média de consumo moderado praticamente se mantém, mas, por outro, caiu em 11% o total de médicos que limitavam em 1 xícara por dia: 34% ante os 38% da pesquisa feita em 2004.


 


E quem pode consumir café? Praticamente todas as pessoas, responderam os médicos. Adultos de 19 a 50 anos (96%) e acima de 50 anos (87%); pessoas que praticam esportes (83%); mulheres na menopausa (74%) e gestantes (61%), ou que estejam amamentando (58%); e pessoas com vida sedentária (76%), obesas (80%) ou com tendência à depressão (67%), entre outras.


 


A recomendação do consumo moderado de café, na faixa de 2 a 3 xícaras por dia, cresceu principalmente entre os enfermeiros (75%), os neurologistas (41%), ginecologistas (31%), os pediatras (30%), os clínicos gerais (23%) e entre os de outras especialidades médicas (22%).


 


“O estudo permite inúmeras leituras e análises, mas é patente que o Programa Café e Saúde, com suas ações e estratégias, está esclarecendo e aumentando a percepção de que o café pode influenciar positivamente a saúde, principalmente junto aos profissionais das áreas de cardiologia, psiquiatria e odontologia”, analisa o diretor-executivo da ABIC.


 


Ivani, fazendo uma ressalva: esse é um processo educativo que deve ser contínuo. “Não dá para simplesmente informar e ponto final. Se esse trabalho parar, volta tudo para trás, porque as pessoas não estão elaborando, pensando, o tempo todo.O ‘Programa Café e Saúde’ tem que ter continuidade sistemática, para poder manter esse nível de conhecimento”.


 


Informações adicionais


 


O CDPC é integrado pelas seguintes entidades: ABIC – Associação Brasileira da Indústria de Café; ABICS – Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel; CeCafé – Conselho dos Exportadores de Café do Brasil; CNA – Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil e CNC – Conselho Nacional do Café.


 


Fonte: MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) A íntegra da pesquisa por ser acessada no link: http://www.abic.com.br/arquivos/pesquisas/abic_pesquisa_cafe_saude_03jul06.pdf