Estudo indica violência fora de controle no Haiti

Um estudo publicado na edição desta quinta-feira (31/8) da prestigiosa revista médica britânica “The Lancet” sugere que, apesar da presença da missão de paz da ONU desde meados de 2004, a população civil de Porto Príncipe continua vivendo um cotidiano

Baseado em entrevistas realizadas em 1.260 domicílios, o estudo, assinado por pesquisadores da Universidade Estadual Wayne (Detroit, EUA), estima que oito mil pessoas foram assassinadas em Porto Príncipe nos 22 meses entre a queda de Jean-Bertrand Aristide, em fevereiro de 2004, e dezembro do ano passado – uma média de 12 por dia. Desses crimes, metade teria motivação política.



Para comparação, houve cerca de sete homicídios por dia na cidade de São Paulo, com quatro vezes mais habitantes, no segundo trimestre deste ano.



O número estimado pelo estudo é bastante superior ao admitido pela Minustah (Missão de Estabilização da ONU no Haiti). Baseada em informes de ONGs locais, já que não existe um levantamento próprio, a missão estima em dois mil os assassinatos nesse período.


O estudo também aponta uma alta incidência de violência sexual, sugerindo cerca de 35 mil casos em 22 meses. Desses, 19 mil envolveriam menores de 18 anos – 53,1% do total.



Além da violência, as entrevistas ratificam os péssimos indicadores socioeconômicos haitianos. Apenas 46,5% das crianças e adolescentes entre cinco e 17 anos freqüentavam a escola na época das entrevistas. Dos adultos, só 15,9% tinham o diploma de educação secundária.



Imprecisão
De acordo com a Sophie Boutaud de la Combe, porta-voz da Minustah, a missão trabalha com a estimativa de dois mil assassinatos feita por ONGs haitianas. “Talvez a técnica de amostragem não seja precisa”, disse.



Boutaud de la Combe afirma que a violência é hoje um problema restrito a algumas regiões de Porto Príncipe, em contraste com a relativa tranqüilidade nas outras regiões, e que a insegurança vem caindo. “O problema hoje é menor do que o período eleitoral abordado pela pesquisa e certamente bem menor do que antes de fevereiro de 2004”, afirmou, em alusão à violenta instabilidade política que provocou a queda do então presidente Jean-Bertrand Aristide.



A porta-voz ressaltou também que a ONU tem uma política de “tolerância zero” com relação a denúncias contra capacetes azuis e que todos as denúncias são “ativamente investigadas, bem fundamentadas ou não”.