Operários da Volks mantém greve; adesão no 1º dia é total

A assembléia dos metalúrgicos da Volkswagen em São Bernardo do Campo (SP) na tarde desta quarta-feira (30) decidiu manter a greve iniciada na véspera contra 1.800 demissões. No seu primeiro dia, a greve por tempo indeterminado paralisou totalmente as linh

A assembléia de quarta aprovou uma mudança de tática. Parte da produção pode ser retomada, em vez da paralisação total. A comissão de greve orientará sobre o que fazer. Segundo o Sindicato, a nova forma de luta visa obter um “efeito surpresa” e forçar a rreabertura da negociação com os dirigentes da multinacional alemã.Uma próxima assembléia está marcada para as 15 horas de quinta-feira.



Linhas de montagem paradas



Os trabalhadores cruzaram os braços na terça à tarde, por volta das 16h30, depois que a montadora distribuiu carta a 1.800 funcionários da empresa, informando que os cortes ocorrerão em 21 de novembro, quando termina establidade obtida em acordo anterior.



A paralisação já comprometeu a produção de 900 veículos -média diária da unidade, segundo a montadora. Lá são fabricados os modelos Gol, Polo, Polo Sedan, Saveiro, Parati, Kombi e Fox (exportado para a Europa).



A Volks entregou ontem cartas para cerca de 1.300 trabalhadores do primeiro turno e deveria entregar outras 500, anunciando as demissões para 21 de novembro, quando vence o acordo de estabilidade. “Temos o dever de lutar, tanto os que receberam a carta como aqueles que não receberam. Estes podem entrar nas outras listas que a empresa vai preparar”, comentou o presidente do Sindicato, José Lopez Feijóo.



A assessoria de imprensa da Volkswagen do Brasil anunciou que não comenta a decisão dos empregados por enquanto e que deve divulgar nota oficial sobre o assunto. A assessoria da empresa confirmou ainda a intenção de conceder férias coletivas, entre os dias 18 e 27 de setembro aos funcionários que trabalham na produção do Gol, “a fim de adequar o volume de produção às condições de mercado”.



Ameaça de fechamento



De acordo com plano de reestruturação divulgado, a empresa pretende dispensar 3.600 funcionários até 2008, com redução de direitos trabalhistas dos demais. As demissões podem chegar a 6.100, com risco de fechamento da fábrica, caso não seja feitos acordos para as demissões.



A ameaça de demissões em massa e fechamento da maior unidade fabril do país provocou indignação nos operários. Eles alegam que não podem pagar pela incompetência empresarial da empresa, e que a produção, as vendas internas e as exportações do setor automobilístico continuam a bater recordes. “Tem de haver contra-partidas positivas. Nós não podemos pagar pelos erros de estratégia e administrativos da empresa”, argumentou Feijóo.



Tribuna Metalúrgica denuncia



Na sua edição de hoje, a Tribuna Metalúrgica, jornal diário do Sindicato, traz declarações de dirigentes sindicais e metalúrgicos demitidos. Elas retratam em cores vivas o sentimento da classe e a crueldade das demissões. Veja o que dizem:



Fábrica foi intransigente – “Nós tentamos acordo de todas as formas. Fizemos várias propostas mas esbarramos na intransigência da Volks. Que o nosso sentimento de apreensão diante das demissões anunciadas hoje não se transforme em medo de enfrentar a Volks. Não vamos nos intimidar”. Wagner Santana, vice-presidente do Comitê Mundial dos Trabalhadores (formado pelos operários das 43 unidades da Volks em todo o planeta, que enfrentam um programa global de demissão em massa).



Enfrentamento com união – “Vamos precisar de muita união, pois o enfrentamento é com uma das maiores multinacionais do planeta. Nosso compromisso será o de envolver os trabalhadores dos 100 sindicatos que participam da nossa confederação. Que as lágrimas de hoje se transformem em luta e resistência à agressão da empresa”. Carlos Alberto Grana, presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT.



Uma luta de todos no país – “A CUT nasceu aqui em São Bernardo há 23 anos. Nesta luta, precisamos mostrar a mesma garra e ousadia daquela época. Não podemos ficar quietos diante dessa irresponsabilidade da Volks pois nosso País precisa de emprego e produção. Vocês têm o apoio da CUT. Será uma luta de todos os trabalhadores e vamos realizar atividades por todo o País”. Artur Henrique, presidente da CUT.



Tenho estabilidade – O ponteador Reginaldo Ramos da Silva tem 50 anos e está na Volks há 16 anos. Ele perdeu um dedo em 1993, recebe auxílio do INSS e tem estabilidade. Mesmo assim recebeu a demissão. “Acho que é pressão psicológica da empresa para intimidar meus companheiros de setor”, disse ele.



Pai e filho – Luiz Carlos Amorim trabalha na montagem final. Tem 37 anos, é casado, tem dois filhos e mora em São Bernardo. “Pressenti o fim da Anchieta desde o fechamento da ala 21”, disse. Ele comentou que sua maior desilusão foi a não efetivação de seu filho, que terminou o curso do Senai.



Doença profissional – O montador Cláudio da Conceição Cruz está há 17 anos na Volks e acabou de ganhar processo constatando doença profissional. “Ainda não sei o que vou fazer. É muita revolta”, desabafou ele.



Trabalhei direito – José Martins da Silva trabalha na montagem da Kombi. Tem 57 anos, sendo 25 de Volks. “Não esperava ser demitido porque trabalho direito, não falto e estou com bursite”, afirmou.



Tristeza – A avó Maria das Graças Silva Pereira trabalha na armação da carroceria. É casada e cuida de dois filhos e três netos órfãos de mãe. Está na Volks há 22 anos. “É meu primeiro emprego. Estou triste e nunca imaginei que isso iria acontecer. Não sei o que fazer, tenho obrigações e pago aluguel. Depois de me entregar a carta o supervisor ainda me alertou para não faltar. O sentimento é de revolta”, comentou.



Com agências e Tribuna Metalúrgica (http://www.smabc.org.br/)