Internet influencia cada vez mais o debate político, aponta estudo

Dados do Ibope indicam que 25% dos eleitores brasileiros utilizam a Internet. O percentual representa 32 milhões de pessoas que podem buscar informações sobre as eleições na rede mundial de computadores do total de 126 milhões de eleitores, segundo dad

Os partidos estão descobrindo o filão de eleitores virtuais e investindo em campanhas na rede. Um levantamento coordenado pela Escola Superior de Propaganda e Marketing, aponta que o impacto desta nova mídia no voto depende do número de pessoas que têm acesso a ela, do interesse na eleição e, especialmente, a criatividade de partidos no uso da rede. Quem trabalha com o meio precisa driblar o fato da Iternet não estar devidamente inserida na legislação eleitoral. A dúvida é se os partidos usarão a falta de regulamentação para divulgar boatos sobre políticos adversários.


 


 


“Quando a lei não está clara, a gente adota a medida mais simples que é usar o que está regulamentado”, afirma Akemi Kawagoe, coordenadora de Internet da campanha do candidato do PDT à Presidência da República, Cristovam Buarque.


 


Falta legislação 


 


Os responsáveis pelas páginas oficiais dos candidatos acionam os advogados para fazer consultas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) quando têm dúvidas sobre a Internet. Em 2006, já foram realizadas quatro consultas. A lei proíbe apenas a propaganda de candidatos em páginas de provedores de acesso à Internet. O candidato pode participar de debates em salas de bate-papo e a propaganda não precisa se resumir aos sites oficiais.


 


 


A militância dos partidos é também responsável informalmente pela divulgação dos nomes dos candidatos. Valter Pomar, coordenador da área de Internet da campanha do candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, diz que o uso da Internet pela militância é estimulado.


 


 


“Há listas de discussão, blogs, páginas das mais variadas mantidas por nossas candidaturas nos Estados, páginas de indivíduos e militantes. Nós temos estimulado a militância que, para além dos mecanismos formais da campanha, que são a página eletrônica e o boletim antivírus, usem toda a sua criatividade para participar desse espaço de debate”, disse Pomar. De acordo com a legislação eleitoral, os veículos de comunicação sujeitos a concessão ou permissão do governo, como rádio e TV, não podem dar opinião sobre os candidatos. Os jornais impressos, ao contrário, podem dar opinião e veicular matéria paga 


 


Blogs abrem novos espaços


 


 


E dentre as inúmeras possibilidades que a Internet oferece, uma das que mais se destacam no debate da conjuntura política é a “blogosfera”. Especialmente em períodos eleitorais, os debates sobre as propostas para o país ocupam boa parte do espaços virtuais mais independentes, conhecidos como blogs.


 


 


No mundo, existem cerca de 50 milhões de blogs. Eles se popularizaram no Brasil como uma espécie de diário onde os internautas compartilhavam textos e experiências.


 


 


“Hoje, eles são também espaços para a manifestação da militância mais básica, onde qualquer pessoa tem a possibilidade de publicar intenções sobre os candidatos. É um novo espaço de troca de informações”, aponta, em entrevista à Rádio Nacional, José Murilo Junior, editor de uma página na internet chamada Ecologia Digital e consultor da organização internacional Global Voices.


 


 


Segundo ele, nos Estados Unidos, alguns candidatos já perderam a candidatura a partir da mobilização de blogueiros. Em Connecticut, o Partido Democrata teria sido obrigado a mudar o candidato ao governo do estado por conta de ações dos eleitores por meio de blogs.


 


 


“Aqui, no Brasil, nessa eleição, ainda vai ter uma predominância da televisão no aspecto da decisão em relação às candidaturas. Mas as pessoas já começam a perceber que realmente é um poder a ser exercitado, um poder de mídia a ser exercitado, de uma forma completamente nova.”


 


Para pesquisador, debate político na internet ainda segue moldes antigos


 


Mas apesar de todas as inovações, a internet ainda segue padrões antigos quando o assunto é política. A avaliação é do jornalista e pesquisador da Universidade de Campinas, Mauro Malin, apresentador da versão radiofônica do programa Observatório da Imprensa.


 


 


Segundo ele, as páginas dos partidos e até mesmo os blogs dos eleitores não fazem um debate político diferente do que as rádios, emissoras de televisão e jornais apresentam. 


 


 


“É apenas um pequeno fenômeno que não mexe com  a estrutura da campanha. Mesmo na internet, ela continua concentrada na agenda do candidato, deixando a discussão sobre os grandes temas de lado”, critica Malin, em entrevista à Rádio Nacional. 


 


 


Para ele, a internet desempenharia um papel importante se abrisse uma interlocução efetiva entre os eleitores e candidatos, na qual os políticos se vissem obrigados a responder as dúvidas dos internautas sobre propostas em áreas como emprego, habitação, saneamento, segurança pública e reforma do estado.


 


 


“O acesso à internet aumentou no Brasil, mas não vamos nos iludir. Ainda temos uma média de 7,5 computadores para cada 100 pessoas. Nos Estados Unidos, essa média é 66”, ressalta o jornalista.


 


 


Ainda assim, para ele, é necessário que haja uma preparação de longo prazo para que a internet desempenhe um papel diferenciado nos próximos pleitos.


 


Fonte: Agência Brasil