Site cataloga coleção completa do “Pasquim”

Memória Viva colocará na rede 1.072 edições do histórico semanário de humor. Banco de dados on-line já apresenta o conteúdo de outras publicações importantes do país, como O Cruzeiro.

Enquanto revistas antigas são geralmente malconservadas e pouco lidas nas bibliotecas e acervos, um jornalista/ historiador/webdesigner passa as noites em claro para disponibilizar on-line e gratuitamente edições de O Cruzeiro, Careta e O Malho -publicações que marcaram a história da imprensa no século 20.


 


Criador do site Memória Viva (www.memoriaviva.com.br) há oito anos, Sandro Fortunato prepara uma nova empreitada: um gigantesco banco de dados digital em que tudo o que já foi escrito, citado e desenhado no Pasquim poderá ser localizado por internautas.


 


Com a autorização de Ziraldo, Ivan Cosenza (filho de Henfil), Luiz Carlos Maciel e outros colaboradores do periódico, aos poucos Fortunato transforma em arquivo digital a coleção completa do Pasquim, semanário editado entre 1969 e 1991 e famoso pela contestação à ditadura militar.


 


A coleção foi doada em maio deste ano pelo mineiro Rogério Gomes. Se Sandro mora em Brasília e a coleção estava em Juiz de Fora (MG), não teve problema: pegou um ônibus e em menos de 24 horas trouxe para seu apartamento em Brasília cerca de 300 quilos de jornal -mais de mil exemplares.


 


“Cheguei à rodoviária com 16 sacos de lixo lotados. O motorista me disse: “Olha, você precisa transformar isso tudo em quatro volumes. Dois deles você tem direito a levar, o menor eu vou te cobrar, e o quarto eu finjo que não vi”.”


 


Depois da “travessia”, a coleção começa a chegar à internet na semana que vem, no dia 4 de setembro, com os 50 primeiros números digitalizados.


 


Carioca de 34 anos, Fortunato já viveu no Rio, em Natal, em Brasília. Embora dedique a maior parte de seu tempo ao Memória Viva, trabalha num portal particular para tirar seu sustento. “O Memória Viva nunca teve patrocinador, não cobra por acessos”, diz o jornalista, cuja coleção tem cerca de 9.000 jornais e revistas.


 


“O site surgiu da constatação de que a web brasileira, assim como o próprio país, não costuma preservar sua memória.”


 


No início, a página reunia biografias de personalidades da história e da cultura do país. O trabalho com a imprensa só começou em 2002. “Quando precisei de fotos de Juscelino Kubitschek, tive a oportunidade de ter em mãos 40 edições da revista O Cruzeiro“. Em pouco tempo estaria no ar um setor voltado exclusivamente para a revista. Em 2005, o site foi vencedor do Prêmio Ibest de Arte e Cultura e hoje recebe cerca de 2.000 visitas diárias.


 


Direitos Autorais
Para disponibilizar O Pasquim, Fortunato procurou os colaboradores e pediu a liberação do material; mas e quanto à revista O Cruzeiro?


 


“Até hoje existe briga na família do [Assis] Chateaubriand pela fortuna dos Diários Associados, da qual O Cruzeiro fazia parte. Mas a coisa é ainda mais complicada: quando vou publicar uma matéria, o direito é de quem escreveu ou do jornal que publicou? Em relação às fotos, tem o direito do fotógrafo, do veículo e de quem aparece. Ou você faz como eu fiz -vai colocando no ar- ou então não faz nunca.”


 


Fortunato argumenta que seu trabalho é de interesse histórico e sem fins lucrativos. “Se alguém se achar ofendido ou pedir para não publicar algo, tiro do ar na hora”, diz, fugindo da encrenca judicial -nunca foi processado. “Em geral, acontece o contrário: muitos fotógrafos da época entraram no site e ficaram fascinados: “Puxa, obrigado, alguém prestou atenção e preservou no nosso trabalho”.