Roriz X Arruda: xingamentos e acusações na disputa do DF

A divulgação de uma fita com conversa gravada entre o candidato ao Senado, Joaquim Roriz, e o advogado dele, Eri Varela, candidato a deputado federal pelo PMDB, no último sábado (26), movimentou a campanha eleitoral no Distrito Federal. O teor da conve

Na fita que Varela mostrou às pessoas que compareceram à inauguração do seu comitê, Roriz chama Arruda de ''falso, vagabundo e mentiroso''.


 


Eri Varela, advogado há mais de 20 anos do ex-governador e que tem como slogan de campanha ''o advogado de Roriz'', persiste na disputa com Arruda, incentivado por Roriz. Na conversa gravada na fita de 1 minuto e 54 segundos, Varela anuncia que ''vou bater nesse cachorro, viu? Porque o que eu já ouvi o senhor chorando, certo? … Ele vai apanhar de mim… Vou bater…''


 


Arruda lançou-se candidato depois de tentar, sem sucesso, obter o apoio de Roriz – mas apóia a candidatura dele ao Senado. E faz questão de pedir votos para Roriz em seu programa de propaganda eleitoral no rádio e na televisão. Roriz apóia a reeleição da governadora Maria de Lourdes Abadia (PSDB).


 


Farinha do mesmo saco


 


A disputa entre peemedebistas e pefelistas, que já vinham se estranhando desde as negociações para a formaçõa das chapas, piorou com a entrevsita de Varela ao jornal Tribuna do Brasil, na sexta-feira (25), onde faz acusações a Arruda. Em direito de resposta publicado pelo jornal, na edição de sábado, por determinação do Tribunal Regional Eleitoral (PFL), foi a vez de Arruda atacar Varela.


 


Para Eri Varela, em sua resposta, o deputado José Roberto Arruda apenas o ataca, sem responder as denúncias levantadas por ele em sua primeira entrevista, e que precisam ser respondidas para a sociedade do Distrito Federal pelo candidato do PFL.


 


“Ele disse ou não disse aos drs. Paulo Castelo Branco e Carlos Magalhães da Silveira, em 1993, na residência do último, que o ex-governador Joaquim Roriz roubava dinheiro do metrô para fazer campanha eleitoral no Entorno? Ele mentiu ou mentiram os dois ilustres cidadãos?”, indaga Varela.


 


O advogado faz, ainda, outros questionamentos ao candidato do PFL: “O Ministério Público Federal, da seção judiciária de Goiás, propôs ou não, Ação Civil Pública, com restituição ao erário federal, por ato de improbidade administrativa do sr. Arruda e outros?!”, pergunta, acrescentando: “Pois constam dos autos que os recursos financeiros foram desviados e há acusação de que parte desses recursos foram repassados ao então senador José Roberto Arruda”, sustenta.


 


Eri Varela faz outras acusações contra Arruda. Ele questiona o encontro do deputado com os executivos da Philip Morris. E lembra que, no final de março deste ano, em um jantar com aproximadamente 40 empresários, o deputado José Roberto Arruda disse que seria o candidato do PFL ao GDF porque tinha um dossiê implacável contra Paulo Octávio.


 


“O fato foi amplamente revelado pela mídia de Brasília e dito a mim pelo próprio Paulo Octávio, na presença de testemunhas”, afirma Varela. Paulo Octávio é o candidato a vice na chapa de Arruda.


 


Finalmente, Eri Varela garante que está em curso, no Ministério Público do DF, uma investigação na qual há depoimentos, entre eles de um ex-empregado do comitê de campanha antecipada de Arruda, acusando o candidato do PFL de, dentre outras coisas, utilizar-se de servidores públicos e recursos financeiros sem origem comprovada.


 


“Seria bom se o candidato Arruda comparecesse ao Ministério Público e esclarecesse e desmentisse tudo. Assim poderia falar à sociedade do DF que não fez caixa dois, nem campanha antecipada”, argumenta Eri Varela.


 


Silêncio da mídia


 


A disputa entre dois dos principais candidatos no Distrito Federal não despertou interesse da mídia. A questão foi levantada pelo jornalista Ricardo Noblat em seu blog no Estadão. O jornalista demonstra surpresa no fato de ''os jornais não publicaram uma mísera linha sobre o episódio. O que leva jornais, em plena capital da República, a ignorarem um fato político relevante como esse? Ou não é relevante um ex-governador, em meio a uma campanha, aliado até outro dia de um candidato à sua sucessão, dizer o que Roriz disse sobre Arruda?'', indaga.


 


Para Noblat, os jornais não tem compromisso de servirem à comunidade onde circulam e nem exercem a liberdade de imprensa que defedem. ''Essa é a mais vital das liberdades. Porque sem ela as pessoas desconhecem o que ocorre. E por desconhecerem, exercem mal seus direitos de cidadãos'', critica o jornalista.


 


Ele avalia ainda que ''o que se passa com a imprensa em Brasília se repete com a imprensa da maioria esmagadora dos Estados e ganha dimensões de escândalo principalmente em período eleitoral. Temos uma imprensa atreladada a poderosos grupos políticos e econômicos e que a eles presta vassalagem em primeiro lugar. São eles que a sustentam – não os leitores. É por isso que esse tipo de imprensa pode se dar ao luxo de vender tão poucos exemplares. Ela atrai mais anúncios pelo que deixa de publicar do que pelo que publica''.


 


De Brasília
Márcia Xavier
Com agências


 


Confira abaixo, trechos da conversa entre Roriz e Eri Varela:


 


Roriz – Você viu o programa de ontem?
(Refere-se ao horário de propaganda eleitoral na televisão.)


 


Eri – Não, eu ouvi falar. Estava lá em São Sebastião captando votos…
(São Sebastião é uma cidade-satélite de Brasília.)


 


Roriz – (gargalhada)


 


Eri – Mas vou bater nesse cachorro, viu? Porque o que eu já ouvi o senhor chorando, certo? O que esse filho da puta desse Arruda fez com o senhor… Ele vai apanhar de mim… Vou bater…


 


Roriz – É um vagabundo, né?


 


Eri – É um vagabundo, governador, nunca vi um cidadão tão falso…


 


Roriz – Falso, vagabundo, mentiroso, né?


 


Eri – É…


 


Roriz – Ele diz que vai votar em mim… Vai nada, vai votar num dos outros senadores…


 


Eri – Ele vivia chamando o senhor de coronel do cerrado, de ladrão, que o senhor roubava, tinha conta no exterior… Lembra que uma vez o senhor mandou processar ele?


 


Roriz – Lembro…


 


Eri – É um desgraçado. É o cara mais safado que existe nessa política de Brasília, viu?


 


Roriz – (ininteligível)… na outra ele ganhou e você viu o que o PT fez com os votos… É uma coisa impressionante…


 


Eri – Impressionante. Disseram que até me botaram no meio da confusão…


 


Roriz – Mas não foi ruim pra você não…
(Refere-se ao programa de propaganda do PT na televisão no meio desta semana que baixou o pau em Arruda.)


 


Eri – Não foi ruim não, né?


 


Roriz – Não. O que você falou sobre ele… Precisa apurar muita coisa… Tem muita coisa em aberto que ele é (ininteligível). Falou até de negócio… Falou até daquela questão de… daquela dúvida sobre INCRA, né?


 


Eri – Não é dúvida, não. Tá no depoimento que ele roubou o dinheiro do Incra. Tá tudo com o Sombra guardado. O processo… Temos tudo…


 


(Sombra é o codinome de um ex-assessor do ex-senador Luiz Estevão, cassado por envolvimento com o desvio de R$ 173 milhões para a construção da sede do Fórum da Justiça do Trabalho, em São Paulo.)


 


Roriz – Ele é muito malandro, sem-vergonha…


 


Eri – Ele é malandro, bandido…


 


Roriz – E se governador é uma desgraça…


 


Eri – Ah, isso é uma quadrilha…


 


Roriz – É, é quadrilha mesmo…


 


Eri – Uma quadrilha…


 


Roriz – Se organizaram para roubar o Estado…


 


Eri – É isso… Eu vou bater…


 


Roriz – Manda, manda brasa… Sem dó nem piedade. Eu não tô nem aí, viu? Manda brasa…


 


Eri – Mando. Tá certo, chefe. Um abraço.