A saga do tango, da periferia argentina à elite dos EUA

O tango floresceu no final do século 19 nos bairros mais pobres de Buenos Aires. Mas o tango é hoje não apenas uma marca de identidade para a capital argentina, como também motor de milionários negócios em meio ao crescimento do turismo.

“Quando às vezes você ouve La Cumparsita (tango famoso), sei como palpita teu coração ao recordar que um dia dançaste de lengue (lenço no pescoço) e sem dinheiro, e agora dança o mesmo tango como bacana”, canta o tango Bailarin Compadrito (Dançarino Amigo).


 


A letra, obra do compositor argentino Miguel Bucino (1905-1973), ilustra muito bem como o tango passou de uma desdenhável música popular a algo de refinada sofisticação. O gênero se transformou em uma verdadeira “indústria cultural” que abrange discos, vestimentas, espetáculos, meios de comunicação, dança, restaurantes e hotéis.


 


Segundo diferentes fontes públicas e privadas consultadas pela Efe, o tango movimenta em todo o mundo cerca de US$ 3 bilhões anuais, embora apenas 10% desse número seja gerado na Argentina. “Essa percentagem é pequena, mas em breve captaremos 25%, sobretudo com o crescimento do turismo. O fato de sermos o terceiro país mais barato do mundo influencia radicalmente neste negócio”, diz Gabino Videla, da Darcos, uma empresa argentina que há três anos fabrica calçados especializados para se dançar o tango.


 


Popularização
Videla relata que em poucos anos houve uma verdadeira “explosão”, que levou o tango “às classes média e alta”, principalmente entre os mais jovens, que por US$ 60 compram sapatos para dançar o gênero, com flexibilidade e costuras que evitam escorregões na pista. O fenômeno não é menor para Buenos Aires, onde o tango é o principal produto vendido pelos operadores de turismo aos estrangeiros que visitam a cidade, mais de dois milhões por ano.


 


A capital é sede do Festival Internacional de Tango, que em sua oitava edição, em março passado, reuniu 175 mil pessoas, e do Campeonato Mundial de Tango, que está em sua quarta edição. No ano passado, estiveram presentes 50 mil pessoas ao Mundial, 72% delas estrangeiras, com gastos médios diários de cerca de US$ 100. Por isso os organizadores acrescentaram ao evento a realização de uma feira de produtos relacionados ao tango para comercialização.


 


Entre os quase 30 expositores está Mimí Pinzón, marca de vestidos de alta costura para dançar tango criada pela dançarina Viviana Laguzzi e cuja marca é a sensualidade e a elegância. Os mais apaixonados podem contar até com jóias para brilhar em uma das 70 “milongas” ou salões para dançar ao ritmo do “2 x 4” tradicional do tango em Buenos Aires. “Nos inspiramos no tango e lançamos uma coleção de prataria diversificada, com artigos de cinco a 50 dólares”, diz Lucía Martínez, da Tanguearte Buenos Aires.


 


A oferta se estende aos dez selos fonográficos que editam músicas de tango, a cerca de 20 revistas sobre o gênero, a várias páginas de internet, a uma emissora de rádio e uma outra de televisão, dedicadas exclusivamente ao gênero característico argentino. Para os mais fanáticos há em Buenos Aires hotéis temáticos, 30 escolas de dança, nove museus dedicados ao tango, musicais na mítica avenida Corrientes e cerca de 15 casas de tango nas quais é possível jantar e assistir a um espetáculo por US$ 60 por pessoa.