ETA avisa governo espanhol que trégua está ameaçada

A organização independentista basca ETA divulgou um comunicado em que afirma que o processo de paz no País Basco está ''numa situação de crise evidente'' devido à ''atitude mesquinha dos partidos''.

A posição divulgada na sexta-feira, 18, acusa o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), no poder, e o Partido Nacionalista Basco (PNV) que governa a região, de ''deturpar e esvaziar o processo [de paz] do seu conteúdo''. Para a organização armada estes dois partidos ''tentam construir um processo à medida dos seus interesses e necessidades''.


 


Após uma trégua unilateral, decretada em 22 de março último, a ETA (Euskadi Ta Askatasuna, em basco) considera que os partidos políticos ''não estiveram à altura das suas responsabilidades''.


 


''Em vez de promoverem ações profundas para alimentar este processo e para construir um quadro democrático em Euskal Herria [País Basco], agiram de forma cega para desgastar as posições da esquerda basca independentista'', sublinha o texto.


 


A ETA sublinha ainda que ''a opressão política, militar e econômica'' do País Basco ''prossegue e que os estados francês e espanhol continuam a utilizar toda a sua máquina repressiva contra os pilares que nos transformam num povo''.


 


Obstrução e repressão


 


Por seu lado, o ilegalizado partido Batasuna declarou no sábado, 19, que ''não é a ETA nem a esquerda abertzale [independentista] quem coloca obstáculos ao desenvolvimento do processo de paz, mas a atitude obstrucionista e repressiva do Estado espanhol e do PSOE que não estão à altura das circunstâncias''.


 


Em uma coletiva de de imprensa, o porta-voz desta formação política, Joseba Permach, afirmou que, perante a sociedade, é hoje claro quem ''nega a palavra e a decisão'' dos bascos.


 


Em resposta ao governo de Zapatero, Permach observou que o comunicado da ETA não estabelece qualquer preço político para a paz, mas tão só exige ao PSOE que desista da sua ''estratégia repressiva'' contra a esquerda independentista e impulsione um ''processo de diálogo político''.


 


Permach acusou os socialistas espanhóis de adiarem a constituição da mesa dos partidos ''por interesses eleitorais e particulares'' e criticou o PNV por ser incapaz de um exame ''autocrítico'' e de manter uma atitude ''totalmente tíbia'' face às agressões à esquerda independentista por parte do Estado e do PSOE com quem colabora.


 


Manifestação pela autodeterminação


 


Milhares de pessoas, entre elas uma dezena de dirigentes do partido clandestino Batasuna, braço político do ETA, participaram nesta sexta-feira de uma manifestação em defesa da autodeterminação do País Basco, autorizada na quinta-feira pela Justiça espanhola.


 


Em meio a um grande aparato de segurança, cerca de 15.000 pessoas, segundo um correspondente da AFP em Bilbao, participaram da manifestação, na qual estiveram presentes vários dirigentes do Batasuna.


 


Encabeçada por uma enorme ikurriña (bandeira basca), seguida pelas bandeiras de Palestina e Líbano e uma faixa azul com o lema “Euskal Herriak.Autodeterminazioa” (Autodeterminalção para o País Basco), a marcha transcorreu em calma e sem que fosse registrado qualquer incidente, em uma tarde chuvosa.