Histeria policial provoca caos no Reino Unido

Centenas de milhares de passageiros já foram afetados pelas medidas de exceção adotadas desde quinta-feira (10/8), no aeroporto de Heathrow, em seguida à revelação de descoberta de um suposto complô terrorista.

O anúncio feito pelas autoridades policiais de que tinha sido desmantelado um suposto plano terrorista para fazer explodir sobre o Atlântico vários aviões comerciais, semeou o caos no aeroporto Heathrow, um dos mais movimentados do mundo, que ficou fechado durante três horas, afetando a maioria dos aeroportos europeus.


 


Milhares de passageiros, sujeitos a controles minuciosos, amontoaram-se nas instalações aeroportuárias, formando longas filas de espera e provocando demorados atrasos que obrigaram o cancelamento de boa parte dos vôos.


 


No domingo, Heathrow voltou a ficar perto da paralisia total e os cancelamentos mantiveram-se na segunda-feira, apesar de o nível de alerta ter sido baixado durante a madrugada, permitindo-se aos passageiros levarem alguma bagagem de mão para os aparelhos. Os líquidos continuavam, no entanto, a ser proibidos, à exceção de medicamentos prescritos e do leite para bebê, que deveria ser provado pelo acompanhante antes do embarque.


 


Todavia, o ministro britânico do Interior fez questão de sublinhar que “a redução do nível de alerta não significa que a ameaça desapareceu”. Insistindo na estratégia de informativa seguida desde o início da crise, John Reid declarou que “as pessoas precisam de saber que pode haver indivíduos em liberdade capazes de preparar atentados contra o Reino Unido”.


 


Clima de medo


 


Desde há um ano que o Reino Unido mantém em vigor o nível de alerta “grave”, o penúltimo da escala, adoptado em seguida aos atentados de 7 de julho de 2005 nos transportes públicos londrinos, que fizeram 56 mortos e 700 feridos.


 


A passagem para o alerta máximo (“crítico”) e a histeria dos responsáveis policiais na gestão da atual crise suscitaram dúvidas e críticas na opinião pública, como até a feita pelo conservador Finantial Times. Em editorial publicado na sexta-feira (11/8), o diário não hesita em qualificar as declarações da Scotland Yard como “alarmistas”, mesmo admitindo a existência de uma ameaça real.


 


Comentando o anúncio feito pela polícia de que teria sido desmantelado um plano para “um assassinato em massa numa escala inimaginável e sem precedentes”, o jornal observa que “jornalistas — e terroristas — são perfeitamente capazes de disseminar hipérboles sem a ajuda da polícia. A resposta mais poderosa ao terrorismo consiste em não aterrorizar”. “Mesmo os piores atos terroristas fazem estragos maiores com reações histéricas”, conclui o editorialista, que acusa ainda as autoridades de terem perdido o “sentido das proporções”.


 


Polícia pouco convincente


 


Alguns outros testemunhos, divulgados no site da emissora britânica BBC, manifestam ceticismo em relação à dimensão da ameaça: “A táctica utilizada parece mais uma forma de manter o medo na opinião pública dos que uma real tentativa de impedir uma atrocidade”, considera um internauta.


 


Já o site Rebelion observa que no momento da detenção dos 24 “perigosos” terroristas não foi disparado um só tiro, nem aqueles ofereceram resistência ou sequer tentaram suicidar-se.


 


De resto, é o próprio jornal francês Le Monde a assinalar, no domingo, que, “apesar dos interrogatórios e numerosas buscas efetuadas, nenhum dos suspeitos — um dos quais já libertado — foi inculpado e as autoridades tardam em apresentar provas convincentes a uma opinião pública cada vez mais desconfiada”.


 


Ainda com a memória viva das recentes derrapagens da polícia na luta antiterrorista (veja-se o caso do assassinato de Jean Charles Menezes), os britânicos não podem deixar de estranhar, num momento em que o país se encontra em alerta máximo, que o primeiro-ministro Tony Blair continue descansadamente de férias a bordo de um luxuoso iate ao largo das ilhas Barbados.