Valor mostra como e por que o ''agronegócio'' é Alckmin

O jornal Valor Econômico desta segunda-feira (21) faz um interessante cálculo econômico-eleitoral: ele divide o Brasil entre os seis Estados onde há domínio do ''agronegócio'' (ou, na terminologia marxista, o ''latifúndio aburguesado'') e as outr

Segundo o autor, César Felício, a soja, o milho e o arroz ''sustentam a candidatura  Geraldo Alckmin''.  Ele analisa: ''Nos seis Estados em que o agronegócio é o pilar da economia local, o cenário da sucessão é outro em relação ao quadro nacional: Alckmin lidera nas pesquisas locais no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Goiás. Perde para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva por 6 pontos percentuais no Mato Grosso e por 7 pontos percentuais no Paraná. Nos demais Estados do país, com exceção de São Paulo, Lula ganha''.



''Lideranças rurais'' X agricultura familiar



Felício admite implicitamente que a peculiaridade não se deve a um fator conjuntural, pois ''o  desempenho de Lula nestes Estados sempre foi abaixo do que consegue nacionalmente''. Argumenta porém com a crise do setor ao apontar que nunca o retardamento ocorreu ''na proporção que se avizinha''.



Conforme o artigo, ''as lideranças rurais [sempre a pudicícia na terminologia] se afastaram do governo por entender que Lula as prejudicou na luta por espaço político com a agricultura familiar, beneficiada com a triplicação dos recursos para o financiamento dos pequenos agricultores (Pronaf) e a aceleração da reforma agrária, programas do Ministério do Desenvolvimento Agrário''.



Saudades de Fernando Henrique



''Antes tínhamos comando unificado. Agora os problemas do agronegócio são discutidos em quatro ministérios: Agricultura, Desenvolvimento Agrário, Pesca e Meio Ambiente. Perdemos força para lutar por verbas e densidade para fazer valer pontos de vista em questões como transgênicos, comércio exterior e outros'', diz o presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Márcio Freitas, que fala em nome dos grandes e não esconde as saudades do governo Fernando Henrique Cardoso.



Porém ''o mais novo fantasma entre os dirigentes rurais — relata o jornalista –é a revisão dos índices de produtividade para a desapropriação para reforma agrária, que deve ser anunciada depois das eleições''. Se os índices vierem altos, os produtores terão pouca margem para reduzir a produção sem correr o risco de serem enquadrados em latifúndio improdutivo. ''Será uma espada permanente em nossa cabeça'', diz o presidente da Associação Brasileira do Agronegócio, Carlo Lovatelli, um diretor do grupo Bunge.



Usineiro elogia Lula mas não vota nele



Já o presidente da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo, Eduardo Carvalho, reconhece que ''em 30 anos nunca houve um clima tão favorável para a nossa atividade. O Lula tem sido o mais atuante embaixador do álcool no exterior, eficiente e empenhado.'' Na hora de falar em votos, porém, ele diz que ''é uma incógnita'' e fala do prestígio de Alckmin junto aos usineiros.



''A articulação entre Alckmin e os dirigentes é maior, graças à rejeição a Lula e à proximidade de seus coordenadores de campanha com a área. O coordenador geral de programa de governo, João Carlos de Souza Meirelles, foi secretário da Agricultura. O coordenador adjunto, Pratini de Moraes, foi ministro do setor no governo Fernando Henrique e o coordenador executivo, Antonio Marcos Buainaim, é estudioso do agronegócio na Unicamp. Desde o início da campanha, Alckmin fez um roteiro pelas principais feiras agropecuárias do país, expondo-se como candidato do setor produtivo. Já com Lula a aproximação é menor, não tendo havido um único encontro com as entidades do setor este ano'', aponta o artigo.



Um estudo mais abrangente mostraria com certeza outros formatos e outras áreas de influência conservadora dos grandes senhores de terras em matéria de política. Indicaria também, provavelmente, que a modernização do latifúndio, com a universalização do predomínio capitalista no campo, dificilmente deixa algum vestígio na hora do socialk e do político. O mesmo latifundiário moderno que lança mão de um banco de sêmen congelado na hora de reproduzir seus rebanhos, confessar ter saudades da escravidão quando fala das relações com seus trabalhadores.


 


Veja o texto do Valor em http://www.valoronline.com.br/valoreconomico/285/primeirocaderno/especial/Alckmin+resiste+nos+redutos+agricolas,,,59,3855139.html



Com informações do Valor Econômico