Reajustes de salário têm o melhor 1º semestre em dez anos

Das 271 negociações de reajuste salarial no primeiro semestre deste ano, 185 superaram a inflação acumulada nos 12 meses anteriores à data-base. Outras 79 conseguiram pelo menos igualar a inflação. E apenas dez ficaram abaixo do índice inflacionário. O da

O órgão de assessoria sindical, que vem de completar meio século, aponta que “Desde 2004, os resultados das negociações coletivas de trabalho seguem trilhando uma linha progressivamente favorável à recuperação das perdas salariais” (veja o gráfico ao lado). Agrega que esta é “a maior marca já atingida num primeiro semestre desde 1996, quando se iniciou esta série de estudos”. Mas observa que o comportamento do semestre passado é “muito próximo ao identificado no último semestre de 2005”, deslocado agora para a segunda colocação na série histórica.



O fator queda da inflação



E prossegue o estudo: “Em comparação com igual período de 2005 – até então o primeiro semestre mais favorável – houve um crescimento superior a 10 pontos percentuais na proporção de reajustes capazes de ao menos repor as perdas inflacionárias acumuladas nos 12 meses anteriores. As negociações tiveram como característica, ainda, o maior número relativo de aumentos reais de salários já registrado num primeiro semestre. Somaram 82% os casos de ganhos acima da inflação acumulada em cada data-base, marca muito superior aos 67% assinalados no mesmo período de 2005 – até então o percentual mais expressivo de todos os primeiros semestres analisados – e praticamente o mesmo verificado nos últimos seis meses de 2005 (83%), o maior já registrado”. A negociação de reajustes salariais tem sido favorecida pelos baixos patamares das taxas de inflação, que seguem em declínio: de pouco mais de 5% nos 12 meses anteriores à data-base referente a janeiro, ela baixou para 2,75% em junho. O Dieese observa que isso propiciou, “inclusive, a conquista de aumentos reais de salários”.


O índice inflacionário usado no estudo é o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), do IBGE. O Dieese calcula um índice próprio, o ICV (ndice de Custo de Vida), mas esclarece que, caso este seja usado, “o cenário das negociações salariais em 2006 mostra-se ainda mais favorável aos trabalhadores”. Quando se adota o ICV-Dieese como deflator, 97% das negociações resultaram em ganhos reais de poder aquisitivo dos salários.



“Ganhos significativos”



Do total de categorias que negociaram reajuste com aumento real de salário, mais de 40% tiveram reajustes que superaram o INPC em até 1%; cerca de 30%, entre 1% e 2%; 17%, entre 2% e 3%; e 9% delas ultrapassaram em mais de 3% este índice. O texto do Dieese observa que “esses percentuais, em um contexto de baixa inflação, representam ganhos significativos no poder aquisitivo dos trabalhadores”.



Os acordos mais favoráveis, segundo o Dieese, aconteceram no setor do comércio,  onde 91% das categorias obtiveram aumento real. Na indústria, esse percentual foi 84% e nos serviços 77%.



O setor de serviços mostra também a maior proporção de negociações salariais que previram unicamente a reposição da inflação acumulada: 18%, contra 11% na indústria e 7% no comércio. Os reajustes insuficientes para cobrir a inflação corresponderam a 5% do total nos serviços e 2% na indústria e no comércio.



A geografia dos aumentos



O Dieese registra “discrepâncias mínimas” na distribuição geográfica dos reajustes. A freqüência dos ganhos reais variou de 79% no Sudeste a 85% no Nordeste. Os casos de perdas oscilaram entre 2% (Nordeste) e 6% (Sul).



Os reajustes escalonados de salários, beneficiando os trabalhadores que ganham menos, se mantiveram estáveis — 12% do total das negociações. O Dieese faz a defesa desse procedimento, e não do abono salarial, afirmando que ele reflete “a luta dos sindicatos para garantir maiores aumentos para salários mais baixos”.



As considerações do Dieese



No último capítulo do estudo, o órgão cinquentenário faz algumas “considerações finais” sobre os motivos dos aumentos reais.



O texto constata que, “além dos esforços empreendidos pelo movimento sindical na busca de ganhos salariais, o crescimento da economia nacional, embora ainda insuficiente para suprir as necessidades que se colocam, tem colaborado para a realização de negociações vantajosas para os trabalhadores nos últimos três anos”.



“Vários são os fatores que contribuíram para este bom desempenho, como a expansão do mercado consumidor interno, estimulada pela maior oferta de crédito, pelo efeito dos programas sociais dos governos estaduais e federal e pelo impacto dos últimos aumentos reais do salário mínimo oficial”, observa.



“A redução progressiva da taxa de juros básica – apesar de os juros reais praticados no país permanecerem entre os mais altos do mundo – e a elevação dos investimentos produtivos na iniciativa privada também influenciam a composição deste cenário”, prossegue.



As considerações mencionam ainda a realização da Copa do Mundo, a proximidade das eleições e a manutenção do crescimento da economia internacional como “estímulos importantes para o aquecimento das atividades econômicas”.



“Entretanto, a despeito dos resultados obtidos nas negociações coletivas empreendidas pelo movimento sindical neste contexto favorável, deve-se considerar que uma parte expressiva dos trabalhadores brasileiros não tem compartilhado desses benefícios por estar premida pelo desemprego, pela informalidade e pela alta rotatividade da mão-de-obra no mercado de trabalho”, conclui o Dieese. 



Para conhecer o relatório completo do Dieese, com numerosos gráficos e tabelas, clique em http://www.dieese.org.br/esp/cju/estPesq23BalancoNegociacao1Sem.pdf.