Kjeld Jakobsen: Hezbolá amplia seu prestígio no Líbano

Apenas cinco horas após a interrupção das hostilidades, soldados israelenses mataram um cidadão libanês que suspeitavam ser membro do Hezbolá. Este fato reforça as preocupações e reservas que o governo libanês apresentou diante da Resolução 1701 da ONU, q

O governo israelense, embora tenha aceitado a resolução, declarou que se reserva o direito de bombardear qualquer veículo em território libanês suspeito de transportar armas e de atirar em pessoas que, na sua avaliação, possam representar possíveis ameaças.


 


A região Sul e o Vale do Bekaa sofreram bombardeios severos durante o domingo, assim como os subúrbios de Beirute. O bairro de Haret-Hreik, muito bombardeado ao longo das ultimas semanas, e que nós visitamos, voltou a ser bombardeado no domingo por 20 disparos de mísseis, apenas duas horas depois que deixamos o local.


 


As últimas bombas que ouvimos em Beirute foram hoje (segunda-feira) às 6h30 da manhã, uma hora e meia antes do horário acordado para interrupção das hostilidades. Alem da paz não estar estabelecida pela resolução, ha também as pendências da devolução de todos os territórios ocupados, bem como das necessárias reparações de guerra. Calcula-se que a destruição da infra-estrutura, das residências e do meio ambiente já atinja um valor de US$ 6 bilhões. Isto sem falar do valor impagável das vidas perdidas e dos feridos.


 


Há ainda a suspeita, não confirmada, da utilização por Israel de armas proibidas pela Convenção de Genebra, como obuses carregados com urânio empobrecido, o que contaminaria áreas e pessoas por muito tempo.


 


Apesar da resolução ambígua, ficou claro que Israel e EUA não atingiram seus objetivos de eliminar militarmente o Hezbolá e retornar a divisão política e fraccionista do Líbano. O Hezbolá ampliou seu prestígio como partido político, como parte do governo libanês e como o único grupo capaz de resistir ao invasor israelense. A ampla maioria da população e das forças políticas se uniram em torno desta visão. Os EUA desgastaram ainda mais sua imagem, inclusive junto a classe media e aos libaneses mais conservadores, pelo apoio incondicional dado a Israel, inclusive postergando o cessar fogo e vetando qualquer condenação ao governo israelense na ONU.


 


Como o presidente do Líbano, Emile Lahoud, resumiu para a delegação: “Apesar de tudo que fizeram, não nos subjugaram. Estamos mais unidos agora e Israel pensará duas vezes antes de nos atacar de novo”.


 


Além da preocupação em construir uma paz permanente e que passa necessariamente pela retirada de Israel do território libanês e pela constituição de um Estado Palestino independente e soberano, há também a questão de mais de um milhão de refugiados devido aos ataques ao Líbano, entre eles mais de cem mil trabalhadores emigrantes do Sri Lanka e das Filipinas.


 


Os refugiados não têm nem casa e nem emprego para onde voltar. Este é o tema mais urgente a ser tratado, e a comunidade internacional precisa ajudar e contribuir politicamente, pressionando Israel e EUA para abandonarem seu intento de desenhar um novo Oriente Médio de acordo com os seus abomináveis e mesquinhos interesses. É necessário que os crimes de guerra cometidos levem os governantes de Israel a prestar contas junto aos tribunais internacionais.


 


Kjeld Jakobsen é formado em Relações Internacionais. É presidente do Instituto Observatório Social e foi Secretário Municipal de Relações Internacionais de São Paulo na gestão de Marta Suplicy, e Secretário de Relações Internacionais da Central Única dos Trabalhadores (CUT).