Leomar Quintanilha: ''É preciso coragem para mudar!''

O candidato ao governo do Tocantins pela coligação Mudança Pra Valer (PCdoB/PT), Leomar Quintanilha, foi entrevistado terça-feira pela TV Anhanguera, de Tocantins. Ele defendeu políticas de industrialização e disse que rompeu com o ex-governador Siquei



Leia a íntegra da entrevista de Leomar à emissora:



TV Anhanguera – O senhor tem uma história política ligada a Siqueira Campos por um bom tempo. Depois rompeu com ele, aliou-se a Marcelo Miranda, atual governador do Estado. E agora enfrenta os dois nessa corrida pelo Palácio Araguaia, pelo Partido Comunista do Brasil. O que aconteceu, que provocou essa ruptura e essa mudança tão radical?


Leomar Quintanilha – Foi a percepção da necessidade de mudança que há no Tocantins. Aliás, é preciso coragem para mudar. Mudar para atender as aspirações e o sentimento da população. Não é possível que um Estado com 17 anos, e que desses 17 anos, 14 anos governado por duas famílias, as aspirações e o sentimento da população continuem sem atendimento. Ainda há fome no Tocantins, a qualidade do ensino é extremamente precária, o desemprego assombra a maioria dos lares tocantinenses, o Estado está perdendo sua capacidade de produção… Então, é preciso mudar. É preciso mudar e nós estamos colhendo esse sentimento de mudança da população. É com essa proposta, com esse sentimento de apresentar uma proposta alternativa de mudanças para o Estado que nós estamos hoje aqui, como candidato.



TV – Então, candidato, sua candidatura é realmente uma opção a mais para o eleitor, não seria construída para prejudicar ou beneficiar os dois principais candidatos…
Leomar – Absolutamente! Eu estou concorrendo pra valer. Eu quero ganhar as eleições. Eu quero oferecer à população do Tocantins a oportunidade de mudanças. A oportunidade de atendimento das suas necessidades básicas, o que não estou vendo com as propostas até agora apresentadas, tanto da UT1 quanto da UT2.



TV – Agora, candidato, sua candidatura não foi consenso nem entre integrantes de seu partido, nem no Partido dos Trabalhadores. Na verdade, provocou uma certa insatisfação em alguns integrantes e até nas lideranças desses partidos. Como o senhor está lidando com isso, trabalhando com essas pessoas e essas circunstâncias?
Leomar – Olha, a democracia prevê divergências de pensamentos. Mas há um ajustamento do sentimento, do propósito dos partidos que se coligaram. PT e PCdoB têm um propósito comum, que é a proposta que vamos apresentar, a alternativa para o povo tocantinense. E eu estou seguro de que a conjugação dos esforços dos líderes maiores desses partidos haverá de trazer para a população do Tocantins essa proposta que a população espera.



TV – O senhor foi do PFL, do PMDB e agora está no PCdoB. O que o senhor acha da fidelidade partidária?
Leomar – Eu acho que a estrutura legislativa no País precisa realmente mudar para que a figura do partido volte a recuperar aquela substância que existia antes, e não fique refém da discussão de idéias individuais. Eu acho que a fidelidade é importante, e é preciso, não só a fidelidade, mas de uma mudança ampla, mais ampla, na política partidária seja necessária.



TV – Um dos anseios da população tocantinense é pelo emprego e isso é apontado pela pesquisa Serpes. Que propostas o senhor tem para esse problema, do desemprego aqui no Estado?
Leomar – Eu acompanho com muita tristeza a frustração e esse sentimento que faz com que tanto tocantinense viva apreensivo, porque o desemprego é efetivamente um fantasma que assombra a maioria dos lares do Tocantins. E o que eu vejo? Nós ficamos com uma preocupação estruturante e esquecemos as necessidades maiores das pessoas. E o emprego, um posto de trabalho, exatamente, é uma delas. Veja, como é que vamos recuperar a capacidade de emprego no Estado? O Estado está perdendo a sua capacidade de produzir o que consome. Nós estamos importando arroz, feijão, farinha de mandioca…



TV – É justamente na questão da terra que eu gostaria de entrar. O senhor é agropecuarista, mas está no PCdoB, que defende, por exemplo, a reforma agrária. Qual a sua posição com relação à reforma agrária e até sobre a distribuição de terra para produção?
Leomar – Eu sempre defendi a reforma agrária. Não posso acreditar que um país com mais de 8 milhões de quilômetros quadrados, a falta de terra seja um problema. É melhor redirecionar esse projeto de reforma agrária e procurar oferecer aos assentamentos existentes, que refletem esse sentimento de ter uma oportunidade e um pedaço de terra para trabalhar, oferecer a condição àquele brasileiro, àquele tocantinense, que está assentado, oferecer a condição adequada e justa para trabalhar. Com uma assistência técnica adequada, um financiamento, um crédito com juros baixos, a orientação adequada para plantar, para que eles possam produzir e ter a forma de extrair da terra a subsistência para a sua vida.



TV – Como, então, desenvolver a indústria do Estado, onde a produção é tão incipiente…
Leomar – Essa que é a grande preocupação. É uma das propostas nossas. O Estado precisa ser industrializado. Nós precisamos investir em inovação tecnológica, nós precisamos investir produção científica…



TV – Mas como investir, candidato? Trazendo dinheiro…
Leomar – Nós precisamos criar mecanismos, reduzindo impostos, criando incentivos, fortalecendo as empresas existentes e atraindo indústrias para o Estado. Não tem cabimento… Uma das atividades econômicas mais importantes do Tocantins é a pecuária. Nós abatemos aqui mais de 2 milhões de cabeça de boi. E, no entanto, vai a nossa carne, vão todos os subprodutos in natura embora, gerando riqueza e gerando trabalho em outros Estados, enquanto nosso o povo está aqui, precisando ganhar dinheiro e de ter um posto de trabalho. Por exemplo, o couro do boi poderia estar sendo industrializado no Tocantins, alimentando indústrias calçadistas, coureiras, de malas. O sebo do boi, como está vendido barato lá fora, poderia estar sendo utilizado como matéria-prima para sabão, sabonete, cosmético, biodiesel… Enfim, estabelecendo um vigoroso programa de industrialização do Estado para gerar riquezas aqui e dar oportunidade às pessoas de ganharem honestamente a sua renda.



TV – Agora uma de suas experiências administrativas é à frente da Federação Tocantinense de Futebol. O senhor acha que essa pode ser uma referência para o eleitor da sua administração, da sua forma e seu modelo de administrar?
Leomar – Você há de convir que é extremamente positiva a atividade da Federação Tocantinense de Futebol. O futebol no nosso Tocantins reflete a situação econômica do Estado. Nós não temos, no Tocantins, condições de praticar o futebol de resultado que é praticado pelas grandes estrelas nacionais, pelo elevado custo de manutenção dos clubes. Não podemos fazer, embora nós estejamos regularmente organizados para isso, a federação optou por organizar o futebol amador, o futebol de categorias de base, para dar chance e oportunidade um número cada vez maior de jovens e crianças a praticar essa modalidade esportiva tão extraordinária, que contribui, com isso, para a formação de nossos jovens, desviando dos descaminhos da vida.



TV – Candidato, apesar disso, o campeonato deste ano, por exemplo, foi considerado inferior aos outros. A média de público de Palmas foi muito ruim, denúncias de acertos de resultados… Como o senhor vê isso?
Leomar – Essa oscilação ocorre com o futebol de qualquer Estado da federação. No entanto, o futebol do ano passado foi o melhor de toda a história do Estado do Tocantins. Isso ocorre. E há questões relacionadas, muito relacionadas, diretamente relacionadas, com a gestão de cada um dos clubes participantes.



TV – O senhor é senador por dois mandatos, desde 1994. Em 12 anos, o senhor apresentou 31 proposições, sendo 12 projetos. Outros candidatos apresentaram 140, 150 proposições. Como o senhor avalia essa participação do senhor no Congresso?
Leomar – Eu entendo que o Congresso, tanto o Senado quanto a Câmara… O País não deve se submeter a isso, a ter uma fábrica de leis em série, como uma fábrica de automóveis. Não devemos ter a competência de legislar e produzir leis consistentes, duradouras, que possam fazer a população entendê-las e obedecê-las. E não ficar fabricando leis todos os dias. Então, eu acho que não é a quantidade de leis que referenciar o meu trabalho. E acho também que, muito mais importante do que fazer leis, é acompanhar a execução orçamentária. Essa, sim, diz respeito aos interesses maiores do povo brasileiro, do meu Estado do Tocantins e do próprio País.



TV – Isso serve como referência, na sua opinião? Esse acompanhamento do orçamento?
Leomar – Naturalmente, naturalmente. Veja, eu vi um comentário antes, com relação às pesquisas (a TV Anhanguera tinha divulgado no bloco anterior o resultado da pesquisa Serpes/Jornal do Tocantins – veja no caderno do Tocantins no Vermelho), quando eu apareço nas pesquisas com 1%. Acho que a pesquisa reflete o momento, e a campanha, efetivamente, está começando hoje. Eu já fui votado várias vezes. Na última eleição, aqui no Tocantins, eu fui o mais votado. A pesquisa nunca apontou isso! Eu tive 310 mil votos! 310 mil tocantinenses confiaram em mim e eu dignifiquei cada voto que recebi, eu honrei, eu trabalhei muito, eu cumpri o meu papel.



TV – Aproveitando essa questão da pesquisa que o senhor já está comentando, o senhor pode arrebanhar, por exemplo, a preferência do eleitorado que já está demonstrada na pesquisa pela reeleição do presidente Lula, que está com 61% e o senhor com 1%. O senhor acha que pode arrebanhar essa preferência pelo candidato Lula para o senhor também?
Leomar – Naturalmente. A campanha está começando hoje. Eu convido a todo tocantinense para acompanhar os programas de televisão, para acompanhar as nossas propostas, e vocês poderão constatar que as nossas propostas são as propostas que vão oferecer alternativas. As propostas que estão aí já governaram, em 17 anos do Tocantins, 14… Se tiver tudo bem, vote numa delas. Se você quiser mudanças, experimente quem ainda não governou. Quem tem uma proposta alternativa, quem tem uma proposta modernizante para o Estado, quem quer promover a industrialização, quem quer considerar o ser humano como prioridade número um, cuidar da educação, da formação da nossa gente, cuidar das nossas crianças, apoiar os nossos jovens… É isso que o povo quer discutir.



TV – Mas o presidente Lula, no lançamento da candidatura dele, o governador Marcelo Miranda também estava. O senhor acredita que o presidente, afinal, vai estar no palanque de quem? Do senhor ou do Marcelo?
Leomar – Estou aplaudindo todos que queiram votar no presidente Lula. Estou torcendo, estou apoiando o presidente Lula, há uma interação entre minha proposta e a proposta dele, eu apoiei o governo do presidente Lula todos os dias no mandato dele. Eu contribui de forma efetiva para que ele pudesse implantar programas de Estado muito interessantes para a população, como o Bolsa Família, como a Luz para Todos, e eu espero fazê-lo novamente aqui no Estado.