Ataque de Israel mata 56 civis libaneses; 37 são crianças

A aviação israelense atacou, neste domingo (30/7), o vilarejo de Qana, no sul do Líbano, matando 56 civis – sendo 37 crianças -, que estavam num edifício utilizado como abrigo. Os bombardeios foram o estopim para que a imensa maioria da opinião pública

Dezenas de prédios residenciais foram destruídos. Emissoras libanesas e árabes mostraram várias imagens de crianças agonizando inertes entre os escombros, quase todas de pijama. É provável que todas tenham sido surpreendidas durante o sono pelos bombardeios. ''Filme isto para os europeus e os americanos. É isto a civilização que nos trazem?'', gritava para as câmeras da emissora ''LBC'' um homem com uma menina morta em seus braços. ''Isto é um açougue, um açougue'', gritavam mulheres da cidade, situada a cerca de 20 quilômetros de Tiro.


 


Manifestações pipocaram logo pelas ruas de Beirute. ''Todos somos a Resistência'', gritavam os manifestantes. Muitos deles carregavam cartazes com mensagens como ''Que culpa têm as crianças?'' ou ''Suas bombas inteligentes matam crianças''. Milhares de pessoas se concentraram em frente à sede a ONU em Beirute, um edifício moderno, envidraçado e rodeado por muros de concreto. Apesar da proteção, os manifestantes invadiram o prédio e destruíram vidros, palmeiras, computadores, cadeiras e mesas.


 


O primeiro-ministro libanês, Fouad Siniora, ao saber das notícias do bombardeio em Qana, cancelou a visita que a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, faria ao Líbano. ''Não há espaço neste dia triste para nenhuma discussão que não seja um cessar-fogo imediato e incondicional, assim como uma investigação internacional dos massacres israelenses no Líbano já'', disse Siniora aos jornalistas.


 


Ainda no calor da hora – e num gesto de extrema insensibilidade -, o primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, disse que o Exército, por meio de panfletos, tinha avisado os moradores de Qana para deixar a cidade. O motivo era justamente a iminência de bombardeios. Israel alega que o Hisbolá utilizava a localidade como base de operações, mas não há provas nesse sentido até o momento.


 


Reação internacional
O ministro da Saúde do Líbano, Mohammed Jalifeh, afirmou que os 19 dias de ataques israelenses já causaram 750 mortes – cem das quais dizem respeito a pessoas desaparecidas sem mais chances de serem encontradas com vida. Até o governo dos Estados Unidos, aliado histórico de Israel, revelou-se embaraçado. O governo Bush condenou as perdas civis – mas não pedirá cessar-fogo imediato ao Estado de Israel. Em nota, a Casa Branca se limitou a dizer que Condoleezza Rice, estava trabalhando para arregimentar as condições para um cessar-fogo ''sustentável'' logo.


 


Já o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, em visita oficial ao Irã, pediu à comunidade internacional que intervenha para deter o que chamou de ''loucuras de Israel''. ''O que Israel faz é terrorismo e fascismo. Peço ao mundo que enfrente estas loucuras de Israel'', disse. Chávez acrescentou que o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, deve estar em contato com o diabo, já que ''nenhum país pôs a humanidade tantas vezes em perigo como os Estados Unidos têm feito''.


 


O rei Abdullah, da Jordânia, primeiro líder árabe a reagir ao ataque aéreo israelense contra o povoado, disse que foi ''um crime hediondo'' que constituiu ''violação flagrante de todos os estatutos internacionais''. O governo argelino emitiu um comunicado sobre o massacre, no qual diz que Israel ''se afundou moral e politicamente'' e reivindica um cessar-fogo incondicional ''que possa abrir perspectivas de uma paz justa, duradoura e global no Oriente Médio''.


 


Em comunicado, o Hisbolá afirmou que ''esse massacre bárbaro, que representa uma mudança grave e perigosa no curso da guerra, pode levar a reações contra o mundo cúmplice, que deve assumir suas responsabilidades. Esse massacre horrível, como outros, não permanecerá impune''.


 


Nota do presidente francês, Jacques Chirac, informa que seu país ''condena essa ação injustificável, que mostra mais do que nunca a necessidade de um cessar-fogo''. Palavras semelhantes foram usadas pelo alto representante da União Européia para a Política Externa, Javier Solana: ''Nada poderia justificar o que houve''.


 


O presidente do Egito, Hosni Mubarak, classificou como ''irresponsável'' o bombardeio. Na nota, Mubarak voltou a pedir um imediato cessar-fogo na guerra não-declarada entre Israel e o Hisbolá. Já o presidente palestino, Mahmud Abbas, acusou Israel de ter cometido um crime em Qana, e pediu à ONU que instaure um cessar-fogo imediato.


 


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