Brasil e EUA pedem esforço para salvar Rodada Doha em 7 meses

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, se reuniu neste sábado (29/7), no Rio de Janeiro, com a representante de Comércio dos Estados Unidos, Susan Schwab, em uma tentativa de lançar um esforço para salvar a Rodada Doha da OMC (Organização Mundi

“Alguma espécie de avanço forte terá de ocorrer dentro de cinco a sete meses para que nós possamos ter uma perspectiva de terminar a rodada em um prazo razoável”, afirmou o chanceler brasileiro. De acordo com Amorim, um avanço desse tipo “não cai do céu” e depende de novas reuniões como a realizada neste sábado para a “troca de impressões de maneira exploratória” sobre o que deu errado em Genebra.


 


Na opinião do ministro, essas reuniões abririam caminho para a realização de um “encontro mais estruturado” até o fim deste ano com o objetivo de solucionar os impasses que impedem a conclusão da Rodada Doha de liberalização do comércio.


 


Compromisso
A representante de Comércio do governo americano fez coro às declarações de Amorim e disse que Brasil e Estados Unidos lideram um esforço para “reviver” a Rodada Doha. “Nossos governos acreditam que essa é uma rodada de comércio multilateral que vale a pena salvar por seu potencial de gerar crescimento, abrir mercados, eliminar e reduzir subsídios distorcivos e, acima de tudo, ajudar a aliviar a pobreza”, disse Susan Schwab.


 


“Brasil e Estados Unidos têm objetivos muito semelhantes nessa rodada, não só para nossas próprias economias, mas também em termos de aspirações geopolíticas para o mundo em desenvolvimento e para o crescimento da economia global”, acrescentou. O governo americano foi apontado como um dos maiores culpados pelo fracasso das negociações em Genebra por resistir em aceitar uma redução substancial dos subsídios agrícolas domésticos.


 


Na reunião deste sábado, no entanto, o ministro Celso Amorim evitou criticar a postura dos Estados Unidos e pediu que outros países da OMC também se mobilizem em busca de soluções para a Rodada Doha. “Seria muito cômodo nos sentarmos e apontarmos culpados”, disse o chanceler brasileiro. “Esse encontro demonstra que nós não estamos fazendo esse tipo de jogo. Nós queremos encontrar soluções e ver como encaminhar essas soluções.”


 


Segunda hipótese
Apesar da tentativa de exibir uma retórica de resgate da Rodada Doha, Amorim e Schwab também tiveram que comentar a possibilidade de fracasso total das negociações de liberalização do comércio na OMC. O chanceler brasileiro reconheceu que o momento é “crucial” para a entidade e disse que há dois cenários possíveis para o futuro do sistema multilateral de comércio.


 


Para o ministro, ou a OMC se consolida como principal foro com a conclusão da Rodada Doha ou perde espaço para negociações bilaterais e regionais e passa a funcionar apenas como recurso para a solução de disputas comerciais. “Essa segunda hipótese é muito ruim para todos”, opinou Amorim.


 


Já a embaixadora dos Estados Unidos associou o pessimismo em torno das negociações da OMC às declarações do presidente do Comitê de Finanças do Senado americano, Charles Grassley. Na última quinta-feira, Grassley afirmou que é contra a renovação de um programa americano que vence no fim do ano e que prevê a aplicação de tarifas menores para a importação de produtos de países em desenvolvimento.


 


Em 2005, as importações americanas por meio desse programa totalizaram cerca de US$ 27 bilhões. Um terço do total foi o resultado da compra de produtos exportados por Brasil, Índia e Tailândia. “Os comentários dele refletem a frustração que todos sentimos pela falta de avanços nas negociações da Rodada Doha”, disse Susan Schwab.


 


“Creio que ele acredita que há alguns países em desenvolvimento avançados que talvez não estejam tão motivados a negociar acordos comerciais recíprocos se tiverem acesso ao mercado americano com tarifas menores”, acrescentou. De acordo com a embaixadora americana, o governo dos Estados Unidos é a favor da extensão do programa, mas planeja fazer uma revisão técnica do sistema de preferências tarifárias para avaliar que países realmente precisam do benefício.