Argentina: como apoiamos o projeto nacional de Kirchner

Nas multifacéticas esquerdas argentinas não faltam partidários do combate sem trégua ao governo Néstor Kirchner, sempre inflamado e às vezes infeccionado. Mas há também os que se proclamam sem rodeio “

Num editorial que escrevemos no mês passado, dizíamos: “Na nossa opinião, a reação de todo tipo iniciou coordenadamente um múltiplo movimento de desgaste do governo kirchnerista. Ela tem um objetivo máximo, evitar a reeleição do presidente, e um mínimo: perder as eleições mas deixar de pé uma oposição de direita mais forte e homogênea que a atual, que posssa entravar a ação do governo na próxima gestão e ganhar em 2011.”

 

“Batalha no terreno das idéias e da política”

 

Agregávamos no final, como conclusão do que fora dito: “Tomemos nota, pois já começaram a vir contra nós: pelo presidente Kirchner, pelo projeto nacional que ele representa, pelos interesses e direitos dos setores populares. Não os subestimemos nem um pouquinho, como disse o grande comandante [Ernesto Che Guevara]. É preciso disputar duramente com eles, em todos os terrenos. Debater com eles, desnudar suas manobras e objetivos. Mostrar que interesses reais se escondem por baixo das roupagens que usam.”

 

“É preciso travar esta batalha no terreno das idéias e da política, fazendo que o povo participe dela. Estamos diante de uma estratégia que pode afetar o presente e o futuro da grande maisoria dos argentinos e aregentinas.”

 

Desde que isto foi escrito até agora, continuaram a se encadear elementos que confirmam o que dissemos sem lugar a dúvidas. O que diz respeito à candidatura de [Roberto] Lavagna [ex-ministro da Economia], nos movimentos no âmbito militar e no empresarial, quanto à segurança pública, etc. É absolutamente atual que devamos combater em defesa do projeto nacional do presidente.

 

Entrentar a direita será a única ação?

 

Pois bem. Mas enfrentar a direita, que vai se desenvolvendo aberta ou sorrateiramente, será a única ação que compete às forças populares visando preservar a possibilidade de construir um país melhor?

 

Acreditamos que, sim, o confronto com a reação é fundamental e constitui a essência de nosso pensamento político. Porém nosso papel e nossa obrigação não se esgotam aí.

 

É obrigação de todos os setores populares defender o projeto nacional encabeçado por Néstor Kirchner, contra aqueles que pretendem fazer com que retrocedamos no tempo, até épocas nefastas. Como também o é travar o debate público e interno sobre as questões que não deveriam fazer parte da estratégia para reformular em profundidade o mopdelo do país em que queremos viver.

 

Fraco favor faríamos ao presidente se silenciássemos sobre o que julgamos errado, sempre dentro de nossa verdade relativa. Como não assinalar e criticar que alguns dirigentes e facções da velha política, inclusive hostis ao presidente ainda há pouco, hoje aparecem, ou tentam aparecer, como como protagonistas destacados do arco político kirchnerista?

 

Do que não gostamos

 

Não cremos que Barrionuevoi e Saadi devam estar deste lado. Não gostamos que Díaz Bancalari aparece como vocero del gobierno. Menos que Scioli seja promovido por alguns a possível candidato da Frente pela Vitória na cidade de Buenos Aires. Nem que um ato tão importante como a recente homenagem a Evo Morales em Hurlingham tenha tido como principais protagonistas e intendentes a ex-duhaldistas [do ex-presidente Duhalde], que representam o oposto do presidente boliviano, e não as organizações populares que enfrentaram o neoliberalismo. Não gostamos tampouco da política de habitação popular do Ministério do Planejamento, que prioriza quase totalmente as empresas do ramo e secundariza fortemente e na prática não apóia as cooperativas de desempregados. Nem concordamos que, em algum lugar do governo, se estranhasse o radicalismo de Nosiglia quando este ia para a reitoria da UBA [Universidade de Buenos Aires]. Menos ainda o de Borocotó.

 

Não nos parece que, com o argumento de não debilitar o governo Kirchner, seja preciso varrer o lixo para debaixo do tapete. Certamente nada está mais distante do pensamento e da ação do próprio presidente. Com certesa, se a sua administração se tornou forte, depois de ter nascido fraca, foi porque ele não deixou seus princípios na porta da sede do governo, porque chamou as coisas pelos seus nomes e enfrentou a quem devia enfrentar, por mais poder que tivesse.

 

Fonte www.barriosdepie.org.ar;
intertítulos do Vermelho