Zapatero não foi à missa: muito bem!

Por Lidia Menapace, do diário comunista italiano Liberazione*

 

Na hora de recebê-lo como chefe de Estado, [o primeiro ministro espanhol, José Luis Rodrígues] Zapatero foi. Falo do papa. Mas disse que n&atil

Na Europa, o papa em geral viaja pelos países católicos e é recebido com a usual confusão entre o civil e o religioso. Podia-se até pensar que isso fosse aceitável enquanto o cristianismo na sua forma católica era uma religião muito difundida e muito praticada. Então, em tais países, criou-se o costume, que envoloveu até personagens notoriamente não-crentes.

 

“Paris vale uma missa”?

 

Zapatero inicia uma prática nova, mais rigorosa. O papa é um chefe de Estado e como tal é recebido inclusive por autoridades civis. Porém como chefe da Igreja Católica não pode envolver a autoridade civil, mais ainda quando se trata de pessoa que não crê, ou que de toda forma deve representar também os não-crentes, ou os que crêem em outras religiões presentes no país. Em casos assim é certamente melhor expressar uma firme e precisa imagem laica.

 

Diz Navarro Valls que ninguém faz assim. Quer dizer que outros não têm o rigor laico de Zapatero e até seguem adiante pensando que lucrarão com a vizinhança do papa. Quer dizer: “Paris vale uma missa” [frase famosa de Enrique IV para justificar sua conversão ao catolicismo].

 

De resto, nos países não-católicos, inclusive os EUA, o papa, quando vai, celebra missas em algum grande estádio, alugado para a ocasião e apetrechado com as imagens do produto promovido com o aluguel. O que parece mais respeitoso, a comercialização da imagem do papa ou sua pura e simples distinção enquanto poder político e religioso? Para mim é a segunda alternativa.

 

Uma grande confusão e uma certa hipocrisia

 

Pode-se indagar como se deve fazer nos casos de funerais de Estado. Parece-me justo que os familiares sejam indagados se desejam ou não um funeral religioso; nãi que seja obrigatória a presença de sacerdotes.

 

Quanto à Itália: aqui, as exéquias católicas de Estado, outras cerimônias religiosas e até solenidades de natureza civil têm a participação de autoridades estatais, inclusive aquelas das quais não se conhece filiação religiosa, e mesmo que se supõe que não sejam religiosas. A mim isto sempre pareceu uma grande confusão e uma certa hipocrisia.

 

Um simples cidadão sempre pode participar de funberais, casamentos e outras cerimônias religiosas, em respeito a seus amigos, e podem igualmente comparecer a casamentos ou funerais civis. Mas seria bom que as autoridades públicas mantivessem uma distinção mais rigorosa entre as duas esferas. Especialmente quando se trata de uma missa, isto é, um evento soleníssimo e intrinsecamente religioso, não, certamente, para os crentes, um simples espetáculo ou rito tradicional.

 

* Fonte: www.liberazione.it ;
intertítulos do Vermelho