Diferença oficial se reduz no México; votos achados no lixo

Com a contagem de votos “perdidos” pelo Prep (Programa de Resultados Eleitorais Preliminares), reduziu-se ainda mais a diferença entre o direitista Felipe Calderón, do PAN, e o centro-esquerdista Andrés Manuel López Obrador

O diário La Jornada de hoje mostra em sua capa a foto ao lado, e informa: “O cidadão Cuauhtémoc Negrete Barrera, fotógrafo, reportou que no lixão Neza III, em Ciudad Nezahualcóyotl, havia cédulas eleitorais das quais foram arrancados os boletos de votação para presidente, senador e deputado”. Eram oito atas. A polícia, as autoridads eleitorais e o Ministério Público investigam o caso.


As cédulas “com inconsistências”


La Jornada
menciona também que o PEP não contabilizou 3.300 votos para Obrador em Los Altos de Chiapas, e 4 mil em Madrazas, entre numerosos casos semelhantes. As pequenas omissões fazem diferença, para uma eleição que teve 42 milhões de votantes mas onde a vantagem de Calderón sobre Obrador, segundo o Prep “retificado”, é de apenas 257 mil votos.
A diferença, que antes era de 400 mil votos, reduziu-se depois que as autoridades eleitorais incluiram na contagem 2,5 milhões de cédulas “com inconsistências”. Nelas, Obrador vencia de Calderón por 145 mil votos.

Em uma disputa tão acirrada, pode influir também a interpretação dos votos nulos. Segundo o Prep, eles seriam 2,2%; a apuração definitiva, com a fiscalização das candidaturas, pode redefini-los.


O fantasma de 1988


Conforme passam os dias, a coligação de três partidos que apóia Obrador (PRD, PT e Convergência) acumula evidências de que os dados do Prep foram “manipulados”. Diante do achado em Nezahualcóyotl, Laura Itzel Castillo, coordenadora da campanha da coligação em Vera Cruz, comentou que a tentativa de despojar López Obrador de sua vitória é semelhante à de 1988.

Nas eleições presidenciais daquele ano, Carlos Salinas (PRI) perdia para Cuauhtémoc Cárdenas, do mesmo PRD de Obrador; a contagem rápida foi interrompida e a seguir, num episódio pouco transparente, deu-se uma inversão de tendência. Laura ressaltou que, distintamente de 1988, “agora temos dados científicos, documentos, provas e capacidade suficiente para defender a vitória, e apelamos para que as instituições e a legalidade funcionem no México”.


Para o PRD, “nenhuma legitimidade”


Diante das irregularidades constatadas, os representantes da coligação de López Obrador exigiram do Instituto Federal Eleitoral (IFE, órgão mexicano que corresponde ao TSE brasileiro) que a contagem seja feita voto por voto e urna por urna. Leonel Cota, presidente do PRD, e Jesús Ortega, coordenador da campanha do candidato, disseram que não reconhecem nenhuma legitimidade aos resultados do Prep.

A apuração oficial começou às 8 horas desta quarta-feira (horário mexicano, 11 horas em Brasília). O IFE não acatou o pedido de contagem voto por voto.

Felipe Calderón, ex-ministro do atual governo Vicente Fox, procurava ontem mostrar tranquilidade diante dos questionamentos que se avolumam sobre o resultado da eleição de domingo (2): “Para mim, a prioridade é consolidar o triunfo urna por urna, e que fique à luz do dia para todos os mexicanos um triunfo vlaro e contundente, numa eleição clara, competida e disputada”, afirmou o “panista” (como são chamados no México os membros do direitista Partido da Ação Nacional).

Com agências
e La jornada