Granma: “Morreram 12 mil… e não é notícia!”

O diário cubano Granma, do partido comunista de Cuba, comenta o recente relatório da Unicef, divulgado em junho, que revela que a cada sete segundos, uma criança morre de fome no planeta. "Por volta de 12 mil em cada dia", destaca o

"Se quatro prédios desabassem, quatro World Trade Center, por exemplo, repletos de crianças, com o saldo trágico de 12 mil mortos, imagino que ninguém duvidaria que essa notícia terrível apareceria nas manchetes da mídia toda.

Ninguém, em redação ou estação de rádio ou televisão, objetaria que a notícia dessas 12 mil crianças mortas seja mostrada em manchetes e colunas, opiniões e reportagens, fotografias e testemunhos.

Ninguém, com voz pública, deixaria passar a oportunidade de referir-se a acontecimento tão dramático, destacando que nunca mais ocorreria tamanha tragédia.

Se um terremoto sacudisse um país ou uma tsunami surgisse de improviso numa praia e morressem 12 mil crianças, ninguém pretenderia dar prioridade de espaço num meio de comunicação a uma partida de futebol ou à doença de uma cantora popular de toadas. Não haveria líder político ou religioso no mundo que não se mostrasse consternado, nem governo ou organização de ajuda humanitária que não mobilizasse seus recursos.

Se um bando terrorista seqüestrasse 12 mil miúdos e concedesse um prazo de 24 horas, ameaçando de executá-los se não fossem cumpridas suas exigências, não haveria largo no mundo que não se lotasse de mãos brancas exigindo a libertação dos condenados, não haveria um só cidadão indiferente da sorte dessas 12 mil crianças.

Ora bem, todos os dias, sempre que acordamos, já morreram 12 mil garotos no mundo. Não por causa da tsunami que não ocorreu ontem, nem da torre que também não desabou ou do bando terrorista, essas 12 mil crianças morreram de fome, de simples e maldita fome. E A fome e suas conseqüências miseráveis não é notícia.

"Seria cansativo para a audiência uma manchete de oito colunas, todos os dias, em que a única variável fosse o número, cada dia mais crescente", disse o diretor do meio de comunição.

Por isso, de jeito nenhum, vai dedicar uma manchete breve, uma crônica triste, ou uma resenha na seção de "Mundo insólito".

Também não há oportunidade de comemorar aniversários, pois, todos os dias, se repete o número de mortos e suas causas, e não havería um só dia em que coincidissem tragédia e aniversário.

Do café da manhã ao jantar, da edição do jornal matutino ao informativo da noite, morrem 12 mil crianças.

E apenas estamos falando da fome. Muitos prédios caem todos os dias por causas semelhantes.

Tsunamis de doenças para aqueles que não podem adquirir as vacinas adequadas, terremotos que desabam escolas e parques infantis, organizações terroristas que lucram com a exploração do trabalho infantil, com a prostituição de meninas e meninos.

E apenas falamos da infância.

Porém, não há um só largo repleto de mãos brancas para condenar um crime que não por acontecer todos os dias, deixa de ser um crime, nem um só meio de comunicação que dê cobertura a tamanhos atentados, que interrompa seus programas para divulgar "ao vivo e em direto" uma notícia de última hora, "no mesmo lugar da notícia", um correspondente que emende o número de mortos e desaparecidos, que entreviste os moradores, antes de devolver a imagem aos estúdios e passar a outros comerciais.

O relatório é das Nações Unidas. "Em cada sete segundos, uma criança morre de fome". Por volta de 12 mil em cada dia.

A imprensa precisaria de várias edições especiais ou acrescentar mais 60 páginas a cada número, para informar de seus nomes, seus rostos, das famílias magoadas pela dor e pela raiva dessas 12 mil crianças que não têm quem sofra por elas nem aparecem em manchetes, que carecem de história, para as quais ninguém organiza missas de aniversário e homenagens. Esses 12 mil garotos que morrem dia a dia, vítimas da criminosa ordem econômica que nos é vendida como progresso, que tem nas leis que a amparam a fortaleza de seu prédio impune e que apavora, por meio de seus bandos monetários, o deposto governo da vida".