Bolívia: MAS festeja sobretudo o empate em Santa Cruz

No plano nacional, Podemos terá 25,1% da Constituinte, 64 constituintes. Outras 12 formações eleitorais dividirão as 57 cadeiras restantes.

O resultado confirma o terremoto político operado no país com a virada à esquerda dos últimos cinco anos. O MNR, principal partido da Bolívia no último meio século, ficou reduzido a 7 constituintes (2,7%).

A geopolítica do referendo

O referendo sobre a autonomia dos departamentos, que ocorreu também neste domingo, mostra igualmente um êxito do governo Evo Morales. Com 56,2% dos votos, venceu o “Não” à proposta autonomista, que tem como principal defensor a elite do departamento de Santa Cruz.

O mapa acima, porém, mostra que a vitória do “Não” também encerra perigos. A geografia da votação seguiu uma lógica nítida: o “Não” venceu nos populosos e empobrecidos departamentos do Altiplano, com o melhor resultado (73,9%) em Oruro, terra de Evo. Mas o “Sim” foi mais votado nos departamentos do Oriente, pouco povoados e ricos, em especial Santa Cruz, terra do gás, do petróleo e do latifúndio sojicultor.

A ala extremada da elite “cruzeña” já defendeu abertamente o separatismo. Mas é difícil para ela erguer esta bandeira agora, quando o prestígio de Evo está no auge – calcula-se que os votos no MAS chegaram nacionalmente a 60% do total, 6 pontos acima do já inédito desempenho de Evo nas eleições presidenciais de dezembro. E o empate em casa na eleição dos constituintes deixa-a especialmente pouco à vontade.

Podemos só elegeu a maioria dos constituintes em Beni e Pando. Na estratégica Santa Cruz, o diário La Razón projetava um empate, com 19 deputados para o MAS e 19 para Podemos (mais seis de outras siglas). Nos demais departamentos, a vitória foido MAS.
 
A maior vitória do MAS foi em La Paz, onde ele teve 32 deputados e o Podemos sete (mais 11 de outras siglas). Porém os partidários de Evo festejaram em especial o empate em Santa Cruz e o apertado triunfo em Tarija (nove deputados do MAS, oito do CC e três de outras legendas, sendo apenas um do Podemos). Na geopolítica boliviana, são duas cunhas na oposição conservadora oriental.