Bush quer censurar imprensa e legalizar espionagem telefônica

O governo dos Estados Unidos e o Congresso americano analisam a possibilidade de converter em lei o programa de espionagem telefônica e eletrônica de cidadãos suspeitos de terrorismo.

O anúncio foi feito neste domingo (25/06) pelo o senador republicano Arlen Specter. "Estamos perto de conseguir nas discussões com a Casa Branca que o assunto das escutas telefônicas seja submetido ao Tribunal de Vigilância de Dados da Inteligência no exterior", comentou Specter à rede Fox.

Desde que o programa de espionagem foi divulgado em dezembro passado pelo “New York Times”, a Casa Branca trava um duro confronto com a oposição democrata e um grupo de senadores de seu partido sobre a legalidade da medida.

Censura à imprensa
A escalada de restrições deve atingir também a impresa. O presidente George W. Bush se irritou ao saber do vazamento de informações sobre mais um programa secreto iniciado por seu governo depois do 11 de setembro.

Na quinta-feira, o “New York Times” tornou pública o programa de rastreamento de milhões de contas bancárias por meio do sistema internacional de transações financeiras Swift (Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication — baseada na Bélgica). Agora, o vice-presidente, Dick Cheney, partiu para o contra-ataque.

Depois de afirmar que o programa de espionagem é "absolutamente essencial" — embora sua eficácia não seja conhecida —, Cheney disse que "o mais perturbador nessas matérias é o fato de alguns na imprensa tomarem a si (a decisão de) revelar programas vitais à segurança nacional, tornando mais difícil para nós, assim, a prevenção de futuros ataques contra o povo americano".

Em outras palavras, o governo quer uma imprensa chapa-branca, que não revele as falcatruas da era Bush. A alucinante acusação de Cheney provavelmente foi estimulada pela falta de reação maior da opinião pública à exposição do maciço programa de escuta telefônica sem ordem judicial em dezembro. Sondagens realizadas na época mostraram que os americanos estavam divididos.

Imprensa reage
O “Times” respondeu a Cheney em seu editorial principal no último sábado. No texto, o jornal esclareceu que as consultas sobre o programa de espionagem financeira com membros das comissões de inteligência do Congresso — que a administração alegou ter feito, na semana passada, para dar-lhe cobertura legal — só começaram, de fato, depois que o “Times” buscou confirmação sobre a existência do programa junto à Casa Branca, dois meses antes de transformar o assunto em notícia.

O periódico informou ainda que as precauções que o departamento do Tesouro disse terem sido tomadas para evitar o uso alheio das informações foram adotadas apenas depois que os executivos da Swift passaram a manifestar preocupação a Washington diante da manutenção de um programa que eles julgavam, no início, ser de curto prazo e escopo limitado.