Com EUA à frente e sem foco, ações matam 65 no Afeganistão

As forças de coalizão lideradas pelos Estados Unidos no Afeganistão informaram, neste sábado (24/06), que operações contra a milícia Talebã no sul do país mataram, pelo menos, 65 integrantes do grupo em um dia de

Na quinta-feira, o presidente afegão, Hamid Karzai, condenou a estratégia de combate ao Talebã adotada pela comunidade internacional. A divulgação do número de mortos aparenta ser uma resposta pontual, ainda que os conflitos estejam longe de se encerrar. O anúncio sequer detalhou o impacto dessas perdas para a milícia — o que pode causar desconfiança no povo local.

As duas operações cujos resultados foram divulgados neste sábado ocorreram na sexta-feira. Em uma delas, forças da coalizão, operando com o exército afegão, travaram uma batalha de três horas contra um grupo de rebeldes no distrito de Zharie, localizado na província de Kandahar. Na segunda operação, que durou cinco horas, rebeldes do Talebã foram atacados na província de Uruzgan, vizinha à província de Kandahar.

"Filhos da terra"
Desde meados de maio, centenas de pessoas foram mortas em ofensivas contra focos rebeldes ligados ao antigo regime. A tática fratricida causou revolta entre autoridades do Afeganistão, especialmente o presidente. "Não podemos aceitar que tantos afegãos estejam morrendo em meio a combates. Nas últimas três ou quatro semanas, de 500 a 600 pessoas foram assassinadas”, disse Karzai, em entrevista coletiva na quinta-feira. “Mesmo sendo talebãs, são filhos desta terra".

Sob o comando dos Estados Unidos, as forças de coalizão têm optado por demonstrações de força, sem obter resultados promissores. A eficácia das operações está em xeque, a exemplo da invasão e da ocupação americana no Iraque. Segundo o presidente afegão, a estratégia de "caçar" militantes não atinge as raízes do terrorismo. "Devemos nos engajar estrategicamente para desarmar o terrorismo, cortando suas fontes de financiamento, treinamento, equipamento e motivação", declarou.

Na quinta-feira, no mesmo dia em que Karzai expressou seu descontentamento com a estratégia anti-Talebã, foi divulgado na Internet um vídeo em que o segundo homem na hierarquia da Al-Qaeda, Ayman al-Zawahiri, conclamava os afegãos a engrossar as fileiras da resistência e a desafiar os "invasores" do Afeganistão. Trata-se de uma referência às tropas ocidentais presentes no país desde 2001.

Hamid Karzai responsabilizou Al-Zawahiri pelo recrudescimento da violência. "Ele é, antes de tudo, inimigo do povo afegão, e, então, inimigo do resto do mundo. Nós no Afeganistão o queremos preso e levado à Justiça."

No início de junho, a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) anunciou que vai levar adiante um plano de quase dobrar o número de soldados no Afeganistão. Os novos planos prevêem que a força militar passe de 9,7 mil para 17 mil soldados nas próximas semanas.