9º Concut: Artur Henrique defende mais autonomia à central

O eletricitário Artur Henrique dos Santos, atual secretário-geral da CUT, é o favorito para assumir a presidência da central na gestão 2006-2009. Em entrevista ao Vermelho, o sindicalista afirmou que, se for efetivamen

De acordo com Artur — que é de Campinas —, a CUT necessita de mais articulação entre as várias secretarias, com foco nos objetivos estratégicos do movimento sindical. “É preciso ter uma gestão mais compartilhada”, afirma.

Membro da Articulação Sindical, corrente majoritária da CUT e vinculada ao PT, o secretário-geral enfrenta a concorrência interna do presidente da central, João Felício, que busca a reeleição. O eletricitário, no entanto, diz que a Articulação o apóia — e que a candidatura de Felício é uma “dissidência”.

Confira os principais momentos da entrevista.

A oitava diretoria da CUT encerra seu mandato na próxima sexta-feira. Como o senhor avalia o desempenho dessa gestão?

Faço um balanço muito positivo das ações da CUT nesse período, um momento extremamente delicado da central. Apoiamos o governo Lula — um governo democrático-popular —, mas tivemos uma experiência muito nova. O debate sobre a autonomia da CUT perpassou ao longo desse mandato, numa ação cotidiana. Mesmo apoiando Lula, ficamos sempre do lado dos trabalhadores.

Quais foram os problemas enfrentados nestes três últimos anos?

Existe a necessidade de uma articulação maior entre as várias secretarias. Faltou, talvez, uma integração interna maior. Cada secretaria acabava tendo posicionamento quase que individualista, e nós precisamos mudar isso. É preciso ter uma gestão mais compartilhada. Uma outra questão importante é que, em alguns temas centrais — por exemplo, na luta pelo aumento do salário mínimo —, houve grande mobilização, uma marcha, pressionando pelo atendimento de nossa reivindicação. Mas em alguns outros pontos, como as Parcerias Público-Privadas e a reforma da previdência, a gente não conseguiu ter uma mobilização de todas as categorias e dos ramos da CUT. O que precisa melhorar é ter uma unidade, com vários ramos, em torno do que queremos ver de mudança na política nacional.

Por que esse “racha” na Articulação?

O que há é uma candidatura definida pela coordenação nacional da Articulação — a minha —, desde a saída do companheiro Marinho da direção da CUT (em julho de 2005, Luiz Marinho deixou a presidência da central para assumir o Ministério do Trabalho). E há uma dissidência, do companheiro João Felício, que permanece como candidato. Sabemos que, para pensar no futuro da CUT, é importante que a corrente majoritária tenha unidade de ação e de política — mas nunca transformando isso numa hegemonia de um pensamento único. É preciso garantir uma política de alianças amplas com outros setores da CUT Nacional, que possam construir o processo de fortalecimento da estrutura sindical da CUT no próximo período. Dizer que tem um racha? Eu diria que tem um disputa como teria em qualquer outro momento político da CUT. E que precisamos construir a proposta de unidade da central sindical, inclusive diante dos ataques que temos sofrido tanto da esquerda infantil como da nova central sindical (Conlutas).

Sua candidatura é irrevogável?

Sim, como uma candidatura da Articulação Sindical, com o apoio de amplos setores e ramos da central sindical, tanto do campo como da cidade, do setor público e privado. E nós pretendemos debater com os companheiros da Articulação Sindical a nossa política de alianças para uma gestão da CUT. Algo que aponte efetivamente para fortalecer e consolidar a CUT como o principal instrumento de organização dos trabalhadores.

A CUT que sairá do 9º Congresso é melhor do que aquela que encerrou o 8º Concut?
Agora sairemos com mais experiência em relação ao 8º Congresso, por conta dessa situação de ser uma central sindical num governo democrático-popular, com uma clareza maior da nossa necessidade, da nossa prioridade estratégica. Precisamos ter uma pauta de reivindicações, uma plataforma aprovada por delegados e delegadas. Essa pauta tem de ser apresentada a toda a sociedade brasileira como a plataforma dos trabalhadores. Temos a clareza de que estamos, na sociedade brasileira, diante de uma disputa de projeto. São dois projetos claramente antagônicos. Nesse momento, temos de resgatar a autonomia da central, mas garantir a autonomia de classes. A independência não nos impede de ter posição política na disputa eleitoral. A CUT é autônoma e independente, mas tem lado — que é o lado dos trabalhadores. Temos clareza dos objetivos imediatos e históricos da classe trabalhadora.

De São Paulo,
André Cintra