Peru: García vence por pequena diferença

Segundo o primeiro boletim da ONPE, com 77,3% dos votos apurados, Alan García contabiliza 5.750.148 votos (55,4%), contra 4.618.301 votos (44,5%) de Ollanta Humala. A diferença é baixa e pode diminuir. Mas Humala já reconheceu a derrota. Par

O anúncio da presidente da Oficina Nacional de Processos Eleitorais (ONPE), Magdalena Chu, foi dado às 21h15 (23h15 horário de Brasília). Mas antes mesmo do informe oficial, Alan García já comemorava sua vitória.

 

A contagem ainda não terminou e durante a madrugada deve ser apresentado o segundo informe. Dos 26 departamentos do país, em 14 Humala vence sendo que em oito tem mais de 60% do total. Mas em Lima, que teve contabilizados 26.945 dos 30.769 mil colégios eleitorais, García obteve 2.546.712 votos, o que corresponde a 62,8%. A melhor votação de Humala, até o momento, ocorreu em Ayacucho, onde obteve 93.297 votos (79,5%).

 

Para Alberto Moreno, secretário geral do Partido Comunista do Peru – Pátria Roja e presidente do Movimento Nova Esquerda (MNI na sigla em espanhol), apesar de a esquerda ter apoiado Humala, a vitória do aprista representa um avanço. O dirigente considera que o partido aprista contribui para um projeto democrático de país. “Vamos ter uma reunião com ele e vamos reafirmar nossa convicção de que nos incorporamos ao projeto de mudança do país”.

 

No começo da noite, depois de ter os primeiros resultados de boca de urna, Humala fez um chamamento à unidade do povo peruano para continuar a luta pela construção de um Peru “democrático, mais solidário, igualitário, com justiça social. Ou seja, uma sociedade nacionalista”. “Hoje se inicia uma grande transformação no país”, que envolve a dignidade do povo, disse.

 

Entretanto, o social-democrata Alan García não demonstrou tanta predisposição para esta unidade. E fez um discurso em que interpretou sua vitória como a independência do Peru diante da ameaça que representa o que ele chama de “imperialismo venezuelano”. E associa a isso o movimento de integração latino-americano. Para ele, o que importa ao país é ser o líder continental, se colocar acima dos seus vizinhos, e não se integrar às parcerias e aos investimentos comuns que têm sido realizados pelos organismos de cooperação regional, como Mercosul, a Comunidade Andina de Nações (CAN), nem muito menos a Alternativa Bolivariana das Américas (Alba) ou o Tratado de Comércio dos Povos (TCP) de Evo Morales.

 

Para milhares de apristas que o aguardavam no seu comitê no centro de Lima, García falou de crescimento econômico vinculado com o mercado internacional. E talvez aí esteja o sinal do que pode representar o seu governo no cenário político mundial. Capitanear uma disputa com Hugo Chávez agrada bastante aos Estados Unidos, que estão isolados e com popularidade mais baixa que nunca. O Peru pode se tornar um bom aliado, assim como o recém reeleito presidente colombiano Álvaro Uribe.  

 

Ademais, García afirmou que “o governo é de construção, de diálogo, abertura. Estou convencido que nenhuma pessoa, nenhum partido pode por si só fazer o que necessitam todos os peruanos”. Um governo aberto e amplo será de fato necessário ao presidente, principalmente se a diferença entre os votos resultar pequena.

 

García convocou “técnicos”, “instituições” e “personalidades” – dentro do que chama de “ordem democrática” em contraposição à ameaça autoritária da aliança inexistente entre Humala e Chávez – para trabalhar com o aprismo, com “a honestidade suficiente para organizar nossa pátria, de forma que se acelere sua velocidade de crescimento, emprego e distribuição regional”.

 

Diferentemente do Brasil, no Peru venceu o medo. Alan García pode não ser da ultradireita, mas foi apoiado por ela contra um candidato cujo programa defendia mudanças profundas e que abriam novas perspectivas sociais, políticas e econômicas para o povo peruano. O aprismo, desde sua reforma em meados de 2000, teve sua essência significativamente alterada.

 

É verdade que em seu primeiro governo (1985-1990), García iniciou com algumas nacionalizações. Mas no final foi sem dúvida uma gestão desastrosa.

 

Venceu a mídia e o pensamento único, defensores dos interesses das grandes corporações, poderosa articuladora da verdade ditada pelo capital. Mas venceu também outro pensamento: o progressista. Em sua última coletiva, Humala comemorou que em tão curto espaço de tempo tenha conseguido “despertar consciências”. Graças a isso, a direita conservadora, que estava representada por Lourdes Flores, foi descartada do segundo turno.