Bolívia começa em Santa Cruz a sua “revolução agrária”

Diante de uma multidão de camponeses e indígenas, o presidente da Bolívia, Evo Morales,  entregou neste sábado (4) os primeiros títulos de propriedade do seu programa de "revolução agrária". O ato simbólico foi em Santa

Evo fez a entrega dos 60 primeiros títulos, um dia depois de uma frustrada tentativa de acordo com represwentantes dos latifundiários. “Os inimigos históricos dos pobres devem aceitar esta revolução agrária. A igualdade e a justiça têm que chegar aos nossos povoados, com a distribuição das terras devolutas e a reversão dos latifúndios improdutivos”, disse o presidente.

34 mil famílias beneficiadas

“A reforma agrária não será uma simples distribuição de terras”, afirmoiu Morales, ele próprio originário de uma família de camponeses pobres do Altiplano. A reforma, que teve início com terras devolutas, prosseguirá com “a reversão das terras ociosas que estão em poder dos grandes empresários”, disse o presidente.

Conforme o jornal boliviano La Prensa, os 60 títulos beneficiarão mais de 34 mil famílias, de sete departamentos: Santa Cruz, Beni, Pando, Tarija, Chuquisaca, Oruro e Potosi. As maiores glebas, porém, estão  nos três primeiros departamentos, na fronteira com o Brasil.

“Nacionalização da terra”

O plano prevê de imediato a distribuição de 2,5 milhões de hectares na região que concentra a produção agropecuária boliviana. As forças de esquerda no governo garantem que será uma reforma agrária diferente da do governo de Paz Estensoro, que se seguiu à Revolução de 1952, mas quase não tocou nas imensas fazendas da parte leste do país.

O programa também é chamado “nacionalização da terra”, em um paralelo com a nacionalização do petróleo e gás, decretada em 1º de maio. Ao fim de cinco anos ele pretende distribuir um total de 20 milhões de hectares – quase um quinto do território do país – entre indígenas e camponeses pobres. Pelos cálculos do governo, 75% dessa extensão está com grileiros e latifundiários.

Latifúndio promete reação

Durante o ato em Santa Cruz, Evo revogou as concessões de extração maderireira feitas pelo ex-presidente Carlos Mesa (2003-2005), beneficiando grupos empresariais. “Vou deixar que as concessões florestais sejam decididos na Assembléia Constituinte, pois não se pode entregar os recursos nacionais em concessão”, afirmou ele. A Constituinte deve ser eleita dentro de um mês, e tende a ter uma maioria de esquerda, dada a popularidade do presidente eleito pelo MASD (Movimento Ao Socialismo).

Os senhores de terras do país prometem resistir ao programa, inclusive pela violência. “Se o Estado de direito não nos defende, temos o direito de buscar mecanismos de defesa”, pregou, na rede UNO de TV, José Cpespedes, presidente da Confeagro (Confederação de Produtores Agropecuários), que tenta organizar a reação latifundiária.

Com agências