Relatório da ONU confirma que Milosevic tomou remédio errado

Apesar de repudiar que a causa da morte do ex-presidente da Iugoslávia, Slobodan Milosevic, em sua cela em 11 de março, fosse por envenenamento, um relatório divulgado hoje pela ONU confirma que o ex-presidente tinha no sangue traços de medi

O documento foi baseado nos laudos da polícia, do instituto médico legal e da promotoria holandeses.O relatório afirma que o ex-presidente da Iugoslávia morreu de ataque cardíaco. Elaborado pelo tribunal instalado pelo Pacto Militar do Atlântico Norte (Otan), o documento afirma que o tratamento "não tinha efeito". O documento não revela como e por que Milosevic tinha em seu sangue traços de medicamento que anulava os efeitos do tratamento a que vinha sendo submetido.

"Nada foi encontrado para sustentar as alegações divulgadas por alguns setores da mídia de que Milosevic foi assassinado, particularmente por envenenamento", diz o inquérito. "Os resultados das investigações independentes das autoridades holandesas demonstram que essas acusações são completamente falsas."

O relatório descartou suicídio e acrescentou que Milosevic já sofria graves problemas de saúde antes de ser preso em 2003. O documento diz ainda que as opiniões dos médicos sobre se uma cirurgia poderia ou não ter evitado a morte de Milosevic ficaram divididas.

Milosevic havia solicitado ao tribunal que fosse tratado em Moscou, pois não confiava nos médicos dos países da Otan. A primeira solicitação, feita em dezembro de 2005, foi negada repetidas vezes, mesmo com a garantia das autoridades russas de que Milosevic retornaria ao tribunal após o tratamento. Após sua morte, a autópsia revelou traços do medicamento que continha rifampicina, um elemento que anularia o tratamento contra a hipertensão arterial.

Ronald Uges, um dos médicos do tribunal militar, acusou Milosevic de ter tomado de maneira deliberada o tal medicamento. Segundo Uges "ele tomou rifampicina para ser levado a Moscou". Apesar da forte vigilância exercida pelos holandeses sobre Milosevic, nem o tribunal, nem a Otan, conseguiram esclarecer como Milosevic teria obtido acesso ao medicamento.

Na véspera de sua morte, em 10 de março, o conselheiro jurídico de Milosevic, Zdenko Tomanovic recebeu uma carta de Milosevic, na qual o ex-líder sérvio dizia estar seriamente preocupadocom a possibilidade de que estivesse sendo envenenado com um medicamento forte.

A carta era destinada à Embaixada da Rússia na Holanda — o advogado de Milosevic, Stephen Kay, vinha tentando obter permissão do tribunal para levar seu cliente para um tratamento de saúde em Moscou. Milosevic sofria de problemas cardíacos e de hipertensão arterial.

Na carta, Milosevic disse que foi encontrado em seu exame de sangue feito no dia 12 de janeiro traços de um medicamento que seria utilizado no tratamento de lepra, segundo Tomanovic. "Eles gostariam de me envenenar", diz a carta, segundo o conselheiro.

Tomanovic leu um trecho da carta, traduzido para o inglês, que dizia: "As pessoas que estão me dando o remédio para tratamento de lepra certamente não podem estar cuidando de mim, e especialmente aquelas pessoas de quem defendi meu país na guerra e que também têm interesse em me silenciar."

Com agências internacionais