Lembo compara ACM a “senhor de engenho” e alfineta Alckmin

Em sabatina promovida pelo Jornal Folha de S. Paulo, o governador paulista Cláudio Lembo (PFL) foi questionado sobre o motivo de ter começado as críticas aos tucanos apenas agora. Lembo respondeu que, quando era vice-governador na chapa de

Em sabatina com jornalistas da Folha de S.Paulo nesta terça-feira, o governador de São Paulo, Cláudio Lembo (PFL), alfinetou o PSDB, mas declarou voto em Geraldo Alckmin para presidente e José Serra para governador. "Eu diria que, como toda ave, às vezes tucano voa fora de hora", disse ele, citando o símbolo do PSDB.

A afirmação do governador foi uma referência à alegada falta de solidariedade do PSDB ao governo estadual durante a onda de violência em São Paulo, há cerca de duas semanas. Na época, Lembo afirmou que não recebeu telefonemas de apoio dos tucanos Serra e Alckmin, desencadeando uma crise entre os dois partidos, aliados nas eleições de 2006.

"Senhor de engenho"

As críticas sobraram até para seu próprio partido, o PFL. Lembo afirmou que o senador Antônio Carlos Magalhães (BA), que chamou Lembo de "debilóide" e afirmou que o governador tem "cara de burro", representa "a forma que a minoria branca, o senhor de engenho, trata as outras pessoas, trata os demais. Precisamos respeitar a dignidade do interlocutor", afirmou. "O nosso senador é um homem de agressividade contínua. Felizmente, não tenho nada com ele", acrescentou. O governador afirmou que o PFL não é "um partido homogêneo" e que, entre os quadros do partido, há pessoas com "qualidade moral".

Questionado sobre o motivo de ter começado as críticas aos tucanos apenas agora, Lembo respondeu que, quando era vice-governador na chapa de Alckmin, tinha que se comportar como "um homem cordato, tranqüilo e solidário".

As alfinetadas cederam espaço, minutos depois, a afagos aos aliados tucanos. Lembo afirmou que fez as pazes com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, uma pessoa "muito fina", segundo Lembo, e declarou voto nos tucanos. "Eu seria tolo se não soubesse [em quem vou votar]. Eu voto para presidente no Geraldo Alckmin, que é uma figura diferenciada, e voto no José Serra, que é muito competente", disse. Questionado se acha que Alckmin vencerá as eleições, respondeu: "eu vou votar nele, espero que sim".

PT

O governador também respondeu a uma pergunta sobre as prováveis diferenças entre o PT e o PFL afirmando que "no Brasil, nunca houve um partido de puritanos, ao contrário". Lembo elogiou o PT, afirmando que a legenda deve "entrar na visão histórica do Brasil com grande espaço", mas afirmou que o desempenho dos petistas nas eleições de outubro deve ser "negativo", devido ao escândalo do mensalão. Com a insistência dos jornalistas na comparação entre PT e PFL, o governador questionou: "O que vocês queriam da vida? Que todos fossem do PT e entrassem no mensalão?".

Questionado sobre a imagem de "esquerda" que ganhou após entrevista à colunista Mônica Bergamo, Lembo afirmou que tem admiração pela senadora Heloísa Helena (PSOL), mas não se filiaria ao partido da senadora, famosa por usar apenas jeans e camiseta. "Até por indumentária, seria injusto se eu fosse para o PSOL", ironizando o figurino os militantes do partido.

Questionado sobre sua recente verborragia, o governador se defendeu. "Os políticos costumam ser muito pouco claros no seu pensamento. Como eu estou velho, eu falo tudo que penso. Eu estou absolutamente lúcido e acho que a única coisa que posso fazer politicamente é ser lúcido e claro", afirmou.

O governador voltou a afirmar que "graças a Deus" falta pouco tempo para terminar o mandato de governador. Lembo disse que não tem planos políticos após 31 de dezembro, quando deixa o Palácio dos Bandeirantes. Ele afirmou que deve voltar a lecionar Direito na Universidade Mackenzie, em São Paulo.

Cláudio Lembo declarou-se defensor do sistema presidencialista e afirmou que "o impeachment pelo voto é a melhor forma" de regular o sistema democrático.

A sabatina durou cerca de duas horas. O governador foi inquirido pelos jornalistas Mônica Bergamo, Clóvis Rossi, Fernando Canzian e Rogério Gentile, todos da Folha.

Fonte: Folha Online