Brasil será “a maior potência energética da Terra”, diz Lula

"Dentro de 20 ou 30 anos' o Brasil se transformará na "maior potência energética do planeta Terra", graças à "revolução energética" das fontes alternativas. A previsão &eacute

Veja os principais trechos da entrevista, publicada por motivo da visita a Brasília do presidente francês, Jacques Chirac:

Como o senhor explica as tensões entre Brasil, Bolívia e Venezuela?

Eu não considero que tenha havido uma tensão maior no caso do gás da Bolívia. Recentemente, […] o presidente Carlos Mesa convocou um referendo, onde o povo boliviano se pronunciou pela nacionalização. O que Evo Morales fez foi aplicar esta decisão, o que não é grave. Existe espaço para negociação, se o bom-senso prevalece. Em Viena, eu chamei o presidente Evo Morales e disse a ele que o Brasil depende da Bolívia assim como a Bolívia depende das compras do Brasil, e que nós deveríamos portanto buscar um denominador comum favorável aos dois páises, em torno de uma mesa.

O emprego de recursos energéticos como instrumento de poder causa inquietação?

Não, porque dentro de 20 ou 30 anos o Brasil será a maior potência energética do planeta Terra. Nós alcançamos a auto-suficiência em petróleo. Dentro de dois ou três anos, estaremos produzindo a maior parte do gás que consumimos. Somos os mais competitivos em produção de etanol e biodiesel. Quinta-feira (18), a Comissão Nacional de Política Energética anunciou o refino do óleo vegetal que será misturado ao petróleo. Daí sairá mais gasolina, mais gás e um diesel de qualidade, com muito menos enxofre. O Brasil está vivendo uma revolução energética. Por isso eu não me preocupo se um país usa o petróleo como meio de pressão.

Existe viabilidade técnica e econômica para o grande gasoduto que deve atravessar uma região tão sensível como a Amazônia?

O Brasil será parte integrante da elaboração do projeto. Trata-se de um gasoduto intercontinental de mais de 8 mil quilômetros, que interligará vários países. Estamos estudando a viabilidade técnica, econômica e tudo que irá se desenvolver em torno dele. Por enquanto é uma idéia, que devemos colocar no papel. Se for economicamente viável, e um contrato garantir seu funcionamento, por que não fazer?

O senhor é otimista sobre a OMC?

Existem muitos pessimistas no mundo, mas há também os otimistas. Eu sou otimista. Depois da reunião da OMC em Cancún, muita gente disse que ela tinha fracassado. Mas em Cancún nasceu o G-20 [grupo dos países emergentes], que está mudando a geografia comercial do mundo. Queiram ou não queiram, meia-dúzia de países já não decidem, todos querem participar das decisões. Estamos mais próximos de um acordo do que se imagina. O momento dos técnicos tentarem um acordo acabou, agora chegou a hora de uma decisão política, […] segundo o seguinte princípio: todos devem fazer um sacrifício proporcional, quem deve ganhar são os mais pobres.

Conceitos da esquerda, como o antiimperialismo e a revolução, perderam seu sentido atualmente?

Para mim, sim. Mas como sou um defensor da liberdade de expressão, cada um usa as palavras que lhe convêm. Sobretudo porque as mesmas palavras têm sentidos diferentes em cada país. O PS francês não é parecido com o sueco, nem o SPD alemão com o PSOE espanhol. Cada esquerda reflete a realidade cultural e política do país. Na América Latina é a mesma coisa. Eu nunca me apeguei à etiqueta de esquerda. Sou torneiro-mecânico de profissão, militante político de um partido chamado PT, cujo compromisso fundamental é a construção de uma sociedade mais justa.

Existem pontos comuns entre  as suas reformas e o PSDB. Como explicar que o PT e o PSDB estejam em campos opostos?

Não existe proximidade entre o PT e o PSDB. No início, tentaram dizer “é o mesmo programa, existe uma continuidade”. Mas se existisse continuidade, a inflação teria chegado a 40%, o risco-país teria disparado. O que nós fizemos é uma pequena revolução, nós mudamos o quadro da economia brasileira. A verdade nua e crua é qie existe uma revolução silenciosa em curso: a melhoria da vida das pessoas deste país.

O PT desapontou ao chegar ao poder, esteve implicado em escândalos de corrupção. Que lições o senhor tira?

O PT vai pagar pelos seus erros, é inevitável. Mas será preciso distinguir os erros cometidos, dos quais a Justiça vai tratar, do crime que os adversários do PT lhe atribuem. De toda forma, o  PT tem uma tarefa imensa: recuperar sua razão de ser e continuar a ser um partido forte.

Fonte: Le Monde

A íntegra da entrevista, em francês, pode ser lida em http://www.lemonde.fr/web/article/0,1-0,36-775237,0.html.