Palestina vive ameaça de guerra civil Hamas-Fatá

Akel Taqz, da Comissão de Relações Internacionais do comunista PPP (Partido do Povo Palestino), qualifica de “muito difícil” a situação da Palestina. Para ele, “existe a ameaça de uma guerra civi

Os maiores perigos residem hoje nos problemas internos, no interior das forças palestinas. O grupo Al Fatá – que sempre foi majoritário e detinha todas as cadeiras no Parlamento anterior – “não esperava perder a eleição”, comenta Taqz. “Foi difícil para eles aceitar o resultado” (veja o gráfico), agrega o dirigente comunista.

Taqz veio ao Brasil participar de uma reunião da Executiva do Conselho Mundial da Paz (http://www.wpc-in.org/). Depois do encontro, viajou para visitar um velho tio, que migrou há 45 anos para Toledo, no Paraná.

Conclamação ao diálogo

“O problema mais sério e perigoso é o conflito Hamas-Fatá. As duas organizações estão armadas e existe a ameaça de uma guerra civil, embora a situação atá agora esteja sob controle, apenas com incidentes isolados”, enfatiza o dirigente comunista.
O PPP está conclamando a todos os palestinos para que iniciem um diálogo nacional. Porém Taqz mostra apreensão. “O diálogo não começa e o perigo é grande. Com a política de Israel, de criar sua própria ‘solução’, o conflito tende a continuar”, observa.
 
O Al Fatá fez o que pôde para não perder a maioria. Mas foi ruidosamente derrotado. Segundo Taqz, isto se deveu a dois fatores: primeiro, a corrupção no seio do Fatá; segundo, o insucesso das conversações com Israel, devido à intransigência americano-israelense.

As diferenças de fundo

O Hamas constituiu um governo puro-sangue, sem a presença de outras forças políticas. Porém, abaixo dos ministros, todos os funcionários permanecem os mesmos indicados pelo Fatá. Este fator, mais o não-pagamento dos salários dos servidores públicos, praticamente paralisou a máquina administrativa palestina, segundo Akel Taqz.

No fundo da crise encontram-se sistemas políticos arraigados. “Há diferenças entre nós e o Hamas, aliás, entre o Hamas e todas as outras forças”, diz Akel Taqz.

“Para superar as diferenças, o Hamas deve aceitar o programa de Argel aprovado em 1988 pela OLP [Organização de Libertação da Palestina], que prega a criação de um Estado palestino ao lado do Estado de Israel, dentro das fronteiras de 1967 e com capital em Jerusalém”, diz o dirigente do PPP. A chave, aqui, está na formulação “ao lado de Israel”, que implica num reconhecimento do Estado israelense. “Até agora o Hamas não aceita isto”, observa Taqz.

O comunista palestino aponta também o que chama um problema “de ideologia” no Hamas. “Existe o perigo de uma islamização da sociedade palestina, caso a predominância do Hamas se prolongue”, comenta. A sociedade palestina, tradicionalmente, é uma das mais laicas do Oriente Médio. A ascensão de uma força política que se apresenta sob o manto da religião choca as forças de tradição laica, como o PPP e o próprio Fatá.

O Hamas “de dentro” e o “de fora”

A situação econômica não é menos difícil. “Depois das eleições parlamentares de 25 de janeiro e da vitória do Hamas, os Estados Unidos e a União Européia suspenderam toda ajuda aos palestinos. Faz dois meses que os 160 mil funcionários públicos da ANP (Autoridade Nacional Palestina) não recebem seus salários, o que gera um problema para todo o país”, descreve Taqz.

Taqz afirma que “outros países, especialmente países grandes, como o Brasil, podem jogar um grande papel, ajudando a convocar uma conferência internacional sobre a Palestina”. Ele defende essa iniciativa porque, “após dez anos de controle quase absoluto dos EUA sobre a condução do problema palestino, nada avançou, porque os EUA não são uma parte neutra”.

Até agora, um mês depois da chegada do Hamas ao governo, não se manifesta uma luta interna na organização. Há porém diferenças entre o Hamas “de dentro” e o Hamas “de fora” da palestina. Os primeiros, em contato direto com o povo palestino, na Cisjordânia e faixa de Gasa, mostram-se mais perspicazes. Os últimos, exilados na Síria, Irã e Líbano (onde se aproximam do grupo Hezbolá), são mais dogmáticos.

De Brasília,
Bernardo Joffily