Montenegrinos aprovam independência da Sérvia, diz pesquisa

A população de Montenegro votou neste domingo a favor da independência e pelo fim da união do Estado com a Sérvia. A ONG Centro para Eleições Livres e a Democracia (Cesid) e o Centro de Monitoramento d

"É uma projeção estável, mas não descartamos algumas mudanças", informou Zlapko Vujovic, membro da ONG. Embora a projeção não seja oficial, tiros para o alto e fogos de artifício foram disparados na capital Podgorica, em comemoração pelo resultado.

Para que a independência seja considerada válida, a União Européia (UE) havia exigido maioria de 55% dos votos. Se isso ocorrer, acabará o que resta da antiga Iugoslávia, depois da separação das repúblicas da Eslovênia, Croácia, Bósnia e Macedônia durante as guerras da década de 90 nos Balcãs.

A autodeterminação também representará o auge da carreira do primeiro-ministro montenegrino, Milo Djukanovic, de 44 anos, o último líder balcânico no poder depois do desmembramento da Iugoslávia — e feroz separatista.

Montenegro, com 650 mil habitantes, e Sérvia, com uma população 15 vezes maior, fundaram em 2003, sobre os vestígios da antiga Iugoslávia, uma união sustentada com alfinetes, cujas instituições conjuntas se revelaram ineficazes.

Apesar dos vínculos históricos e culturais com a Sérvia, Montenegro goza atualmente de uma autonomia praticamente total, que permite ao Estado contar, por exemplo, com uma moeda (o euro) e um sistema alfandegário distintos.

Assim, a independência dos montenegrinos teria principalmente um valor simbólico: o reconhecimento de sua identidade sobre o vizinho sérvio, a quem atribui um papel de dominador.

As autoridades de Montenegro ressaltam que os problemas da Sérvia, como o novo status de Kosovo ou a cooperação com o Tribunal Penal Internacional para a antiga Iugoslávia (TPI), não apenas não lhes diz respeito, como também prejudica suas aspirações européias.

A recente decisão da UE de suspender as negociações de aproximação com Sérvia-Montenegro, como punição pela incapacidade de Belgrado de prender o general Ratko Mladic, acusado pelo TPI por crimes de guerra e genocídio, alimentou os argumentos dos separatistas montenegrinos.

A UE, que mantém uma postura bastante reticente a respeito da desarticulação total dos Balcãs, insiste em um resultado claro no referendo, que está sendo supervisionado por mil observadores estrangeiros e outros tantos locais.

As autoridades sérvias, apoiadas pela Igreja Ortodoxa do país, não aceitaram um diálogo com o movimento separatista e demonstram um apoio aberto aos partidários da união. "Juntos, somos mais fortes", declarou o premier sérvio, Vojislav Kostunica. O patriarca ortodoxo sérvio, monsenhor Pavle, classificou uma eventual independência de "destruição".

Independentemente do resultado, o referendo de hoje marcará o tom das futuras relações entre Belgrado e Podgorica. "Acredito que nada será como antes. Temo que acontecerá uma nova deterioração de nosso clima político", disse recentemente o ministro dos Direitos Humanos de Sérvia-Montenegro, Rasim Ljajic.